O professor de economia escolhe por vezes temas interessantes. Recentemente observou que o valor da transferencia de Neymar constituia o cume de uma série em que o segundo jogador mais valioso "custaria" cerca de metade, o terceiro cerca de um quarto e por ai fora.
Trata-se da lei de Zipf, inicialmente elaborada para interpretar a frequencia com as diferentes letras ocorrem num texto, verificando-se uma ordenação em escada.
Esta lei pode relacionar-se com outra, a de Fermat-Weber, que mostra o poder cada vez maior dos elementos de maior peso num sistema entregue a si próprio. Isto é, a natureza não é democrática, por um lado despreza os elementos minoritários, e por outro ordena os seus elementos numa escala em que os a diferença de valor é grande, com a agravante de ir sucessivamente agravando as diferenças (variante da lei da entropia, que cresce no sentido da maior desordem num sistema entregue a si próprio).
Temos aqui uma dialética interessante.Estamos sempre a apregoar a união com a natureza. Mas ela é discriminatória (como aliás Darwin explicou com o sacrifício dos mais fracos em honra dos mais fortes). A própria ideologia ultraliberal, de supressão de qualquer intervenção no funcionamento dos mercados aparenta a defesa de uma anarquia que deixa entregue à lei de Fermat-Weber a seleção dos mais poderosos, ordenados segundo a lei de Zipf. Os seus defensores, quando carinhosamente dizem que "autorizam" uma regulação pelo Estado (funcionamento deficiente dos mercados: externalidades, informação assimétrica, escassez), sabem que essa regulação só funcionaria se o próprio Estado tivesse experiencia nas atividades que regularia (o que dispensaria a preocupação dos ultraliberais com a falta de vocação do Estado para gerir negócios) e se os seus executivos não estivessem dependentes do poder económico dos regulados.
É perigoso analisar as coisas pela lei das analogias, mas não será mesmo uma constante da natureza esta tendencia para a entropia máxima? e se não quisermos assim temos mesmo de intervir, arriscando-nos a que erros graves tenham consequencias sucessivamente mais penalizantes dos próprios elementos mais fracos que se queria proteger (analogia com os falhanços dos sistemas socialistas?)?
Como sair desta encruzilhada? Talvez pensando que a história da engenharia e da técnica está cheia de exemplos em que são contornadas as leis da natureza. O homem habita casas e voa sem cair de acordo com a lei da gravidade, nem se afoga quando viaja a bordo de submarinos.
Isto é, têm de se aproveitar outras leis da Física (interessante, haver oposição de interesses naquilo que diferentes leis servem, uma espécie de analogia com a luta de classes) para resolver caso a caso as dificuldades.
Ou na gestão das sociedades, tem de apelar ao concurso de todas as forças que interessam à solução. Ou de como não deve haver classes dominantes nem individuos a quem pela lei de Fermat-Weber, pela lei de Zipf, e pelos mecanismos eleitorais vigentes que, de acordo com as leis de Kenneth Arrow, são o produto de ignorantes da matemática (Napoleão não era ignorante matemático, mas constituiu-se como o Neymar mais valorizado pelos cidadãos para anular a lei matemática eleitoral de Charles Bordas). Pelo que se poderia dizer que o sistema de governo por um partido único ou condicionado por um homem só, um Neymar ditatorial, não preenche os critérios da democracia.
Ou como diria qualquer engenheiro ou técnico encarregado dum projeto ou da soluçção de um problema, as coisas resolvem-se em trabalho de equipa, do planeamento à execução, controle, monitorização do funcionamento, exploração e desmantelamento no fim de vida, independentemente das ideologias de cada uma.
Mas para iso é preciso estuar as leis da Física e da Matemática, para mão haver predomínio de nenhuma delas.
Sem comentários:
Enviar um comentário