O relatório da Oxfam de 2014 é claro: a diferença entre os ricos e os pobres aumenta a uma velocidade excessiva.
80 pessoas detêm a mesma riqueza de outras 3500 milhões de pessoas.
Vendo de outra forma, 1% da população, os mais ricos, cerca de 70 milhões de pessoas, têm 48% da riqueza mundial, isto é, quase metade desta.
Analisando a evolução dos ultimos 3 anos, tem-se para o numero de pessoas com a riqueza de metade da população mundial:
2009.............. 388
2013.............. 85
2014.............. 80
E para a percentagem de riqueza mundial detida pelos 1% mais ricos:
2009............. 44%
2014............. 48%
Os dados indicam portanto que a desigualdade aumenta.
Dirão os adeptos das ideias de Haiek, Friedman, Thatcher e Reagan, do pensamento dominante dos decisores da união europeia, que possivelmente se estará numa parte descendente de uma curva sinusoidal, e que a desigualdade diminuirá mesmo que não se faça nada.
Tambem poderão dizer, como reação às medidas de quantitative easing de Mario Draghi, em janeiro de 2015 (BCE e bancos centrais nacionais podem comprar no mercado secundário dívida pública) que continuam por realizar reformas estruturais (penso que o que querem dizer é a contínua desvalorização do fator trabalho para o fator capital poder crescer), e que enquanto elas não se realizarem as medidas de austeridade não darão efeito.
É uma espécie de retórica escolástica, encontrar sempre uma desculpa quando os dados dizem o contrário. Prometer a quem trabalha (os falhados, como dizia Thatcher, incapazes de criar os próprios negócios) reduzir os seus rendimentos para que o custo de vida baixe e assim haver crescimento (como, se só há crescimento se houver investimento e só há investimento se houver remuneração do capital investido?) .
Neste blogue já se contou a história do simpático contramestre da manutenção das máquinas de bilhetes do metropolitano de Lisboa que, há muitos anos, dizia em todas as conversas que o que o metropolitano precisava era de uma reestruturação.
Qualquer coisa que iluda as pessoas e que nunca se atinja.
Ou que, quando se atingir, volte a ser preciso outra reestruturação.
O aumento da desigualdade reflete um fenómeno físico num sistema abandonado a si próprio, sem correção das forças dominantes. Os elementos de maior rendimento de funcionamento, precisamente por isso, tendem a aumentar a distancia dos elementos de menor rendimento. É a lei de Fermat-Weber.
Os dados mostram isso. É o que está registado no livro O espírito da igualdade, de R,Wilkinson e K.Pickett, ed.Presença, e recentemente, com mais impacto mediático, O capital no século XXI, de Thomas Piketty, ed.Temas e Debates, com a evidencia de que a desigualdade aumenta porque o rendimento dos elementos financeiros, o crescimento do capital, é superior ao rendimento do sistema produtivo de bens úteis, ao crescimento do PIB.
Mas não era preciso a evidencia cientifica do tratamento dos dados.
Vê-se, a desigualdade, basta ver as dificuldades de quem está desempregado e a quantidade de matrículas novas de Mercedes, Audi e BMW. Basta ver a obscenidade dos anuncios na televisão de automóveis de 40.000 euros ou mais, logo a seguir a programas em que os comentadores repetem que não há dinheiro porque os portugueses viveram acima das suas possibilidades.
Por tudo isto, não tenho a mínima confiança nos senhores economistas que nos governaram e governam e que nos conduziram aqui. A esta desigualdade crescente, depois de durante anos e anos (muito antes da crise de 2008), nos mentirem a todos garantindo que as desigualdades diminuiam.
Mentiram, e não foi por causa da crise de 2008 que as desigualdades cresceram.
Nem são suficientes as medidas de Mario Draghi, que nem sequer igualam o poder de intervenção da reserva federal americana.
Não é de reformas estruturais que a Europa e os paises endividados precisam. Já dizia Chandler, "structure follows strategie". E a estratégia tem de ser o cumprimento da declaração universal dos direitos humanos, centrada no emprego e na dignidade da vida.
Não nos negócios dos mercados primários e secundários dos bancos, nas decisões de assembleias de acionistas que não respeitam o princípio uma voz um voto, no sigilo bancário e respetivos off-shores... nos mecanismos formais de democracias que permitem governantes como os que temos.
PS em 28 de janeiro - Um pequeno esclarecimento referente à lei de Fermat-Weber. Quando digo que o sitema está abandonado a si prórpio não quero dizer que ele está isolado de influências externas. Se estivesse isolado a lei da entropia máxima conduziria a um estado caótico em que a distribuição seria mais ou menos uniforme. Refiro-me antes a um sistema em que se permite que os elementos dominantes possam introduzir no sistema forças que os mais fracos não têm, agravando progressivamente as desigualdades. Por alguma razão os excedentes comerciais da Alemanha igualam os defices comerciais dos paises do sul da Europa.
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