Teve muito interesse o congresso.
Destaco a entrevista de José António Barros a Frederico Francisco. Dum lado a preocupação que partilho, quando são precisos 10 anos para inaugurar uma linha nova, de dar condições ao crescimento das exportações para além de Espanha e do outro a jovem coordenação dum PFN (a propósito, o PFN não está em consulta pública nem no "participa" nem no "consulta lex") coerentemente académico e espartilhado pelas baias imposta pelos políticos (gostei da frase de que se estalassemos os dedos e tivessemos a. bitola UIC para a Europa seria o ideal; podiamos analisar os métodos de aproximação do ideal).
Também foi muito útil a divulgação do programa de desenvolvimento do STM e fornecimento do ERTMS embarcado, pareceu-me que de execução em 2 anos. Eu preferiria pura e simplesmente toda a substituição do CONVEL, mas aqui interessa ver que há vários problemas de interoperabilidade, e um deles é o ERTMS e foi encontrada uma solução a 2 anos (espero). Noto a desigualdade de tratamento para o problema da bitola, travessas polivalentes não são uma solução, são uma promessa, especialmente num país em que o provisório é definitivo e quanto a eixos variáveis, ainda estamos à espera de locomotivas de 90 toneladas (não automotoras).
Muito interessante a condução do debate pelo advogado Taborda da Gama, que nos desarmou a todos com os 15.000 km de interrail e o catálogo de viagens de 1993. Pena não se ter falado na inconsistencia da fusão autoestradas-ferrovia, mas não estou a propor a reversão, apenas que, como o representante da Mota Engil disse, devemos reconhecer o fracasso da politica ferroviária nos ultimos 30 anos como condição para deixar de ser fracasso. E o Congresso nesse sentido foi no bom caminho.
Muito curiosa a ingenuidade da pergunta do jovem ao presidente do Metro, sobre a 5ªlinha (expressão que se deve ao ex presidente da CML Medina) numa altura em que o metro se prepara para passar de 4 para 3,5 linhas. Como costuma fazer o senhor presidente quando a resposta pode ser inconveniente, desviou o assunto, mas devia considerar que se já mandou os colegas da ex Ferconsult estudar o prolongamento de Telheiras para Benfica não deveria repetir o secretismo de projetos de expansão anteriores recheados de erros de traçado do ponto de vista da operação e da manutenção, além de que há diretivas europeias claras sobre o estudo de expansões , vulgo SUMPs, que obviamente devem ir a consulta pública.
Voltando ao problema das exportações (quantas vezes têm os operadores rodoviários de dizer que a ferrovia não é alternativa; para quando um plano de desenvolvimento das autoestradas ferroviárias com transporte de semirreboques no comboio?) é necessário corrigir uma informação dada no âmbito das exportações e que é crucial para a defesa da bitola UIC de Sines à Alemanha (o corredor Atlântico do regulamento 1315 desprezado ostensivamente por quem defende exclusividade da bitola ibérica) e, muito importante, para a atratividade de investimento estrangeiro.
Foi dito, se bem entendi, que 82% das exportações por modo rodoviário vão para Espanha e que 18% seriam para o resto da Europa.
Consultando o INE: Portal do INE
- temos que em 2021 foram exportadas para Espanha por camião 10,430 milhões de toneladas que representam 77,1% (admito que por outro método de cálculo ou indo a outro ano sejam 82%) de todas as exportações por todos os modos para Espanha ou 13,528 Mton (por ferrovia foram 0,131 Mton, o que revela o "fracasso" da ferrovia, apesar do excelente comportamento da Medway e Takargo/Captrain; isto é, não basta cumprir a diretiva comunitária de duplicar o tráfego até 2030)
- e ainda que em 2021 foram exportadas para o resto da União Europeia por camião 5,555 milhões de toneladas que representam 49,7% ( e não 18%) de todas as exportações por todos os modos para Espanha ou 11,180 Mton ( por ferrovia 0,030 Mton).
- em valor a posição relativa inverte-se, exportou-se mais para além de Espanha (e só considerei a UE) do que para Espanha, o que contraria a ideia do pensamento oficial de que basta cingirmo-nos a Espanha. Não, o nosso negócio está para além dos Pirineus, não assassinemos a memória de David Ricardo. Terá de se coordenar com a Comissão Europeia, França e Espanha (para que servem as cimeiras?) o corredor de mercadorias em bitola UIC até Vitoria (ligada a curto prazo em bitola UIC a França), e não em bitola ibérica por Puertollano. Ver o esquema em anexo. O PIB da Extremadura é pequenissimo, o de Portugal é pequeno, compare-se com o da Catalunha, Valencia/Murcia, Pais Basco, Cantabria/Leon/Asturias (já lá têm também a bitola UIC para mercadorias no túnel dePajares). Esta política ferroviária vai aumentar a diferença nos PIBs, não se tenha muita fé nos portos, eles têm uma tendência para a especialização e para a saturação.
Por outras palavras, por mais que se desenvolva a tecnologia dos eixos variáveis, não é expetável que operadores europeus com frotas de bitola UIC invistam em material circulante de eixos variáveis para vir a Sines, pelo que a Península Ibérica se constitui , para o tráfego de mercadorias, como um mercado preferencial para os operadores ibéricos (Medway do grupo MSC e Takargo/Captrain do grupo SNCF).
Curiosamente, é o que parece que o governo finlandês, tão cioso das regras económicas da UE, pretende para seu país, ao reagir negativamente às propostas de revisão dos regulamentos no sentido de fazer as linhas novas de raíz em bitola UIC.
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