sábado, 18 de novembro de 2023

Comentário ao artigo de 16nov2023 sobre o aumento de custos da linha violeta Infantado-Odivelas-Hospital Beatriz Ângelo

 

Comentário ao artigo de 16nov2023 sobre o aumento de custos da linha violeta Infantado-Odivelas-Hospital Beatriz Ângelo  (https://www.publico.pt/2023/11/16/local/noticia/linha-metro-odivelasloures-vai-curta-custar-dobro-previsto-2070528 )

 

Como referido no artigo, já em fevereiro de 2023 se sabia que a linha violeta teria cerca de 3,7km em túnel (EIA pág.38 do RNT, novembro de 2022) quando o senhor ministro afirmou que o aumento de custos de 250 para 390 milhões de euros (+56%) se devia ao aumento de 30% do custo de materiais e  porque “o projeto inicial previa um metro ligeiro totalmente à superfície mas o projeto posto em discussão pública (de 4jan2023 a14fev2023) prevê três estações subterrâneas, o que naturalmente encarece a obra".

Ora, contrariamente ao afirmado pelo senhor ministro que as razões do aumento de custos eram “fáceis de explicar”, o projeto inicial só poderia ser totalmente à superfície se fosse mal elaborado por quem não tivesse experiência em transportes  ferroviários. Pode ao princípio ter sido estudado um traçado totalmente à superfície, mas rapidamente posto de lado por, considerando a diferença de cotas entre a praça principal de Odivelas (25m), a travessia da radial de Odivelas (205m) e o hospital Beatriz Angelo (120m), ou se aumentava o percurso ao longo de linhas de nível de pequena diferença de cotas ou se obtinham pendentes inadmissíveis. Ver o perfil longitudinal do EIA entre a praça de Odivelas e o hospital, desenho Metro de jul2022:


Na página 17 do TUA de 11abr2023  referia-se o orçamento de 250 milhões de euros para a linha violeta e para o reordenamento urbano/rodoviário e expropriações 80 milhões para o município de Loures e 70 milhões para o de Odivelas totalizando 400 milhões de euros (com o anúncio em fevereiro de 2023 do aumento de 250 para 390, o total ficou em 540 milhões de euros da conta do PRR e do orçamento de Estado conforme decisão do conselho de ministros  de 16nov2023) ( ver em https://siaia.apambiente.pt/AIADOC/AIA3560/tua(dia)_aia35602023411102945.pdf  )

Quando da aprovação da linha violeta, em julho de 2021, já se previa um túnel de 1800m entre Ramada e o hospital (ver em https://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/07/arranque-do-metro-ligeiro-pelo-senhor.html   )

Isto é, já antes do EIA em consulta pública de janeiro de 2023 se sabia que havia túneis na ligação praça de Odivelas-Hospital Beatriz Angelo.

Donde, fico admirado (se a notícia está correta) com as justificações do senhor secretário de Estado Jorge Delgado quando diz, em 13 de novembro de 2023, que “A realidade veio demonstrar que não é possível (a ligação à superfície) pela topografia do terreno, passando o metro a ter uma extensão significativa de túnel (ver em https://www.jornaldenegocios.pt/empresas/detalhe/linha-violeta-do-metro-sobe-de-250-para-390-milhoes-devido-a-topografia-do-terreno   )

 

Os senhores ministro Duarte Cordeiro e secretário de Estado Jorge Delgado são pessoas corretas que tentam de forma conciliatória justificar o aumento dos custos, mas a triste realidade, não exclusiva do nosso país, é que a subida dos custos relativamente às propostas iniciais deve-se não apenas à pandemia, guerras, inflação e congestionamento das cadeias de abastecimento  marítimo, mas à tradição de suborçamentação nos investimentos de infraestruturas de transportes, provavelmente para facilidade de aprovação e de aceitação pela opinião pública (ver  em https://arxiv.org/ftp/arxiv/papers/1303/1303.6604.pdf   “ Cost Underestimation in Public Works Projects: Error or Lie?” by Bent Flyvbjerg, Mette Skamris Holm, and Søren Buhl  :  Underestimation of costs at the time of decision to build is the rule rather than the exception for transportation infrastructure projects. Frequent and substantial cost escalation is the result”).  

Para a suborçamentação também contribui no nosso país, por parte dos decisores governamentais, das administrações ou das direções superiores das empresas de transporte, a falta de conhecimento, ou de sensibilidade, das questões de operação e de manutenção das empresas  em função dos traçados propostos. Por exemplo, “esquecer” nas estimativas para o prolongamento da linha vermelha a Alcântara os custos de reordenamento das rodovias pela inserção da nova estação no acesso à ponte 25 de abril e das ligações mecânicas pedonais à estação de Alcântara Mar da linha de Cascais ou, como referido por um dos senhores governantes, os “custos de arranque”.

No caso do metro de Lisboa existe ainda outro fator que contribui para a suborçamentação e que, perante “a realidade” , obrigam a alterações (exemplos: a topografia do terreno em Odivelas, a  linha em laço): a adoção de ideias feitas que recolhem o apoio dos decisores e de alguma opinião pública quando, por exemplo, perante a planta da cidade, “acham” que um traçado em “V” ou em “U” ou com linha circular resolve o problema. Esquecem um critério básico em transportes metropolitanos, que devem ser expeditos (evitando curvas e contracurvas ou efeito de fita) os eixos de penetração a partir das periferias no núcleo urbano incluindo parques dissuasores à entrada da cidade, e ao longo dos eixos linhas transversais ou meios complementares de superfície, com percursos segregados de LRT (light rail transit), cabinas autónomas requisitadas a pedido, parques de frotas partilháveis. Não consideram os pareceres dos técnicos com experiência de operação e de manutenção no metro. Que se diria do projeto de um hospital que não atendesse aos pareceres dos seus médicos?

No contexto atual, em que se vai desenvolvendo uma série de traçados de metropolitano que não recolheram aprovação consistente em consultas públicas ou em votações parlamentares ou municipais (ver por exemplo a lei 2/2020 da AR), e que seguem mais ou menos um plano de expansão, de 2009, não sujeito a consulta pública  e incompatível com o PROTAML  de 2002 e o PMUS de 2016, será curial pedir um ponto de ordem e sugerir aos decisores que se centrem nos regulamentos comunitários (aliás fatores de viabilização de financiamentos) e nas disposições muito concretas da proposta de revisão e substituição do regulamento 1315/2013 das redes transeuropeias TEN-T que fixam em dezembro de 2027 a apresentação de um SUMP (sustainable urban mobility plan). Tal SUMP não deverá ser uma mistura não integrada de propostas dos municípios, pelo que se requer a ação imediata dos órgão institucionais em colaboração com a sociedade civil para revisão do PROTAML  e restantes instrumentos jurídicos de ordenamento do território, para usar a expressão dos especialistas.

 

 

Documentação relacionada:

mapa com os tuneis assinalados

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/05/o-momento-do-metropolitano-de-lisboa-em.html

 

parecer na consulta pública da linha violeta

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/02/participacao-na-consulta-publica-da.html

 

proposta de ligação Odivelas-Hospital Beatriz Angelo totalmente em túnel e mapa de 2009

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2022/07/o-lrt-ou-o-eletrico-rapido-de-odivelas.html

 

proposta de ligação Odivelas-Hospital Beatriz Angelo totalmente em túnel

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/11/mensagem-para-o-presidente-da-camara.html

 

anuncio do protocolo para metro de superfície Loures e Odivelas

https://www.publico.pt/2020/10/06/local/noticia/metro-superficie-loures-odivelas-1933775

 

sugestões aos presidentes de câmaras de Odivelas e Loures

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2020/05/sugestoes-para-expansao-do.html

 

esboço de plano de expansão na AML

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2019/05/esboco-de-plano-de-expansao-do.html

 

 



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