quinta-feira, 17 de julho de 2014

O admirável mundo dos transportes em julho de 2014

Para registo, algumas notícias do admirável mundo dos transportes, no mês em que o senhor secretário de Estado previu mais uma vez o concurso da concessão dos transportes urbanos do Porto e Lisboa:
1 - Atlântida - Adjudicada a venda por 12 milhões de euros a um armador grego, abaixo do preço de custo. Esperemos que se confirme a coresponsabilidade da empresa açoriana na escolha do projeto pela Petrobalt, inadequado para o mar dos Açores, o que implicou vultosas alterações na execução do projeto (aumento do lastro, quilhas laterais, motores de atracagem), as quais inviabilizaram o cumprimento da velocidade máxima contratual. Consequentemente, espera-se que a empresa açoriana não "ganhe" 8 milhões de euros que reclama como indemnização. Ficará para a história como exemplo da inépcia dos governantes, juntamente com a inviabilização do bom andamento da construção dos patrulheiros (esperou-se quase um ano para a aprovação governamental da compra de material e equipamentos indispensáveis para a construção do segundo patrulheiro) e do cumprimento atempado do contrato dos asfalteiros (também se arrastou a aprovação da encomenda de material; dado o fecho dos estaleiros e as exigências da construção de asfalteiros, seria preferível, salvo melhor opinião, deixar cair o contrato e renegociar a sua rescisão), e com a incapacidade de demonstrar a compatibilidade com as normas europeias da injeção de dinheiros públicos em material de defesa nacional.
É triste verificar que o relatório da comissão parlamentar sobrepõe os critérios políticos  á realidade técnica, escondendo a responsabilidade dos delegados dos partidos do "arco da governação" que por erros e omissões afundaram os estaleiros.
O Atlantida e os estaleiros são assim um pesadelo que ainda não acabou ( e de que continuaremos a sofrer as consequencias, sendo uma delas a humilhação da engenharia portuguesa por governantes que não compreendem um dos objetivos da engenharia, a produção de bens úteis.
2  - Linha da Beira Alta -  Encheram-se primeiras páginas de jornais com as listas de investimentos do GIEVA. A linha da Beira Alta, essencial para a exportação, irá ser remodelada. Só o estudo concreto poderá concluir se vale mais aproveitar troços do traçado ou fazer um traçado completamente novo. E conviria que o governo deixasse de querer só serviço de mercadorias. O serviço de passageiros é um direito dos cidadãos e um dever dos governos para beneficiar da maior eficiencia energética relativamente à rodovia e ao avião. E em muitos casos o serviço de mercadorias  impede a exploração de passageiros em condições normais (o maior peso por rodado provoca fadiga na via e necessidade de maior manutenção, que pode não dispor de horas noturnas para ser efetuada). Como ficou ilustrado com os 3 descarrilamentos de vagões de mercadorias na linha da Beira Alta em 15 e 28 de maio e em de 2014. Seria bom que os inquéritos fossem esclarecedores (conferir as bitolas, sabendo-se que  a bitola espanhola até aos anos 50 foi 11 mm mais larga do que a portuguesa, conferir o estado dos balastros, a falta de carril de segurança junto dos viadutos, a altimetria dos carris, o angulo cónico do rolamento das rodas dos vagões espanhois, a sua adaptação à geometria do carril, as suas carateristicas de movimentos de lacete... de facto não é possível poupar na segurança da circulação dos comboios).
3 -  Subconcessões dos transportes urbanos do Porto e de Lisboa - andam felizes os decisores do ministério da economia, com a felicidade dos que não têm de se preocupar com as frentes de trabalho (porque descarrilam os comboios não é assunto do seu interesse, até porque, tal como no caso do metro de Moscovo, se houver um descarrilamento saberão ordenar imediatamente um inquérito e  mandar punir exemplarmente os responsáveis, os diretos, não os que mandaram cortar nos custos de manutenção). Prudentemente estabeleceram doutrina, que serão subconcessões, que a propriedade, os ativos, permanecerão públicos, apenas geridos por privados, que não terão indemnizações compensatórias (claro que haverá contrapartidas pela prestação do serviço público que os privados tão bem assegurarão, um pagamento do passe social, por exemplo, desde que não lhes chamem indemnização). Felizes andam, conseguiram lançar o concurso para o  Porto ainda em julho, depois de adiarem para setembro o de Lisboa. Mas têm a franqueza de reconhecer que os cadernos de encargos foram feitos por consultores "contratados".
Isto é, não têm confiança nos técnicos das empresas públicas, e acham que os seus trabalhadores são "passivos", isto é, um peso negativo nas contas.
Os efeitos desta mentalidade dominante no setor dos transportes, desde a desmobilização dos seus trabalhadores à suspensão dos investimentos em infraestruturas, vão demorar muitos anos a reparar.
4 - Incidentes com aviões da TAP - não ficou esclarecido se o incidente da queda das máscaras se deveu a uma despressurização real ou a um defeito de sensores, embora pareça grave em qualquer caso. Já o caso da fratura da palheta de uma turbina poderá não ser tão grave como pareceu, exigindo, a serem verdadeiras as informações prestadas, o esclarecimento pelo fabricante (a manutenção principal das turbinas é feita pelo fabricante, não pelo operador).



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