Não têm comparação em termos de perda de vidas humanas as inundações de Derna na Líbia em 10set2023 e o deslizamento de terras em Stenungsund na Suécia em 22set2023. Mas em ambos os casos há´fenómenos estudados na Física que aparentemente foram descurados, na altura da construção das casas junto do mar e no enfiamento de uma linha de água de declive elevado e em forma de garganta ladeada por planaltos de altura superior a 100metros, em Derna, e na altura da construção da autoestrada em Stenungsund entre um monte argiloso e uma linha de água. Foram desastres de gravidade muito diferente e no caso sueco era difícil prever o acidente. Mas deixo aqui as vagas semelhanças topográficas do primeiro caso com o urbanismo de Alcântara e de Oeiras, ambas na extremidade de uma linha de água de uma área hidrográfica significativa de declive acentuado. No segundo caso há semelhanças com deslizamentos de terras recentes em Guimarães e Arcos de Valdevez e, há mais tempo, em estradas no Alentejo e na região do Oeste.
foto aérea da estrutura montanhosa onde se insere a linha de água que termina em Derna |
Assistimos na TV e imprensa à responsabilização das duas barragens na Líbia pela extensão da catástrofe. Seria interessante que, por exemplo através do LNEC, o governo português oferecesse o estudo das causas do desastre. Pessoalmente, apenas tive uma cadeira de Hidráulica Geral e um estágio na barragem do Picote que não me deram competência técnica para fazer afirmações com elevado grau de certeza. Apenas posso pôr a hipótese que me parece que, perante uma precipitação de 400 milímetros em 24 horas concentrada na área hidrográfica da linha de água que termina em Derna, o desastre era inevitável, com ou sem as duas barragens . Mas repito que seria interessante o LNEC esclarecer isso porque a forma como as notícias foram dadas induz a fação ambientalista anti barragens a condenar qualquer proposta de construção.
Observo que as duas barragens na Líbia eram de aterro compactado e tinham uma altura útil de 20 metros aproximadamente. As barragens de aterro não têm resistencia, bem mantidas ou não, para uma enchente que ultrapasse o seu nível máximo, e essa enchente normalmente destroi-a. Segundo um artigo informado da BBC
https://www.bbc.com/news/world-africa-66799518
, a barragem junto de Derna encontra-se a 2,4 km do mar e tinha uma capacidade de 22,5 milhões de m3 . A altura era de 20 m o que, considerando o declive da linha de água e a largura do vale de 200m, daria um comprimento segundo a linha de água de 1600m. Admitindo afluentes em mais 5000m, teremos para o volume armazenável cerca de 13 milhões de m3. Dados retirados do Google Earth/caminho/perfil da elevação.
Segundo o estudo da BBC, o volume da albufeira da barragem superior seria de 1,5 milhões de m3 para uma altura de barragem também de 20m e um comprimento da albufeira de 2.000m o que daria cerca de 8 milhões considerando os afluentes.
Supondo uma área hidrográfica de 70.000m x 3.000m teríamos para a precipitação de 0,4m por 24h cerca de 80 milhões m3 por 24h e provavelmente 8 milhões m3/hora mais intensa ou 2.200 m3/s. Para uma altura média de 300m no declive desde as montanhas teríamos então uma potencia destrutiva em Derna de 6.600 MW.
Se for assim, as barragens atrasaram um pouco o desastre, até serem destruidas, mas o volume de água que caiu foi superior à sua capacidade de armazenamento e acabaria por produzir o mesmo resultado.
Em conclusão, não deviam ter sido construidas casas à mesma cota da barragem mais próxima do mar, o que me leva a questionar as condições de segurança em Alcântara e Algés, e a capacidade dos túneis de drenagem do plano geral, sendo que em momentos de maré alta não poderá haver descargas em Santa Apolónia da água recolhida em Campolide proveniente da Amadora, Sete Rios e Praça de Espanha.
Sobre o deslizamento de terras na Suecia a fotografia supra é elucidativa. Teria sido difícil prever esta situação, mas dada a natureza argilosa dos solos deveria ter havido uma revisão de projeto por entidade especializada. Entretanto pôs-se a hipótese do movimento de terras em obras no outro lado do monte ter provocado ou ampliado os efeitos do dessastre.
região de Derna em topographic-map.com |
zona da autoestrada de Stenungsund em topographic-map.com |
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