Saúde para Telémaco, Niarcos, Larissa, Diogenes, Sofia, Alexandre, Ifigénia e
todos os amigos.
Escrevo-vos da montanha sagrada de Dilos, contemplo Mikonos, não muito longe, e o pequeno porto de Dilos, enquanto vou
imaginando que os antepassados escolheram esta ilha para sede da confederação
porque a baía era abrigada do vento norte, apesar da proximidade do rochedo que
a separa de Rinia.
A rapidez com que os barcos entrariam no porto, e depois
saíam para sul, ao longo do canal estreito, quase sempre com vento forte…
Não existia ainda a alameda dos leões quando os atenienses vieram
cá buscar o tesouro.
Que era necessário centralizar a gestão da união, que em
Atenas ficava melhor, preparando a defesa contra os persas.
Romperam assim a confederação.
Teriam os dirigentes da democracia nascente ponderado bem o
risco da guerra do Peloponeso que se seguiu? Comprometendo a própria democracia
submetida à aristocracia segregacionista de Esparta?
Julgar-se-iam superiores aos habitantes das pequenas ilhas?
Detentores da sabedoria, da riqueza mercantil e da cultura suméria com os seus
juros compostos?
Orgulhosos porque
Atenas tinha 320 mil habitantes, dos quais 150 mil escravos, 90 mil mulheres e crianças
e apenas 80 mil cidadãos com direito de voto. Um eleitor por cada quatro
habitantes.
Escrevo-vos esta carta também porque neste desgraçado ano o
tesouro não está em Atenas. E quem o guarda,
lá onde a Europa se reclina sobre a sua riqueza, parece não ligar muita importância à necessidade
de que esse indicador, o número de cidadãos de pleno direito a dividir pelo
número total de habitantes, se aproxime o mais possível da unidade. Querem que sejam bem menores os rendimentos daqueles que produzem ou, já velhos, produziram, do que os dos evoluídos decisores e seus colaboradores privilegiados.
Com superioridade dizem: têm de fazer sacrifícios, têm de
aceitar o que vos propomos. Têm de reduzir os vossos rendimentos que são
superiores aos de outros povos que também fizeram os sacrifícios.
Esquecem esses evoluidos e superiores decisores que esses povos foram vergonhosamente condicionados para isso e que deveriam também ser ajudados a produzir com reconhecimento do justo valor da sua produção, e não a pagar dívidas com mais dívida.
Esquecem, certamente por distração, não por ignorancia simples, que o próprio tratado que regula a sua confederação prevê auxílios comunitários a ilhas (a da Martinica, a da Reunião, por exemplo, colónias francesas em pleno ano 2791...).
Esquecem esses evoluidos e superiores decisores que esses povos foram vergonhosamente condicionados para isso e que deveriam também ser ajudados a produzir com reconhecimento do justo valor da sua produção, e não a pagar dívidas com mais dívida.
Esquecem, certamente por distração, não por ignorancia simples, que o próprio tratado que regula a sua confederação prevê auxílios comunitários a ilhas (a da Martinica, a da Reunião, por exemplo, colónias francesas em pleno ano 2791...).
No momento em que vos escrevo ninguém sabe qual vai ser o
resultado do referendo.
Mecanismo democrático de que os evoluídos decisores têm
receio.
Nem eu sei nem devo dizer-vos como será melhor responderem.
Aceitar a submissão temporária e com raiva surda, a pouco e
pouco, repor a primazia da declaração universal dos direitos humanos?
Ou não aceitar e assumir já a diferença em relação a esses
presumidos decisores, fechando-vos numa economia de moeda paralela ? (a pressa
com que o banco central austríaco, há 82 anos, proibiu a moeda de Worgl, com a
mesma sanha com que o imperador Teodósio proibiu os jogos olímpicos…)
reconstituindo os laços com os sucessores do principado de Vladimir? Retomando a
rota da seda e fazendo as pazes com os netos e bisnetos do antigo opressor otomano e do ainda mais antigo inimigo das Termópilas?
Vou esperar aqui em Dilos, no centro da confederação helénica,
a vossa decisão.
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