segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O choque de civilizações de Samuel Huntington

Penso que a designação "choque de civilizações" é um pouco forçada, típica da perspetiva egocêntrica norte-americana. 
A minha professora de história e filosofia separava muito bem os conceitos de civilização e de cultura. 
Desenvolveu-se de facto uma ideologia e uma cultura wahabita de retrocesso medieval e aos tempos biblicos de "olho por olho, dente por dente". Por sinal patrocinada atualmente pela Arabia Saudita, que pela sua aliança com os USA representa um papel dominante nisto tudo, desde o preço do petróleo à geo-estratégia do médio oriente.
Em termos práticos, o choque de culturas manifesta-se ao nivel das pessoas nos atentados terroristas. 
Mas aqui penso que é necessário o estudo caso a caso dos intervenientes. 
O melhor exemplo para mim é o livro de Haruki Murakami, Underground (existe uma edição em português  da Tinta da China) em que ele entrevista autores e vitimas do atentado no metro de Toquio. 
É necessário estudar bem as circunstancias e as causa em cada atentado, a exemplo do que se deve fazer nos acidentes de transportes. 
No caso de Paris parece clara a influencia da cultura  das periferias de Paris e as circunstancias de dificil emprego dos jovens das comunidades imigradas. 
No caso de Toquio a doença dos autores era uma crença numa seita religiosa de derivação cristã, não quaisquer dificuldades económicas, antes desadaptação social e fragilidade psicótica. 
Mas claro que os comportamentos desviantes de pessoas originárias de culturas islamicas estão a ser mais mediáticos (não esquecer o "cristão" Breivik que assassinou 72 jovens na muito civilizada Noruega), desde as mortes por telecomando de crianças armadilhadas na Nigéria até às chicotadas em publico na Arabia Saudita do blogger Raif Badawi (https://www.facebook.com/pages/Free-Saudi-Liberals-%D8%A7%D9%84%D9%84%D9%8A%D8%A8%D8%B1%D8%A7%D9%84%D9%8A%D9%88%D9%86-%D8%A7%D9%84%D8%B3%D8%B9%D9%88%D8%AF%D9%8A%D9%88%D9%86-%D9%85%D8%AC%D8%A7%D9%86%D8%A7/435007313283066). 
Por suprema hipocrisia, o ministro dos negócios estrangeiros da Arabia Saudita esteve na manifestação de Paris.
Cito a historiadora marroquina Hanane Harrath numa excelente reportagem do DN: "os responsáveis muçulmanos não podem manter por mais tempo o fosso que é defender a modernidade tecnológica sem modernidade intelectual. O desafio que enfrentam é o de dessacralizar crenças e dogmas. O nosso drama é que todos os dias eles impedem isso".  
E um anónimo ativista saudita: "a liberdade de expressão nunca existiu no meu país. É hipocrisia as autoridades terem condenado o ataque em Paris, mas também são hipócritas os lideres mundiais que se manifestam em defesa da liberdade de expressão e continuam aliados da Arábia saudita. Não é principalmente a defesa da liberdade que juntou todas estas personalidades e sim o ponto comum, a condenação do terrorismo".
Dificil, resolver isto tudo, mas existem os padrões e os mecanismos. 
Existe uma ONU, uma declaração universal dos direitos humanos, uma UNESCO e a possibilidade de alguns governos e algumas organizações não governamentais funcionarem como mediadores. 
Foi assim que se resolveu (penso) o conflito na Irlanda do norte e no pais basco. 
Existem tambem ferramentas de analise económica que já demonstraram a necessidade de alterar algumas regras (comércio de armas, de droga, regulação de mercados e de off-shores, controle da corrupção dos governos dos paises menos desenvolvidos...) e de reduzir as desigualdades sociais em todos os países (ver http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2014/10/os-congressos-das-elites-e-o-que-as.html e os livros fundamentados em análise de dados:  O capital no século XXI de Thomas Piketty, ed.Temas e Debates, A riqueza oculta das nações de Gabriel Zucman, ed Temas e Debates, e O espírito da igualdade  de R.Wilkinson e K.Pickett, ed.Presença).

Pena a comunicação social, essencial para defender a liberdade de expressão que desempenha um papel importante na solução, ajudar a ocultar factos para não prejudicar os interesses de grandes companhias(volto ao exemplo das ligações com a Arabia Saudita, mas o problema é mais geral, claro).
Veremos a evolução disto tudo, mas convem ir falando disto, no meio de opiniões mais e  menos controversas.

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