Depois da JMJ
Felizmente nada aconteceu de muito mau. Escrevi, antes do
acontecimento, algumas críticas à organização das JMJ por considerar deficiente
a abordagem da segurança das pessoas. Não me refiro à segurança das pessoas do
ponto de vista da polícia, mas à segurança física enquanto membros da multidão,
sujeitas aos riscos dos movimentos aleatórios que podem resultar em
esmagamentos. Enviei às câmaras de Loures e de Lisboa vários comentários,
incluindo uma lista de acidentes com multidões por esse mundo fora, em
espetáculos, em celebrações religiosas, em comemorações. Citei os números da
portaria 135/2020, que por exemplo, impõe uma linha de 600 metros livre para
evacuação de uma aglomeração de 300.000
pessoas, que era a previsão para o espaço do altar. Linha essa que não
está disponível entre a linha de comboio, dos edifícios, da ETAR e da borda do
rio. Deixei bem claro que, com a experiência dos acidentes havidos, sabe-se que
não é o pânico que gera as corridas (“stampede”, estouro), são os movimentos
indeterminados da multidão, a resultante da pressão das pessoas sobre os
vizinhos, a ocorrência não determinsta de fenómenos de ressonância por
convergência de movimentos, que podem provocar esmagamentos e subsequentes
pânico e correrias. Está estudado, não vale a pena negar, e felizmente nem
sempre acontecem.
Devo dizer que apenas fui recebido por assessores do
presidente de Loures. De Lisboa apenas a confirmação do profundo desprezo que
naquela casa se vota aos cidadãos através da recusa de uma entrevista. Devo
também confessar que fico feliz por não se terem concretizado os riscos. Os
especialistas de segurança souberam convencer os participantes a obedecer
religiosamente aos roteiros e à atribuição dos lugares, sem veleidades de se
passearem à vontade por todo o campo ou quererem atravessar pontes, viadutos,
túneis , linhas de caminho de ferro, vias rápidas- Não foram utilizados o
passadiço a norte do Trancão nem, por peões, a ponte
sobre o Trancão.
Isto é, o segredo da segurança foi não haver liberdade
indiscriinada de movimentos, antes haver uma planificação cuidada das
deslocações e do posicionamento nos setores. Eis uma boa lição de sociologia
para multidões.
No caso da ponte, li que foi reforçada para a passagem do
papamóvel, possivelmente com maistirantes, mas teria preferido que os 3 veículos
que acompanharam o papamóvel nas duas travessias da ponte estivessem mais
espaçados e seguissem à frente e não atrás. Não deixo no entanto de recordar
que quando vamos à festa do Avante gostamos de nos passearmos por todos os
sítios, vantagem de um evento com lotação limitada em valores razoáveis. De
notar o fecho do IC30, condição indispensável para garantir a segurança das
pessoas, mas não vi nenhum comentador referir-se aos custos desse fecho (por
exemplo, calcular o número de horas de atraso das pessoas nas suas deslocações
habituais e multiplicar por 20 europs por hora, acrescentando as emissões adicionais
pelos percursos alternativos.
Mas em síntese, felicitações pelo trabalho dos intervenientes
da segurança, demonstrando plena consciência dos riscos corridos.
Pela negativa, recordo
a visita do senhor primeiro ministro na véspera da inauguração da
semana, com um discurso de laicidade incompatível com a própria presença não
laica esquecendo o art . 13 da Constituição : ninguém pode ser privilegiado por
razões de religião. Mesmo que a maioria dos portugueses fosse católico, mesmo
que a religião, como dizia Marx, seja um lenitivo, um alívio par as
dificuldades do dia a dia. Perdoe-se evidentemente a troca do verbo proferir
por professar, deve ter lido à pressa, ou os assessores, a definição do que são
alfaias litúrgicas, mas não parece razoável perdoar a afirmação de que o que se
está a investir fica (as rampas do palco ficam para os concertos pop? E os 6 milhões
dos écrans espalhados pelo recinto e, principalmente, os custos da
deslocalização do terminal de contentores são absorvidos? Ficamos com uma extensa
faixa de usufruto da margem do tejo como era o sonho do senhor primeiro ministro
quando era candidato a presidente da câmara de Loures. Era perfeitamente
possível compatibilizar os dois usos, lazer e exploração logística, mas
conseguiu em 30 anos destruir o terminal de contentores sem tomar consciência
do prejuízo que isso significa. E já agora, que se faça uma consulta pública a
sério, isto é, participada e com possibilidade de alterações substanciais ao
plano do parque verde onde eram os depósitos da Petrogal e o setor sul do
terminal de contentores da Bobadela (cabe aqui recordar recorar que a magem norte da foz do Trancão poderia ser ao local de amarração da ponte ou túnel ferroviário da linha Lisboa-Madrid, o que deveria ser decidido não por voluntariosos ministros ou secretários de Estado, mas em ações de participação pública nno âmbito da CCDRLVT e dO PROTAML.
E que o senhor primeiro ministro ao menos informe o povo
para onde deslocou o terminal, Já que parece para Castanheira do Ribatejo não
pode ser, e quanto isso custa.
https://fcsseratostenes.blogspot.com/search?q=jmj
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