terça-feira, 28 de outubro de 2014

Agora, crónicas de um metropolitano

Agora, que vivemos sob o ímpeto desmantelador do conceito do metropolitano como serviço público prestado por um operador público, e menosprezador dos seus ativos humanos, físicos e intangíveis, faço esta reflexão a propósito do livro “Crónicas de um metropolitano”, de Fernando Antela Saraiva, ed. Chiado Editora.
O livro reúne algumas crónicas já incluídas neste blogue sobre alguns aspetos da vida e das problemáticas no metropolitano de Lisboa entre 1974 e 2010 ,período em que o autor destas linhas prestou serviço na empresa.
Tive muito prazer em ver muitos amigos e amigas, netos e sobrinhos, antigos colegas de curso e de trabalho na sessão de lançamento no dia 26 de outubro de 2014.
Talvez ingenuamente e imodestamente, gostaria que este livro fosse como a canção de intervenção, que é precisamente a primeira história que no livro se conta, isto é, que fosse um livro de intervenção, que incomodasse os decisores políticos e os decisores empresariais que, parafraseando Duna Guedes, “não sabem nada de metropolitanos”.
Existe neste momento uma angustia entre os trabalhadores do metropolitano pela incerteza do futuro e pelo menosprezo com que são tratados.
Não é assim que se mobilizam e se motivam os trabalhadores para se atingirem objetivos.
Não é insistindo na sanha de redução de quadros de pessoal, é contando com as pessoas e as suas capacidades.
Não é  sobrecarregando a segurança social com as pessoas no desemprego que se relança a economia do país.
O metro pode e deve colaborar nesse relançamento, desde o desenvolvimento dos serviços de engenharia como os que se prestam aos metros de Argel e de S.Paulo, até à aplicação de fundos comunitários na melhoria da mobilidade urbana e da eficiencia energética através da substituição de deslocações em transporte individual.
Foi disponibilizada aos decisores políticos informação sobre a razoabilidade dos indicadores do metro quando comparado com os homólogos estrangeiros, sobre a natureza pública da dívida que não da empresa, sobre os resultados negativos das privatizações em Londres, sobre as medidas de financiamento em França como o “versement transport”, sobre as medidas de penalização do acesso do transporte individual ao centro das grandes cidades como Londres e Estocolmo, e sobre a insustentabilidade e desperdício energético por ser de 60% a quota do transporte individual nas deslocações diárias metropolitanas.
Mas os decisores insistem.
Têm legitimidade para o fazer porque ganharam eleições, embora enganando eleitores durante a campanha eleitoral.
Nós temos o direito constitucional de livre expressão para afirmar, por “saber de experiência feito”, que eles destroem o que outros construíram porque são incapazes de construir.

É principalmente o que tentei dizer com o livro.

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