quarta-feira, 1 de julho de 2015

Dilos, Grécia, no ano 2791 da era das olimpíadas







Epístola aos atenienses no verão do ano 2791 da era das olimpíadas

Saúde para Telémaco, Niarcos, Larissa, Diogenes, Sofia, Alexandre, Ifigénia e todos os amigos.
Escrevo-vos da montanha sagrada de Dilos, contemplo Mikonos, não muito longe, e o pequeno porto de Dilos, enquanto vou imaginando que os antepassados escolheram esta ilha para sede da confederação porque a baía era abrigada do vento norte, apesar da proximidade do rochedo que a separa de Rinia.
A rapidez com que os barcos entrariam no porto, e depois saíam para sul, ao longo do canal estreito, quase sempre com vento forte…
Não existia ainda a alameda dos leões quando os atenienses vieram cá buscar o tesouro.
Que era necessário centralizar a gestão da união, que em Atenas ficava melhor, preparando a defesa contra os persas.
Romperam assim a confederação.
Teriam os dirigentes da democracia nascente ponderado bem o risco da guerra do Peloponeso que se seguiu? Comprometendo a própria democracia submetida à aristocracia segregacionista de Esparta?
Julgar-se-iam superiores aos habitantes das pequenas ilhas? Detentores da sabedoria, da riqueza mercantil e da cultura suméria com os seus juros compostos?
 Orgulhosos porque Atenas tinha 320 mil habitantes, dos quais 150 mil escravos, 90 mil mulheres e crianças e apenas 80 mil cidadãos com direito de voto. Um eleitor por cada quatro habitantes.
Escrevo-vos esta carta também porque neste desgraçado ano o tesouro não está em Atenas.  E quem o guarda, lá onde a Europa se reclina sobre a sua riqueza, parece não ligar muita importância à necessidade de que esse indicador, o número de cidadãos de pleno direito a dividir pelo número total de habitantes, se aproxime o mais possível da unidade. Querem que sejam bem menores os rendimentos daqueles que produzem ou, já velhos, produziram, do que os dos evoluídos decisores e seus colaboradores privilegiados.
Com superioridade dizem: têm de fazer sacrifícios, têm de aceitar o que vos propomos. Têm de reduzir os vossos rendimentos que são superiores aos de outros povos que também fizeram os sacrifícios.
Esquecem esses evoluidos e superiores decisores que esses povos foram vergonhosamente condicionados para isso e que deveriam também ser ajudados a produzir com reconhecimento do justo valor da sua produção, e não a pagar dívidas com mais dívida.
Esquecem, certamente por distração, não por ignorancia simples, que o próprio tratado que regula a sua confederação prevê auxílios comunitários a ilhas (a da Martinica, a da Reunião, por exemplo, colónias francesas em pleno ano 2791...).
No momento em que vos escrevo ninguém sabe qual vai ser o resultado do referendo.
Mecanismo democrático de que os evoluídos decisores têm receio.
Nem eu sei nem devo dizer-vos como será melhor responderem.
Aceitar a submissão temporária e com raiva surda, a pouco e pouco, repor a primazia da declaração universal dos direitos humanos?
Ou não aceitar e assumir já a diferença em relação a esses presumidos decisores, fechando-vos numa economia de moeda paralela ? (a pressa com que o banco central austríaco, há 82 anos, proibiu a moeda de Worgl, com a mesma sanha com que o imperador Teodósio proibiu os jogos olímpicos…) reconstituindo os laços com os sucessores do principado de Vladimir? Retomando a rota da seda e fazendo as pazes com os netos e bisnetos do antigo opressor otomano e do ainda mais antigo inimigo das Termópilas?

Vou esperar aqui em Dilos, no centro da confederação helénica, a vossa decisão.


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