sexta-feira, 31 de julho de 2015

Sapatos baratos

Sou um piegas, não ganho nada em disfarçar.
Nem consigo.
De vez em quando dá-me isto, ou por ver coisas ou por ler.
Dei por mim a ler a notícia de que as estatísticas do sucesso das exportações portuguesas de calçado tinham de ser revistas, para menos, porque 18 milhões de pares de sapatos que tinham sido considerados como exportados por Portugal, afinal tinham sido importados da China e depois reexportados como se tivessem sido fabricados em Portugal.
O país precisa desesperadamente de aumentar a sua taxa de exportações.
Infelizmente a sua balança comercial continua negativa, pese embora a propaganda oficial que os estipendiados, como diz Batista Bastos, irrefletidamente reproduzem.
O que quer dizer que o saldo orçamental continua mal, como se pode ver pela fórmula:

saldo orçamental = investimento privado e estrangeiro - poupanças + exportações - importações

O peso das exportações é de cerca de 40% do PIB, mas esses 40%  incorporam 15%  de importações. Isto é, só 25% do PIB são exportações de Portugal. No caso dos sapatos chineses foi 0% (do ponto de vista económico a atividade administrativa foi incorporação nacional, assim como se contabilizássemos quem provoca acidentes na estrada como promotores do aumento do PIB por dinamizarem o negócio de reparação e sucata de automóveis e dos hospitais e cemitérios).
E assim, por tudo isto, e porque importar 1000 contentores carregados de pares de sapatos (um terço de um porta-contentores médio) é uma manifestação clara de esperteza boçal, de espírito de desenrascanço em proveito próprio e em prejuízo do próximo, leio a notícia e sinto uma lágrima a cair-me na cara.
Sou mesmo piegas, lacrimejar por 18 milhões de pares de sapatos baratos, "made in Portugal", na União Europeia.
Ou por ver os senhores governantes e os senhores opositores a acharem que "o mercado a funcionar" pode resolver estas coisas.

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