segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Depois da JMJ

 

Depois da JMJ

Felizmente nada aconteceu de muito mau. Escrevi, antes do acontecimento, algumas críticas à organização das JMJ por considerar deficiente a abordagem da segurança das pessoas. Não me refiro à segurança das pessoas do ponto de vista da polícia, mas à segurança física enquanto membros da multidão, sujeitas aos riscos dos movimentos aleatórios que podem resultar em esmagamentos. Enviei às câmaras de Loures e de Lisboa vários comentários, incluindo uma lista de acidentes com multidões por esse mundo fora, em espetáculos, em celebrações religiosas, em comemorações. Citei os números da portaria 135/2020, que por exemplo, impõe uma linha de 600 metros livre para evacuação de uma aglomeração de 300.000  pessoas, que era a previsão para o espaço do altar. Linha essa que não está disponível entre a linha de comboio, dos edifícios, da ETAR e da borda do rio. Deixei bem claro que, com a experiência dos acidentes havidos, sabe-se que não é o pânico que gera as corridas (“stampede”, estouro), são os movimentos indeterminados da multidão, a resultante da pressão das pessoas sobre os vizinhos, a ocorrência não determinsta de fenómenos de ressonância por convergência de movimentos, que podem provocar esmagamentos e subsequentes pânico e correrias. Está estudado, não vale a pena negar, e felizmente nem sempre acontecem.

Devo dizer que apenas fui recebido por assessores do presidente de Loures. De Lisboa apenas a confirmação do profundo desprezo que naquela casa se vota aos cidadãos através da recusa de uma entrevista. Devo também confessar que fico feliz por não se terem concretizado os riscos. Os especialistas de segurança souberam convencer os participantes a obedecer religiosamente aos roteiros e à atribuição dos lugares, sem veleidades de se passearem à vontade por todo o campo ou quererem atravessar pontes, viadutos, túneis , linhas de caminho de ferro, vias rápidas- Não foram utilizados o passadiço a norte do Trancão nem, por peões,  a  ponte sobre o Trancão.

Isto é, o segredo da segurança foi não haver liberdade indiscriinada de movimentos, antes haver uma planificação cuidada das deslocações e do posicionamento nos setores. Eis uma boa lição de sociologia para multidões.

No caso da ponte, li que foi reforçada para a passagem do papamóvel, possivelmente com maistirantes, mas teria preferido que os 3 veículos que acompanharam o papamóvel nas duas travessias da ponte estivessem mais espaçados e seguissem à frente e não atrás. Não deixo no entanto de recordar que quando vamos à festa do Avante gostamos de nos passearmos por todos os sítios, vantagem de um evento com lotação limitada em valores razoáveis. De notar o fecho do IC30, condição indispensável para garantir a segurança das pessoas, mas não vi nenhum comentador referir-se aos custos desse fecho (por exemplo, calcular o número de horas de atraso das pessoas nas suas deslocações habituais e multiplicar por 20 europs por hora, acrescentando as emissões adicionais pelos percursos alternativos.

Mas em síntese, felicitações pelo trabalho dos intervenientes da segurança, demonstrando plena consciência dos riscos corridos.

 

Pela negativa, recordo  a visita do senhor primeiro ministro na véspera da inauguração da semana, com um discurso de laicidade incompatível com a própria presença não laica esquecendo o art . 13 da Constituição : ninguém pode ser privilegiado por razões de religião. Mesmo que a maioria dos portugueses fosse católico, mesmo que a religião, como dizia Marx, seja um lenitivo, um alívio par as dificuldades do dia a dia. Perdoe-se evidentemente a troca do verbo proferir por professar, deve ter lido à pressa, ou os assessores, a definição do que são alfaias litúrgicas, mas não parece razoável perdoar a afirmação de que o que se está a investir fica (as rampas do palco ficam para os concertos pop? E os 6 milhões dos écrans espalhados pelo recinto e, principalmente, os custos da deslocalização do terminal de contentores são absorvidos? Ficamos com uma extensa faixa de usufruto da margem do tejo como era o sonho do senhor primeiro ministro quando era candidato a presidente da câmara de Loures. Era perfeitamente possível compatibilizar os dois usos, lazer e exploração logística, mas conseguiu em 30 anos destruir o terminal de contentores sem tomar consciência do prejuízo que isso significa. E já agora, que se faça uma consulta pública a sério, isto é, participada e com possibilidade de alterações substanciais ao plano do parque verde onde eram os depósitos da Petrogal e o setor sul do terminal de contentores da Bobadela (cabe aqui recordar recorar que a magem norte da foz do Trancão poderia ser ao local de amarração da ponte ou túnel ferroviário da linha Lisboa-Madrid, o que deveria ser decidido não por voluntariosos ministros ou secretários de Estado, mas em ações de participação pública nno âmbito da CCDRLVT e dO PROTAML.

E que o senhor primeiro ministro ao menos informe o povo para onde deslocou o terminal, Já que parece para Castanheira do Ribatejo não pode ser, e quanto isso custa.


https://fcsseratostenes.blogspot.com/search?q=jmj


Sem comentários:

Enviar um comentário