quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

As ligações ferroviárias à Europa além Pirineus vistas pela cartoonista


Os cartoonistas são como os poetas, podem não saber como funciona uma coisa, e é de facto impossível saber como tudo funciona, mas percebem, ou antevêem, a sua essencia e com isso conseguem fazer uma pequena obra de arte, que muitas vezes nem é efémera.

Por isso pedi a uma jovem cartoonista que explicasse, através duns desenhos suficientemente coloridos para atrair a atenção das pessoas para a mensagem, em que consiste a problemática das ligaçóes ferroviárias à Europa para lá dos Pirineus.
Assunto árido, e distante no tempo e no espaço das preocupações urbanas.
Veja-se o ar agastado do senhor primeiro ministro.
https://eco.sapo.pt/2020/02/02/antonio-costa-quer-lancar-bases-e-discutir-alta-velocidade-ferroviaria-no-pos-2027/

Que gosta pouco de perder o tempo com conversas que não vêm ao caso neste momento. Depois se falará disso depois de terminado o quadro comunitário 2021-2027.
E contudo, já é tarde para discutir o que deveriamos incluir no quadro 2028-2034.
Estas coisas demoram tanto tempo a decidir, a fazer os projetos, as análises comparativas de custos benefícios.
Parece que o senhor primeiro ministro não sabe o que custa em tempo planear infraestruturas... além de que em 2016 dizia que só podia levantar-se o tabu da alta velocidade em 2023, agora em 2020 é em 2027.
E depois ficam os senhores do governo muito tristes quando de Bruxelas vem uma censura pela lentidão com que desenvolvem a ferrovia, para o que há cofinanciamento. Não há é projetos a fazerem-se:

https://eco.sapo.pt/2020/02/26/bruxelas-regista-lentidao-no-desenvolvimento-da-ferrovia-e-dos-portos-portugueses/


Veja-se este pequeno extrato de um documento da direção geral da mobilidade e transporte da CE de março de 2019 (a reprimenda não é só para Portugal, também se aplica a Espanha e a França):
https://ec.europa.eu/transport/sites/transport/files/2019-transport-in-the-eu-current-trends-and-issues.pdf

na página 65:

Issue 2 - Completion of Spain's rail TEN-T Core Network by 2030 The completion of Spain's TEN-T rail Core Network by 2030 could raise concerns given the current pace of implementation. Cross-border rail traffic of freight trains from Spain into France and Portugal remains a bottleneck for completing the Atlantic and Mediterranean corridors. The different gauges used in the neighbouring countries constitute a key barrier to the improvement of Spain's rail connectivity. Increased cooperation between Spain, France and Portugal in the implementation of rail interoperability is underway to overcome these obstacles. 

ou na página 68:

...completing cross-border connections with France and Portugal, better connections of ports to the rail network, upgrade of the Iberian gauge to UIC gauge,...

O que é curioso é que estes excertos se referem a Espanha, enquanto no que se refere a Portugal é dito que o corredor atlantico está quase completado, o que indicia indução em erro dos técnicos da CE pelos portugueses.

Mas como tudo isto é árido e confuso, eis o que a jovem cartoonista produziu:

era muito importante que Sines fosse uma porta para a Europa, mas com uma linha destas, via única, com pendentes elevadas, em bitola ibérica ... que falta de eficiência ...


é o pesadelo dos construtores da ferrovia, não acertar com os carris; mas a culpa não é dos operários, são decisões , ou a falta delas, que leva à falta de interoperabilidade, que é poder circular sem interrupções



pouco se avança nas ligações transfronteiriças sem bitola UIC; fazem-se cimeiras ibéricas e depois ficam por cumprir os objetivos para 2030 da Comissão Europeia: o white paper de 2011 com a rede "core" e o regulamento 1316/2013 para a transferencia de 30% da carga rodoviária a mais de 300 km para a ferrovia




é frustrante, já exportamos mais para a França e Alemanha em conjunto do que para Espanha, mas para França e Alemanha nada, mesmo nada, por comboio; e de comboio não conseguimos passar os Pirineus com esta política



é o próprio governo português que manda dizer para Bruxelas que está tudo bem, que podem pôr nos relatórios de progresso, que se avança com confiança no corredor atlantico; só que sem bitola UIC é muito dificil
                                                                                                    desenhos de Margarida Cardoso







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