terça-feira, 16 de setembro de 2014

Os ciclos e o discurso de Draghi no Wyoming


Um artigo na revista Ingenium sobre os ciclos de Kondratief chamou-me a atenção para esta teoria, dos grandes ciclos de 40 a 60 anos, cerca de duas gerações, associados ao desenvolvimento e declinio de tecnologias com impacto na economia.
Previa o artigo, com base nesta teoria, o desenvolvimento da produção de energia sem recurso aos combustíveis fósseis.
Se fatores exogénos, como interesses geo-estratégicos e de lucro com a produção de armas, guerras e droga, não se opuserem, assim deverá ser.
Kondratief viveu na União Soviética e morreu deportado na Sibéria em 1938. Estaline não terá gostado da previsão de que o capitalismo não morria com a depressão de 1929-1933 mas recuperaria graças ao progresso técnico.
Tal como Palchinsky, consultor de engenharia que acabou também vítima do estalinismo, Kondratief não foi compreendido por Estaline nem o sistema soviético foi capaz de se modificar para se abrir às novas ideias (nomeadamente que é na diversidade e não no monolitismo que reside o método para o progresso).
Pesquisando o assunto na internet, é interessante ver um assunto relacionado, o dos ciclos curtos (business cycles) cuja teoria se aproxima razoavelmente da realidade, apesar de já desenvolvida desde o inicio do século XIX, com Sismondi, Juglar e Marx:
http://en.wikipedia.org/wiki/Business_cycle

Estamos aqui efetivamente próximos, quando a troika e o governo promovem a recessão, a estagnação, a deflação e o desemprego no inicio do ciclo eleitoral e à aproximação do seu fim, o investimento (com possivel aumento do emprego) e o aumento de salários e pensões (com possivel subida da inflação).
Para tudo recomeçar no próximo ciclo eleitoral.

Pensemos numa população que viva no espaço limitado pelas linhas da maré cheia e da maré vaza. Cujo metabolismo se dá muito bem debaixo de água, e muito mal quando a maré baixa. Ou vice versa. E cujo tempo de vida é de quatro ou cinco ciclos de maré.
Quando a maré baixa, as criaturas queixam-se de que está tudo mal e culparão os ultimos governantes, pelo que elegerão outros. Mas no semi ciclo seguinte a maré enche e as criaturas sentir-se-ão felizes e o governo chamará  a si os louros do bem estar geral.

Ou vamos ao critério da oscilação de Nyquist. O pesadelo das aulas práticas de eletrónica é montar um amplificador que acaba por não amplificar, antes oscilar. Ou um oscilador que não consegue oscilar, só amplificar.
Um sistema oscila quando o sinal de entrada é transformado num sinal de saída cuja fase se opõe à do sinal de entrada e é reinjetado neste  (no caso do amplificador mal montado, sem ligação galvanica entre a saída e a entrada, essa ligação pode ser por capacidades parasitas, que o põem a oscilar). Isto é, se o sinal de entrada cresce, tendendo para produzir um sinal mais forte à saída, esse sinal mais forte regressa à entrada mas num ciclo em que reduz o sinal de entrada, pelo que a informação que o sistema transmite no instante seguinte à saída é para reduzir.
Eis porque uma medida de investimento pode ser alterada pelo sistema como um fator de estagnação através do aumento da dívida, embora no ciclo (eleitoral?) seguinte o resultado do investimento possa ser visível.
Ou como parasitas podem tornar uma economia instável graças a ligações obscuras entre entidades económicas e governamentais.

Falta aos politicos e aos economistas o sentido físico das coisas, e que as pessoas não são as criaturinhas da maré cheia e vaza sujeitas à propaganda dos governos e dos partidos, e às tropelias dos banqueiros, dos financeiros e dos professores de finanças, da London Schools ou de Harvard.

Ajudava, os meios de comunicação social e os comentadores televisivos não serem tão caixas de ressonancia dos partidos e dos governos.
Podia ser que resistissemos melhor à inclemencia das marés.

Estas considerações foram-me sugeridas tambem por um interessante artigo no DN de 1 de setembro de Sérgio Figueiredo sobre o discurso de Draghi no Wyoming (para compensar a péssima impressão que  me deixou de outro seu artigo, em 21 de julho, queixando-se da divida das empresas publicas de transporte, quando o metro de Lisboa paga 75 milhões de encargos de pessoal e 175 de juros de investimentos que são ativos públicos, não empresariais, quando o autor é administrador de uma entidade ligada à EDP, cuja divida é superior, se não me engano, à do metro de Lisboa, precisamente pelas mesmas razões, as de investimento em equipamento público).
O artigo mostra a evolução do PIB nos anos que se seguiram às depressões seguintes:
- na Inglaterra, a seguir a 1929
- no Japão, entre 1992 e 2001
- nos USA, a seguir a 1929
- na zona euro. entre 2007 e 2014



Com todas as limitações dos métodos de análise, parece mesmo que Draghi tem razão, que se impõe um ciclo de investimento público (dado que existem excedentes europeus).
Parece que o BCE, o FMI e a CE europeia se enganaram com a destruição criativa que impuseram do alto das suas cátedras de incompetentes. O gráfico mostra bem a má figura da Europa quando comparada com as outras crises.
E para o ciclo eleitoral tambem se abrem boas perspetivas.
E já se fala muito nos fundos europeus, esquecendo que é essencial haver projetos elaborados. Aguardemos, já que a possibilidade de participação é reduzida.



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