segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Como é diferente o amor em Portugal

 O ator que representava um dos cardeais de Julio Dantas dizia-o com enlevo, "Como é diferente o amor em Portugal"... e suspendia-se até o público irromper em aplausos.

Era um ritual de integração do grupo dos portugueses, nesta periferia da Europa, de compensação da sua insegurança e da sua inferioridade, como se diz agora, "somos os melhores".

Lembrei-me disto porque há uns dias li no Euractiv, que é uma newsletter mais ou menos ligada à Comissão Europeia, a notícia de que até ao fim do mês a Bruxelles Mobilité recebia sugestões para o novo nome a dar ao tunel em renovação em Bruxelas anteriormente chamado Leopoldo, o rei colonialista.

Achei interessante a ideia, dar um novo nome, que terá de ser uma mulher. E resolvi enviar duas sugestões. Mas o formulário da Bruxelles Mobilité só aceitava sugestões de bruxellois, habitantes de Bruxelas. 

De modo que resolvi enviar as minhas duas sugestões, Hildegard von Bigen, compositora e cientista do século XII, ou Margaretha von Waldeck, a mais conhecida por Branca de Neve, pela sua defesa das crianças que trabalhavam nas minas do senhor feudal seu pai (os anões da Branca de Neve não eram anões, eram crianças).

Enviei o email para a Bruxelles Mobilité e achei natural ter recebido imediatamente o email automático acusando a receção do email, com a promessa de que brevemente iriam analisar o pedido.

Aliás, é o que acontece quando envio propostas ou sugestões à câmara de Lisboa, como a propósito do plano de expansão do metro, ou dos cuidados a ter nas obras da estação fluvial do sul e sueste.

Só que dois dias depois recebo novo email, agradecendo muito as sugestões que irão ser consideradas. Não havia necessidade nenhuma de mandar este segundo email, até porque a probabilidade de ser escolhido um dos nomes propostos é extremamente reduzida (talvez Marie Curie, ou Hipatia de Alexandria, ou Isabel da Baviera, ou Louise Michel da Comuna de Paris)  que agradeço muito mas que a prática a que estou habituado me leva a estranhar. 

E que me leva também a dizer, como é diferente a consideração que se tem pelos cidadãos em Portugal.

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