sexta-feira, 16 de abril de 2021

Maria da Liberdade

À aproximação das comemorações do 25 de abril, a editora "vanity"  a que eu não resisto, por fraqueza minha, a participar de vez em quando nas suas antologias temáticas, escolheu o tema da liberdade.

De modo que lhe enviei este texto, já publicado, curtinho como era exigido, que os participantes foram muitos:



                                             Maria da Liberdade


“Dêem-me as vossas multidões pobres … empurrem-nos para mim, eu erguerei a minha lanterna a indicar a porta dourada”

Ema Lazarus

A informação sobre a sessão na junta de freguesia chegou-me tarde e sem pormenores. Despachei o que estava a tratar, corri para o metropolitano e consegui chegar a tempo de ouvir a segunda oradora.

Não soube o nome, mas pelas suas palavras percebi que era funcionária na câmara que tencionava aprovar o projeto do condomínio privado, à beira do rio, que se discutia naquela sessão.

Que não era admissível, que todos devemos poder usufruir dos locais de lazer, que não devem ser reservados a alguns, que essa reivindicação poderia parecer egoísta, numa altura em que a repressão violenta se abatia sobre tantos povos ou se reprimia o seu bem-estar roubando-lhes as riquezas naturais, mas que neste caso era importante defender o interesse público, e que fora isso que, como técnica, tinha reportado à sua câmara.

Ao ouvi-la, imaginei a figura da oradora numa iconografia comemorativa da Revolução Francesa, ao lado da Igualdade e da Fraternidade.

Quando a sessão terminou, abordei-a felicitando-a pelas palavras desassombradas e perguntei-lhe se poderia enviar-lhe uns desenhos em que se via que o condomínio projetado, dada a sua altura, iria interferir com o alinhamento de apoio à navegação, o que era mais um argumento contra o aproveitamento abusivo do local.

Que sim, seria muito bom, e ditou-me o endereço do seu email:

       -   “mariadaliberdade” – tudo pegado – “arroba email ponto com”.

Sem comentários:

Enviar um comentário