Cita-se muito a previsão de 70% como a percentagem da
população mundial residente em cidades em 2050.
A concentração populacional permite maior eficiência na
ocupação do território, no consumo energético e na redução de emissões de gases
com efeito de estufa, mas exige um planeamento cuidadoso das redes de
transporte.
A forte contribuição duma área metropolitana com a dimensão
da grande Lisboa para o PIB justifica os investimentos nas suas
infraestruturas, desde que de uma forma equilibrada relativamente ao restante
país, especialmente o interior.
Por razões de eficiência energética, o sistema de
transportes de uma área metropolitana deve assentar no transporte ferroviário
(linhas suburbanas, metropolitano, LRT – light rail transit), prevendo-se nas
respetivas estações nós de correspondencia intermodal com modos mais ligeiros
de transporte, desde os elétricos, autocarros, transporte a pedido, frotas
partilháveis (car sharing e bike sharing), desejavelmente recorrendo a
tecnologia elétrica. Só assim poderá cumprir-se o objetivo de redução do
desperdício energético devido à massiva utilização do transporte individual.
Este planeamento deve ainda ser integrado com o planeamento
da organização do território, incluindo a urbanização, a reabilitação urbana e
a instalação dos setores secundário, terciário e quaternário.
Os investimentos necessários são passíveis, dadas as
orientações comunitárias no sentido da descarbonização, de cofinanciamento pela
UE, através dos quadros comunitários de apoio de vigência de 7 anos e do plano
de investimentos em infraestruturas Juncker.
Para o sucesso das candidaturas é porém indispensável que
sejam apresentados programas base ou projetos preliminares consistentes e com
fundamentação de custos-benefícios ao longo do ciclo de vida, e não meras
intenções.
Ora, o que se verificou nos últimos anos em Lisboa, não
apenas pelas dificuldades financeiras do país, foi o abandono de planos de investimento na
ferrovia urbana e de coordenação entre os modos de transporte.
O plano de expansão
do metropolitano apresentado em 8 de maio de 2017 como dispondo já de financiamento, está
aparentemente integrado num plano que prevê para uma segunda fase o
prolongamento da linha vermelha na direção de Alcântara, sem esclarecer a sua
integração no plano de urbanização de Alcântara, eventualmente a reformular.
No entanto, dado que a intervenção proposta se centra na
transformação de duas linhas independentes (a amarela e a verde) numa linha
circular, como tal mais sensível a perturbações na sua exploração, considerando
que a ampliação da rede se limita a 2 km, que por isso a cobertura da rede pouco
evolui, que serão parcialmente destruidas ou desaproveitadas infraestruturas dispendiosas
como os viadutos poente da estação Campo Grande ou o término atual de Cais do
Sodré, e que, finalmente, não foram devidamente divulgados os estudos de
procura que são apresentados como fundamento principal do plano proposto, é
legítima a preocupação relativamente à sua coerencia e eficácia (receia-se que
a comparação da variante selecionada tenha sido apenas com a extensão a Campo
de Ourique e não a Alcantara, onde se faria a correspondencia com a linha de Cascais;
se é assim, a comparação e as conclusões estão falseadas).
A existência de um plano de expansão do metropolitano, a sua
coordenação com os outros modos de transporte, nomeadamente com as linhas
ferroviárias suburbanas, e com a política urbanística e a sua aplicabilidade em
período superior aos ciclos eleitorais é altamente desejável, por ser condição
indispensável ao financiamento comunitário e a uma despesa anual em
investimento suportável.
Mas tal plano, desejavelmente para execução até 2030, não existe ainda oficialmente. É apenas um mapa com expansões idealizado em agosto de 2009, numa época eleitoral, sem a aprovação dos técnicos do metropolitano de operação e de manutenção, pelo que
se torna necessária uma ação colaborativa entre entidades, governo
e partidos, área metropolitana de transportes, autarquias da área
metropolitana, IMT, empresas, universidades, associações profissionais, revistas
técnicas, técnicos, em debate público à medida que se for estruturando o plano.
Se assim não se fizer, toda a população da área
metropolitana de Lisboa continuará sujeita a intervenções por avanços
desgarrados e às insuficiencias da sua rede de transportes.
Por isso se propõe aos políticos a aprovação de medidas de
promoção da referida ação colaborativa.