Lamento as mortes dos apanhadores de ameijoas e solidarizo-me com os seus familiares. Gostaria de não ser mal interpretado no que escrevo a seguir, com base nos princípios da análise de riscos e também por, embora esporadicamente e numa embarcação de vela, frequentar o rio Tejo.
Não são os primeiros acidentes no rio. A Marinha tem sempre cumprido a sua função educativa e de alerta contra os perigos.
Mas seria bom que a comunicação social desse mais importância às medidas preventivas de segurança que poderão reduzir as probabilidades de ocorrência deste tipo de acidentes, do que a outros pormenores.
Para isso seria desejável que a tutela da Marinha e as instituições oficiais de proteção civil atuassem com vontade executando ações de formação.
Quem passa na ponte Vasco da Gama à hora da maré baixa vê muita gente a apanhar ameijoa. O facto das vítimas serem pescadores ludicos não é relevante para o que escrevo, uma vez que muitos dos que ganham a vida nesta apanha serão emigrantes ou desempregados sem formação marítima (vendem por 3,80 euros o kilo a intermediários que vendem as ameijoas em Espanha a pouco menos de 7 euros o kilo).
Daí a necessidade de ações de formação pela Marinha.
As marés junto da lua nova e do solstício de inverno têm maior amplitude. A maré baixa do dia dos acidentes, sábado 20, às 7:30, foi 50 cm mais baixa do que a do sábado anterior, e a maré cheia 40 cm mais alta. Acresce que em consequência das chuvas ou vento poderá ter havido agravamento das condições nas zonas de baixios durante a enchente.
Sobrevindo nevoeiro (há anos esteve iminente um acidente com um veleiro na albufeira do Alqueva, em dia de nevoeiro), sem referencias de iluminação ou sinais sonoros em terra, sem vestuário isotérmico, sem coletes de flutuação, sem bússola, sem telemóvel ou rádio para apoio em terra, a probabilidade de desorientação e de inanição por hipotermia é muito grande. O tipo de roupa e calçado é importante, o uso de botas com cano alto soldado às calças com alças é extremamente perigoso porque se a pessoa é derrubada pela corrente e a água ocupa as calças pode afogar-se mesmo em pouca profundidade de água (aconteceu há anos no estuário do Mondego). Conviria que a investigação deste acidente esclarecesse se o tipo de roupa usado contribuiu para ele.
Existem ainda meios empíricos de orientação em situação de nevoeiro, mas exigem experiência, como a cor das águas, a presença em suspensão de sedimentos ou resíduos vegetais ou animais, o voo de gaivotas, a deslocação de manchas à superfície que indiciem a orientação das correntes e por conseguinte a orientação da frente de água.
Mas insisto, tudo isto exige ações de formação através de recursos para que a Marinha o possa fazer e, naturalmente, apoios aos apanhadores para vestuário isotérmico, coletes de flutuação, bússolas e material de comunicações.
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