Mas gostaria de escrever qualquer coisa sobre o descarrilamento da Adémia.
A minha experiencia ferroviária limitou-se ao metropolitano mas fiz tambem alguns trabalhos no ambito mais vasto da análise de riscos. Nessa perspetiva, considero muito grave o descarrilamento da Adémia que associo a um risco classificável segundo a norma 50126 como intolerável, dada a probabilidade não nula de presençade um comboio de passageiros na via contrária à do acidente.
Felizmente não aconteceu, mas se um comboio de passageiros tivesse partido de Coimbra B pouco antes do descarrilamento, não teria espaço para parar, apesar da ocupação dos circuitos de via e da destruição das catenárias pelo descarrilamento. Distância do local do acidente a Coimbra B: 3,9 km.
Por não ter esperança que a CP, a IP/REFER, o GISAF (agora GPIAAF) ou a Transfesa/DB Schenker prestem a curto prazo informação consistente sobre as circunstancias e causas do acidente (consultados os respetivos sites em 3 de abril à tarde, são omissos sobre pistas de investigação, em postura diametralmente oposta à cultura anglo-saxónica perante acidentes), formulo aqui deduções e hipóteses que podem não corresponder à realidade, pedindo aos colegas que possuam informações que as corrijam.
Aparentemente o comboio terá saído da fábrica de cimentode Souselas com vagões da Transfesa/DB Schenker com cinzas (ou cimento?) com destino a Sines. A ligação à linha do norte é feita por uma agulha de talão a 3,2 km do local do acidente. Ponho a hipótese de uma deficiência num dos vagões ou na agulha (rodados fora das especificações geométricas de projeto ou de homologação, nomeadamente diâmetro ou conicidade; gripagem dos pivots), ou numa segunda agulha, esta de ponta e a 3 km do local do acidente (é possível uma peça suspensa encaixar num componente de uma agulha de ponta e descarrilar um rodado). A hipótese é também a do vagão parcialmente descarrilado ter sido arrastado e tombado na ligeira curva para a direita imediatamente antes do local do acidente. Seguiu-se o "harmónio" dos outros vagões ocupando ambas as vias . A locomotiva não terá descarrilado. A assinalar ainda dois pequenos viadutos, provavelmente com aparelhos de dilatação, a 1,3 km e a 3,05 km a montante do local do acidente.
Neste caso, as ligações desativadas Figueira da Foz-Pampilhosa ou Covilhã-Guarda não constituem percursos alternativos para este tipo de serviço que terá sempre de utilizar um troço da linha do norte.
Isto põe a questão da saturação da linha do norte (pendolinos, intercidades, regionais, mercadorias, manutenção) que, por si só e do meu ponto de vista, justificaria uma linha nova dimensionada para 350km/h (não necessariamente para ser explorada com esta velocidade) dedicada a passageiros para substituir parcialmente o tráfego aéreo Lisboa-Porto, mais ineficiente energeticamente. Mas enfim, não há dinheiro (notícia de hoje do DN: os contribuintes portugueses já contribuiram com 13 mil milhões de euros para resgate de bancos (apesar de 6 mil milhões do resgate europeu não terem sido utilizados).
Uma palavra ainda de confiança no valor e na experiência dos colegas da manutenção da REFER e no seu compromisso com a segurança apesar de todos os constrangimentos.
Aguardam-se esclarecimentos que não sejam par a "plateia ver", da CP.IP/REFER, GPIAAF, Transfesa/DB Schenker.
http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/descarrilamento/linha-do-norte-cortada-por-tempo-indeterminado
sentido de deslocamento para a direita; efeito harmónio |
agulha de ponta a 3 km, a verificar se tem vestígios de toque |
local do descarrilamento, à saída de curva ligeira |
outra foto do mesmo rodado |
percurso de 3,2 km do ramal da fábrica de Souselas ao local do acidente |
trabalhos de remoção dos vagões cisterna (80 ton?) com grua mais potente; noto que infelizmente o trabalhador na foto não usa capacete de segurança, apesar de manipular as correntes de suspensão |
Entretanto, amáveis comentadores observaram que o troço do acidente tem a via por modernizar (apesar das travessas serem bibloco). Falta ainda modernizar cerca de 30% da linha do norte, tarefa cara e dificil dado o seu tráfego intenso: Ovar-Gaia, Entroncamento-Santarem e CoimbraB-Pampilhosa. Faz de facto muita falta uma linha nova. O troço do acidente tinha limitações de velocidade dado o estado da via. Admite-se assim que um problema de via, por exemplo balastro em falta, fadiga da via ou combinação com uma deficiencia de um vagão deu em acidente. Uma palavra para o esforço de quem está a trabalhar na reparação.
Informação no site do GISAF: última investigação em curso - Descarrilamento do comboio de passageiros IR 868 na estação da Livração, na linha do Douro, em 15-01-2017, processo aberto em 27 de fevereiro. Escrevo isto como protesto pela privação de meios imposta ao GISAF.
Do site da Transfesa, última notícia - Transfesa lançou uma nova web em 30-4-2015. Como se diz num programa da Euronews, "no comments".
PS em 10 de abril - segundo informação do GISAF, agora GPIAAF, de 7 de abril, foi aberta investigação ao descarrilamento de 1 de abril. É dad a informação de que o comboio circulava dentro dos limites de velocidade, e que a operadora é a Medway. Última notícia no site da Medway:01 de fevereiro 2017MEDWAY GANHA CONTRATO COM A ALB
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