O velho rabugento sou eu.
E o desabafo é o costume, o de um velho a pensar que no tempo dele é que era bom e a arriscar-se a dizer disparates porque não tem conhecimento de todos os dados de um problema atual.
Ou talvez não seja bem assim.
Estou a falar de uma questão tecnológica. E nas tecnologias deverá respeitar-se o princípio de que a nova deve fazer o mesmo que a velha e mais coisas, com os mesmos ou menos meios.
Mas vamos ao concreto, sendo o concreto o ir ao aeroporto e embarcar num avião.
Dantes, antes de haver bilhetes eletrónicos e check-in pela internet, eu chegava ao aeroporto com a minha bagagem e ia para a fila do balcão do check-in aguardando a minha vez. Fila a fila, elas têm atualmente sensivelmente, o mesmo volume. Só que são muitas mais agora, o volume de passageiros quase duplicou, mas a carga por balcão é semelhante.
Então, antigamente, eu entregava a minha bagagem a uma simpática funcionária (ou funcionário) no balcão e ía para o portão de embarque.
Hoje, já com check-in feito pela internet mas precisando de entregar a bagagem, chega-se ao aeroporto da Portela e pensa-se "estão outra vez em obras, quando acabarão?" (o grave é que para os gestores isto é um elogio porque mostra o interesse em dar mais facilidades aos passageiros; msa para um velho rabugento significa a fragilidade de uma infraestrutura que não tem capacidade para o tráfego que lhe é imposto). Depois a pessoa dirige-se para o balcão de check-in enquanto outros passageiros, que não "beneficiaram" do check-in pela internet são abordados por simpáticas funcionárias (que não existiam no tempo em que eu viajava) para fazerem o check-in das máquinas respetivas espalhadas pelo aeroporto (que não existiam no tempo em que eu viajava). Dado que as máquinas foramfeitas por informáticos, é a simpática funcionária que tem de fazer o dito check-in, nao o passageiro não frequente (são úteis as máquinas?). Voltando à pessoa com o check-in pela internet, verifica-se que é também abordada por outra simpática funcionária, que verifica previamente as condições de acesso à fila do balcão do check-in. e elas são mesmo necessárias porque até aparecem passageiros com bilhetes e check-ins em smartphones que mostram alegremente às simpáticas funcionárias (que não existiam no tempo em que eu viajava, nem elas nem os smartphones - deuses, como era possível viajar-se sem smartphones...).
Claro que os gestores do aeroporto dirão que é um atendimento personalizado que mostra consideração pelo cliente. Porém, para um velho rabugento, é apenas e tão somente, uma baixa de produtividade, um fazer o mesmo com mais recursos (o que no entanto tem a vantagem de proporcionar algum rendimento às simpáticas funcionárias). Além de que os velhos rabugentos estão sempre a lembrar-se da anedota da velhinha que não queria ser ajudada a atravessar a avenida e não gostam de ser ajudados a ir para a fila do balcão, preferem ir sozinhos.
Mas devo confessar que só me lembrei de escrever este desabafo depois de levantar os olhos e dar com um "patchwork" na parede por cima dos balcões de check-in.
Bonito, sem dúvida, muito apelativo para os turistas que descem à reserva dos selvagens (Aldous Huxley em Admirável mundo novo, José Cardoso Pires em O anjo ancorado) para ver o seu artesanato.
Mas que para um velho rabugento é apenas a incompetência da gestão das coisas públicas por incapacidade de planeamento - fazemse as coisas por remendo, a pouco e pouco, por decisões isoladas de um plano consistente e integrado de ações de crescimento.
Que aborrecimento, ser rabugento.
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