Email enviado a todos os grupos parlamentares da Assembleia da República em 20 de janeiro de 2015.
Acusada a receção apenas pelo grupo parlamentar do PCP em 22 de janeiro informando a sua retransmissão ao deputado encarregado da problemática dos transportes:
São graves os inconvenientes para a economia portuguesa da
inexistência de ligações ferroviárias à Europa em bitola europeia, decorrendo
até 26 de fevereiro p.f. o prazo de apresentação de candidaturas para
beneficiar de fundos comunitários no âmbito do programa europeu CEF -
Connecting Europe Facility (redes de transportes).
Atempadamente (outubro de 2013) foi divulgado pela comissão
europeia que seriam disponibilizados fundos comunitários, que poderiam atingir
85% a fundo perdido, para investimento, nomeadamente nos corredores
ferroviários de ligação à Europa, de que o atlântico, Lisboa-França, detinha a
3ª prioridade em 30.
No programa CEF estão alocados numa primeira fase 11,9 mil
milhões de euros, como seed-capital (capital semente), considerando-se as
ligações ferroviárias Lisboa-Caia-Madrid-Irun e Aveiro-Salamanca.
Para além deste programa, o presidente da comissão europeia
Juncker propôs um plano para 3 anos de investimento para a Europa com uma
garantia de 21 mil milhões de euros (16 mil milhões para investimentos de longo
prazo, mais 5 mil milhões para PME) a induzir investimentos de 315 mil milhões.
Há ainda o novo QREN para 2014-2020 (Horizonte 2020), dotado com
25 mil milhões de euros, incluindo agricultura e pescas.
A orientação do governo, no entanto, é no sentido de que o país
já tem infraestruturas demais.
Não parece ser verdade a fundamentação do governo, não obstante
constar que foi enviada a Bruxelas, para o plano de Juncker, a lista
de investimentos do GT-IEVA (grupo de trabalho para investimentos de elevado
valor acrescentado, em que parte significativa são investimentos específicos da
conta da respetiva empresa), num montante de 16 mil milhões de euros.
A mensagem que sistematicamente é divulgada através da
comunicação social é a de que no QREN de 2007-2013 o país desperdiçou os fundos
comunitários em infraestruturas de reduzida utilização, nomeadamente
autoestradas.
Justificam assim a anunciada aplicação dos fundos do programa
para 2014-2020 na "inovação e competitividade das empresas".
No entanto, de acordo com Marvão Pereira, em "Os
investimentos públicos em Portugal", ed. Fundação Francisco Manuel dos
Santos, entre 2000 e 2009 os investimentos públicos em infraestruturas foram em
média anual 4,52% do PIB, repartindo-se por:
- infraestruturas rodoviárias convencionais
............................................ 20,16%
- ferroviárias
............................................................................................
12,37%
- autoestradas
........................................................................................ 13,15%
- portos e aeroportos ................................................................................ 2,58%
- infraestruturas de saúde
..........................................................................
5,83%
- de educação .............................................................................................
5,21%
- de telecomunicações ..............................................................................16,19%
- básicas (refinarias, redes de gás, eletricidade, águas e residuos.............24,51%
Isto é, gastou-se mais em infraestruturas de telecomunicações do
que em autoestradas (a preços atuais, sem contar com os custos financeiros
posteriores das PPP, elimináveis se se amortizassem as dívidas pelo valor da
obra).
Por outro lado, de acordo com o boletim governamental de
monitorização dos fundos QREN 2007-2013 de setembro de 2014, a execução, por
grande tema, foi:
- potencial
humano................................ 47%,
- fatores de
competitividade ..................25%,
- valorização
territorial ...........................28%.
Sendo que na repartição das verbas para o potencial humano se
incluem:
- 24% para a rede escolar
- 27% para
qualificação de jovens
- 20% para qualificação de adultos
Para os fatores de competitividade foram:
- 62% para inovação e renovação empresarial
Para a valorização territorial:
- 34% para a
mobilidade (ferrovia Sines-Caia, metro do Porto, CRIL
Buraca-Pontinha, autoestrada transmontana)
- 26% para ambiente e águas urbanas
- 18% para cidades
- 14% para
equipamentos sociais, cultura e lazer
Isto é, a aplicação dos fundos em infraestruturas foi
minoritária, ao contrário do que a propaganda oficial quer fazer crer.
Receia-se assim que Portugal perca a oportunidade, por
ultrapassagem do prazo de 26 de fevereiro de 2015, de desenvolver as ligações
ferroviárias em bitola europeia para passageiros e mercadorias
Lisboa/Sines-Poceirão-Caia-Irun e Aveiro-Salamanca (exigindo esta ligação uma
linha quase toda nova), ampliação das infraestruturas portuárias de Aveiro e Lisboa
(se não construido o terminal de contentores a jusante da Cova do Vapor, pelo
menos executar o fecho da Golada), o reforço das interligações de linhas de
transmissão com Espanha, a ligação em muito alta tensão de corrente continua à
rede elétrica francesa, a construção de barragens com bombagem (potencial
de 5 GW) para absorção do excesso de produção eólica, desenvolvimento de frotas
de veículos elétricos rodoviários alimentação por baterias ou por hidrogénio
produzido descentralizadamente a partir da energia eólica, reabilitação urbana
com isolamento térmico e emparcelamento, proteção florestal e desenvolvimento
de centrais de biomassa e de resíduos urbanos, desenvolvimento da aquacultura,
etc, etc. (no caso do metropolitano de Lisboa, relembram-se as dificuldades
burocráticas que têm impedido a alocação de verbas para conclusão da estação
Reboleira de correspondência com a CP, da ampliação das estações de Areeiro e
de Arroios, e da adaptação das principais estações a pessoas com mobilidade
reduzida).
A ultrapassagem do prazo de 26 de fevereiro poderá ser uma
oportunidade perdida, com Espanha a resolver os seus problemas, nomeadamente
ferrovia e portos, sem coordenação com a parte portuguesa.
Como escreveu Daniel Gros, diretor no Centro de Estudos
Politicos Europeu, "A razão pela qual ainda não
existe uma boa interligação entre as redes de energia espanhola e francesa não
é a falta de financiamento, mas a falta de vontade dos monopólios de ambos os
lados da fronteira de abrir os seus mercados. Muitos projetos ferroviários e rodoviários também avançam lentamente,
devido à oposição local e não à falta de financiamento. Estas são as
verdadeiras barreiras ao investimento em infraestruturas na Europa."
É interessante comparar o discurso do governo com o discurso do
presidente da CE, Juncker:
«A minha primeira prioridade como Presidente da Comissão será
reforçar a competitividade da
Europa e estimular o investimento para a criação de emprego. Precisamos de um investimento mais inteligente e, aquando da
utilização dos fundos públicos [disponíveis a nível da UE], de mais precisão, menos legislação
e mais flexibilidade.
Se assim atuarmos poderemos mobilizar até 300 mil milhões de
EUR de investimento público e privado adicional na economia real nos próximos
três anos. Estes investimentos
suplementares devem centrar-se nas infraestruturas, nomeadamente nas redes de
banda larga e redes de energia, bem como nas infraestruturas de transporte em
centros industriais; na educação, investigação e inovação; nas energias renováveis
e na eficiência energética. É conveniente afetar recursos significativos a
projetos suscetíveis de ajudar os jovens a voltarem a encontrar empregos.»
(Orientações políticas de Jean-Claude Juncker, Presidente da
Comissão Europeia, apresentadas ao Parlamento Europeu em 15 de julho de 2014).
Considerando que a opinião pública não se
encontra devidamente informada sobre as ações do governo para submissão de
projetos a candidatar aos fundos comunitários disponíveis, julgo do maior
interesse o debate deste assunto no Parlamento.
Com os melhores cumprimentos,
... ... ... ... ... ... ... ... ...
mais informação em:
http://1drv.ms/1ue6zBE
PS - Foi também recebido um email do grupo parlamentar do CDS assegurando que o XIX governo estava a desenvolver atividade neste sentido, o que parece não ter dado grande resultado
PS - Foi também recebido um email do grupo parlamentar do CDS assegurando que o XIX governo estava a desenvolver atividade neste sentido, o que parece não ter dado grande resultado
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