sábado, 3 de agosto de 2024

A propósito da situação dos elevadores e escadas mecânicas do metropolitano de Lisboa

Notícia do Observador:  https://observador.pt/2024/08/02/metro-de-lisboa-quer-avancar-com-novo-modelo-de-assistencia-e-manutencao/

outras notícias: https://www.publico.pt/2024/07/30/local/noticia/ano-ha-19-elevadores-escadas-rolantes-parados-metro-lisboa-2099293

                        https://zap.aeiou.pt/o-que-se-passa-no-metro-de-lisboa-618022

                        https://www.publico.pt/2024/08/02/sociedade/noticia/acessibilidade-360-concluidos-apenas-seis-1500-edificios-publicos-precisam-obras-ate-final-2025-2098797


No meu tempo, eu fazia cadernos de encargos (de sinalização) com base no conhecimento que ia adquirindo em contacto não só com o mercado (troca de informações com representantes de fornecedores de sistemas de sinalização), mas também com os colegas mais experientes e com colegas de outros metros (subcomité da UITP, IRSE), leitura de artigos técnicos de revistas da especialidade e de livros técnicos. Raramente recorri a concursos de pré-qualificação, não por não serem úteis, que o são, mas porque por imperativo profissional achei que devia estar dentro dos assuntos.

Há cerca de 20 anos, no departamento de eletromecânica (que não dependia de mim, embora por razões de coordenação, nunca formalizada nem dotada de orçamento pelas administrações,  das relações com o PNPA-plano nacional para a promoção das acessibilidades- tivesse de me interessar pelo funcionamento de elevadores e escadas mecânicas) foi superiormente entendido que a reparação dos equipamentos devia ser por outsourcing. 
Isto é, perdeu-se o know how a troco da economia do quadro de pessoal. Sucessivas administrações foram sendo nomeadas, a maioria das vezes como comissários políticos dos partidos no poder, sem conhecimentos técnicos de operação, de manutenção nem de planeamento de redes  (com consequências danosas como a construção da linha circular ou o abandono do PROTAML) com a agravante de se sentirem superiores e não darem ouvidos aos técnicos seniores. Idem no nível de topo da direção executiva. Não foi só no metro. Na CP e na IP a história foi semelhante e confrangedora com a eterna desculpa das contas públicas e da fé no mercado e nos privados, apesar do tratado de funcionamento da UE prever apoio às regiões periféricas e a Comissão Europeia encher as suas newsletters com palavras bonitas sobre a descarbonização (valha-nos aqui o ECA - European Court of Auditors - que classifica a rede ferroviária europeia como manta de retalhos ).
Na primeira intervenção da empresa contratada um seu precário esqueceu-se de um desperdício embebido em óleo que, apanhado pelos degraus do tapete rolante de Entrecampos, provocou um incêndio.   
Não me admiro da situação atual. São anos de desorçamentação. Em 2016 cerca de 30% do material circulante esteve imobilizado porque cativações impediram a execução do orçamento para compra de novos rodados. Foi tão evidente a acumulação de atrasos na operação que em 2017 se puderam adquirir os rodados. Nos elevadores e escadas mecânicas a imprensa tem dado conta. Meses para "modernizar" os equipamentos . Recurso a linguagem de agências de comunicação que desvalorizam a gravidade da situação e atiram as culpas para terceiros, à boa maneira dos tempos da instrução primária. Nenhum técnico de engenharia deveria usar esta linguagem. Se não há peças de reserva houve falta de planeamento da manutenção (ou acreditam mais na manutenção reativa do que na preditiva), se elas demoram a chegar é porque o caderno de encargos não previu multas  ou o concurso foi adjudicado pelo preço mais baixo que, contrariamente ao mito, não é fator obrigatório de adjudicação pela lei da contratação pública .
Seria interessante saber-se que duas estações servirão de piloto. Jardim Zoológico em coordenação com a IP? Baixa Chiado para a ligação da superfície (Rua do Crucifixo, Rua Capelo) ao átrio das bilheteiras? Se há tanto vandalismo, deverá ser revista a lei aumentando as penalizações  e instalando videovigilancia.
Pessoalmente, já depois de sair, fiz várias sugestões nunca seguidas (por exemplo, teria sido fácil instalar uma rampa da superfície ao átrio de bilheteiras de Campo Grande, em vez de um elevador). 
Contrariamente ao anuncio, o caminho deveria ser: 
i) a constituição dum quadro interno do metro para projeto e manutenção de elevadores e escadas rolantes com recurso a fundos comunitários ao abrigo do cumprimento do DL 163/2006 do PNPA; 
ii) recurso a rampas em vez de elevadores de superfície (há um bom exemplo no centro comercial de Campo Pequeno); 
iii) preferencialmente elevadores de superfície com acesso direto aos cais e respetivas máquinas de venda de títulos e canais de acesso (2 elevadores por estação em vez de 3 como em Roma e futuramente em Martim Moniz.

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