domingo, 20 de julho de 2014

Colisão de um regional com um TGV

É de aplaudir, no seguimento do acidente (colisão de um regional a 90 km/h com a traseira de um TGV que circulava a 30 km/h) a informação prestada pelo diretor da rede ferroviária francesa e pelo diretor de segurança:

Todavia, parecerá importante fazer ressaltar que é altamente provável que o atual clima de redução de despesas e de economia de quadros de pessoal esteja associado a acidentes deste tipo e ao aumento da probabilidade da sua ocorrencia.
Comece-se por referir que o acidente ocorreu durante uma avaria da sinalização  e uma intervenção de manutenção reparativa.
Porém, o sistema de sinalização no local é do tipo BAPR e com contadores de eixos, mais económico do que o sistema de sinalização de cantonamento automático o qual exige circuitos de via com poucos quilómetros, enquanto o BAPR permite cantões de 15 km. 
Trata-se de uma escolha por razões económicas para linhas de tráfego médio (mais barato, nivel de segurança suficiente em circunstancias normais, mas duvidoso em caso de avarias ou sobreexploração).
Sabe-se como a afluencia de passageiros aumenta no verão, em França.




Tudo indica que um sinal estava vermelho por avaria (sempre que um sistema de sinalização tem uma avaria, coloca-se em proibitivo, mesmo que a via esteja livre). O TGV recebeu autorização do posto de comando central para passar o sinal vermelho em marcha à vista. O regional que o seguia parou tambem ao sinal vermelho e, ou terá avançado sem autorização, ou o sinal terá passado a verde em consequencia de da intervenção do agente de manutenção, ou simplesmente terá havido uma má compreensão entre o maquinista, o agente de manutenção e o posto central.
De notar que já é facilitadora uma regulamentação que permite dois comboios num mesmo cantão, mesmo em marcha à vista.
De notar que se tratava de 1 agente de manutenção. 
Compreende-se que por razões económicas seja um agente, mas uma avaria de sinalização não deve reparar-se com um agente, especialmente quando o cantão tem 15 km... mas é dificil explicar isso aos gestores economistas.
E tamebm é dificil explicar -lhes uma análise custos beneficios que justifica um sistema ATP (controle automático de velocidade) que liberte o maquinista da principal responsabilidade de segurança.
Os economistas deviam compreender que não se podem reduzir os custos sem pagar caro por isso. Mas não querem compreender isso, e sinto-me cada vez mais velho para lhes explicar.
As consequencias serão naturalmente a degradação das condições de segurança.


PS em 28 de julho de 2014:
Segundo a SNCF, o comboio TER que embateu no TGV terá passado com o sinal verde, o qual dava a informação errada em consequencia de danos nos cabos elétricos provocados por roedores. Segundo o senhor secretário  dos transportes, vão ser revistos todos os armários de sinalização da rede da SNCF.
http://www.sudouest.fr/2014/07/26/collision-ferroviaire-a-denguin-le-defaut-d-isolement-du-a-des-rongeurs-1626174-4344.php#article-comments

O comentário deste blogue é que é preocupante ouvir os decisores falarem assim. É verdade que os ratos danificam os cabos . É verdade que ao roerem podem provocar um curto circuito que simula uma condição de segurança. Mas tambem é verdade que a probabilidade disso acontecer é pequena, porque, se o projeto foi bem feito e bem executado, a informação é transmitida por mais do que um fio, pelo que um curto circuito simples não provocará uma informação errada. Além disso, todos os profissionais de sinalização e telecomunicações ferroviárias sabem que os ratos na proximidade dos cabos devem ser combatidos com os produtos próprios. O que aconteceu indicia cortes graves na manutenção. Aliás, as primeiras informações davam conta que estava apenas um agente de manutenção no local (o que dificulta a reparação e, principalmente, o formalismo de dar a avaria por reparada, porque durante a reparação o sinal o pode ser posto transitoriamente em verde, devendo o maquinista aguardar a comunicação formal de que a avaria foi reparada). É preocupante ver a simplificação de procedimentos e a redução de quadros de pessoal e ver as culpas atiradas para os roedores (a menos que se esteja a considerar que os decisores que roem os recursos são roedores).
Convirá ainda recordar que o sistema de sinalização BAPR com contadores de eixos em uso é precário , sem redundancia de segurança como controle de velocidade ATP (automatic train protection) ou balizas de travagem automática independentes dos contadores de eixos, e sem sequer cantões mais curtos em zonas de estações. Este sistema é perigoso quando o tráfego aumenta (outr coisa que os decisores não entendem, que uma linha ferroviária não pode ser sobreexplorada em condições de segurança).

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