segunda-feira, 20 de junho de 2022

O IRS noutro tempo que não este

 Confesso as minhas limitações em teoria económica e em fiscalidade, mas passo a contar o episódio do meu IRS deste ano (rendimentos de 2021).

Há uns anos, imaginei uma pequena discronia: que a economia evoluía de modo a que num futuro próximo a pessoa ia ao supermercado e na caixa não pagava, a menina registava os produtos e pagava ao cliente. Este depois no emprego pagava ao seu empregador ao fim do mês em lugar de receber, também para isso tinha sido financiado pelo supermercado. O empregador pegava no dinheiro recebido dos seus empregados e entregava-o aos seus clientes, por exemplo, o metro pagava aos seus passageiros, também para isso tinha sido financiado pelos fornecedores de equipamentos e de energia. E assim se vivia na paz dos Santos.
Lembrei-me disto porque recebi hoje o aviso do IRS. Lá vinha o resultado das contas: 325 euros. Rezava assim a notificação assinada pela senhora diretora geral: "Fica notificado da liquidação de IRS relativa ao ano a que respeitam os rendimentos, em resultado da qual se verifica haver lugar a reembolso no montante apurado, conforme nota demonstrativa supra". Li melhor, era mesmo reembolso, não era para pagar, e já tinha sido feita a transferência. O senhor fisco teve pena de mim e achou que nós cá em casa já tinhamos descontado demais.
E fiquei a pensar, não sei se afetado pelo síndroma  dos multimilionários norte americanos que protestam por pagar insignificâncias de impostos, ou se por me fazer espécie haver impostos regressivos quando deviam ser progressivos, ou por achar demasiada a desigualdade, poucos pagam IRS e os poucos que pagam ainda por cima pagam valores negativos, como se vivessem numa discronia privativa.
Que a gestão dos dinheiros entregues ao Estado, estrutura organizada das comunidades que constituem a nação, composta por pessoas normais, não será a melhor em temos de produtividade e de eficiência, e isso vê-se na saúde, na educação, na habitação, no ordenamento do território e na indústria, porque é uma caraterística nacional a falta de planeamento e de organização, mas não pagar IRS (sim, eu sei, pago outros impostos) enquanto tantos concidadãos nem sequer são julgados dignos de ter um rendimento que justifique pagarem IRS, não posso achar bem.

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