Artigo de Manuel Tão de 11ago2023 Entender a ferrovia em Espanha
https://expresso.pt/opiniao/2023-08-11-Entender-a-ferrovia-de-Espanha-58eb5c35
Terá um artigo do prof.João Duque induzido o artigo do
prof.Manuel Tão ao pedir a conversão da bitola ferroviária. Mas conversão (etimologicamente
mudança), tal como a palavra migração também utilizada nos regulamentos
europeus, não quer dizer que se mude a bitola da rede existente de 1668mm para
a bitola europeia 1435mm, mas apenas que sejam em bitola 1435mm as novas
linhas a construir segundo o mapa do regulamento
1315 (em fase final de revisão) das
redes transeuropeias TEN-T , o qual estipula para 2030 as ligações
interoperáveis com a Europa, beneficiando do financiamento comunitário. Seria
uma conversão a uma nova e desejável estratégia.
Resposta à primeira pergunta do prof. M.Tão: que pode
Portugal fazer? Pode, em vez de prolongar indefinidamente a dependência da
bitola 1668mm, inverter a atual estratégia e acordar com Espanha e a EU o
cumprimento do regulamento 1315. Os regulamentos europeus são vinculativos e a
Espanha não pode legalmente opor-se à construção da sua parte do corredor
atlântico, tal como um vizinho de um terreno encravado não pode opor-se à disponibilização
da serventia para esse terreno.
Resposta à segunda pergunta:
qual a transferência de quota da rodovia para a ferrovia graças à normalização
da bitola? Ela poderá fazer-se, não apenas para poupar 90 minutos no
transbordo, mas por imperativo das diretivas europeias de redução de emissões e
do congestionamento do tráfego rodoviário, e para melhoria da competitividade
das exportações nacionais, como aliás o PFN reconhece, e da atratividade do investimento
estrangeiro. Em 2022, as exportações por modos terrestres, por ferrovia menos
de 1,5%, foram: para Espanha 11,3 milhões de toneladas e 16800 milhões de
euros, para o resto da União Europeia 5,9 milhões de toneladas e 25800 milhões
de euros. Não parece que devamos contentar-nos com o tráfego exclusivamente em
bitola 1668mm com Espanha quando vendemos mais ao resto da EU do que a Espanha.
Mas Ouçamos o presidente da MEDWAY numa entrevista à Railway Gazette em set2021, embora sem contrariar a estratégia
nacional: “It’s evident that I, as a railway operator, would like to
have standard gauge. It
would be much easier.”
Resposta à terceira pergunta: que
investimentos ferroviários serão materializáveis até ao fim da década com
aproveitamento dos fundos europeus? Além
do já referido na primeira resposta, acordo tripartido com Espanha e EU e
inversão da estratégia, rápida mobilização de projetistas para obtenção dos
fundos e colaboração com os homólogos espanhois incluindo a ligação de alta
velocidade interoperável para tráfego misto Lisboa-Madrid reduzindo o
desperdício energético das ligações aéreas. Em vez de cimeiras ibéricas em que
o lado português rejeita a construção do corredor atlântico, urge dinamizar a
sua orçamentação e calendarização. É verdade que não existe em Espanha um plano
com data de chegada da bitola 1435mm à fronteira portuguesa. Mas não admira,
depois dos governos portugueses terem tomado a iniciativa de desistir dos
corredores internacionais nas sucessivas cimeiras, em dissonância com o
regulamento 1315.
Notas: Fixada pelo governo
espanhol a apresentação em out2023 de um plano para calendarização do corredor
atlântico. Em Espanha: 11.000 km em
bitola ibérica, 3.000 km bitola UIC para passageiros, 270 km bitola mista (3
carris, para passageiros e mercadorias, p.ex nas Astúrias em Pajares. Orçamento
do estado espanhol 2023 para o corredor atlântico 1648 milhões de euros, para o
corredor mediterrânico 1695 milhões e para o PRR/ferrovia 2477 milhões.
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