Não faças mal (do not harm), histórias de vida e de morte da neurocirurgia, de Henry Marsh, ed. Lua de Papel.
Trata-se de um livro muito interessante, com memórias do neurocirurgião Henry Marsh. Apesar dos livros de memórias não serem muito apreciados pelos especialistas de literatura, este foi premiado em Inglaterra e até escritores fizeram recensões elogiosas.
O autor é um prestigiado neurocirurgião inglês que trabalhou no serviço nacional de saúde e que conta com humildade os seus sucessos e insucessos.
Pessoalmente aprecio livros de memórias. Contêm informações mais rigorosas sobre a vida das pesoas do que os romances. E no caso dos médicos é interessante ver como escrevem Fernando Namora, Miguel Torga, A.J.Cronin, Axel Munthe, António Lobo Antunes. Isto para não recordar o dr Kildare.
Mas cito o livro para falar de transportes. Numa das suas crónicas, o autor conta que terminou o seu dia de trabalho no hospital, meteu-se no metropolitano com a sua bicicleta dobrável e foi da estação até ao local em que tinha uma reunião na bicicleta.
De facto, lembro-me de ter participado num congresso em Londres e de ter encontrado depois no metro conferencistas e assistentes. Sempre que vou a congressos em Portugal, vejo a maior parte dos conferencistas e assistentes entrar nos seus carros depois das sessões.
Recordo ainda o ar enjoado de um senhor professor de economia, ex-ministro das finanças , queixando-se que o seu motorista tinha muitas dificuldades com o transito entre o Areeiro e o Chiado, para as suas aulas (e contudo, tem uma linha de metro entre esses dois pontos).
Recordo ainda o diretos do laboratório de alta tensão na Holanda em que fiz um estágio.Algumas vezes aparecia de carro,mas a maior parte das vezes de bicicleta.
Tive pena, na minha vida profissional, de não ter usado a bicicleta, mas confesso que nunca fui muito bom a conduzi-la. Lembro-me das quedas na adolescencia, receei enfiar-me debaixo de um carro lisboeta...
Espero que o exemplo do dr Marsh possa convencer os técnicos de transporte que as deslocações numa área metropolitana devem ser estudadas incluindo vários modos. A bicicleta dobrável é um componente de uma deslocação (na Holanda, no Japão e na Dinamarca são enormes os parques de estacionamento para bicicletas junto de estações ferroviárias), como automóveis elétricos partilháveis, cabinas autónomas guiadas, carros autónomos,etc, etc. Mas claro, dir-se-á sempre que não há dinheiro, pese embora pensar e fazer projetos não ser assim tão caro.
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