O DN tem estado neste verão a entrevistar pessoas mais ou menos famosas ou apresentadas como modelos a seguir. É um pouco a técnica das revistas cor de rosa, embora os escolhidos sejam de mais interesse. Não aprecio o culto da personalidade, mas a verdade é que vale a pena registar algumas citações dos entrevistados:
- de José Fragata, diretor do serviço de cardiologia do hospital de Santa Marta, de que discordo da visão que tem do Serviço Nacional de Saúde por me parecer que não devia haver senhores doutores (nem senhores engenheiros, claro), nem estruturas hierárquicas demasiado verticais, nem esta competição público-privado, mas confesso que não tenho elementos para contestar: "a reforma é a coisa mais triste que existe É muito triste uma pessoa aos 60 anos, cheia de experiência, ser posta de lado".
- de José Augusto Bernardes, da biblioteca geral da universidade de Coimbra : "a ideia de novidade induz um efeito poderoso de facilitação e de deslumbramento", a propósito do digital e do livro impresso. De facto, muitos projetos úteis são postos de lado porque alguém se lembra de que "agora, há uma solução melhor", e não há, quer sejam baterias seguras e de baixo peso para os automóveis, quer sejam melhores soluções que o transporte ferroviário
- de Rui Ramos, da empresa Bike in rio, instrutor de bicicleta aos fins de semana em Belém : "as empresas deviam dar mais valor aos seus trabalhadores. Se as pessoas estiverem felizes no ambiente laboral trabalham muito melhor, com mais imaginação e criatividade" . E isso até é contabilizável...
- de Maria Pereira, doutorada em ciencias farmaceuticas, da Gecko Biomedical : "Todos temos talento, uma coisa que falta em Portugal é o trabalho em equipa, a competição é saudável se for uma coisa construtiva e não destrutiva. As pessoas em geral, e as instituições em particular, têm de pensar que estamos todos a trabalhar para o mesmo fim. Tem-se um pouco a mania de pensar: "isto é o meu trabalho, é a minha quintinha" e não vamos mais longe precisamente por não trabalharmos em equipa. Isso aprendi em Boston, as pessoas competem entre elas, sim, mas também sabem trabalhar em equipa. A formação existe, temos pessoas de topo, mas falta trabalhar em equipa e em conjunto para um fim maior."
E é aqui que entra o encontro de praia, com um mais jovem colega ainda ao serviço, que me responde desanimado à pergunta "como vai o metro?": eu tenho confiança na minha equipa, são competentes e trabalhadores, mas o ambiente geral desmobiliza, falta o trabalho de equipa, há muitas quintinhas ...
É isso, bate certo, o diagnóstico está feito. Pena os decisores ainda não terem entendido. Talvez que se trabalhassem em equipa, tipo "bottom-up", em vez de quererem impor diretivas superiormente definidas, o ambiente não fosse tanto de "quintinhas". . .
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