http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/lisboa/taxa-turistica-vai-financiar-conclusao-do-palacio-nacional-da-ajuda
http://expresso.sapo.pt/sociedade/2016-09-19-Palacio-da-Ajuda-vai-ser-concluido-222-anos-depois-do-inicio-das-obras
Hoje vou ser desagradável.
Por um lado, 4 milhões de euros da indemnização do roubo de joias numa exposição na Europa do norte em 2002 e 7 milhões de euros provenientes da taxa turística da CML permitem a conclusão do palácio (fachada poente).
Mas por outro, o procedimento das altas instâncias deixa-me indignado. Além de que é questionável o montante reduzido da indemnização pelo roubo da joias, só possível por negligencia da organização da exposição, num país de tanta produtividade e competitividade. Parecerá que mais do que isso seria a indemnização por danos morais.
Choca-me ver tantas pessoas importantes com um ar tão satisfeito e tão auto-suficiente quando apresentam um projeto de arquitetura duvidoso (linhas verticais semelhantes aos edificios da sede da CGD e da EDP, torreões de uma só janela, tratamento insuficiente da calçada da Ajuda). Mas a apreciação de um projeto de arquitetura é sempre subjetiva, o que choca e cai no domínio do inadmissível é que tantas senhoras e senhores importantes estão a validar um ato objetivamente duvidoso, o ajuste direto, a encomenda de um projeto de arquitetura sem concurso público.
E sorriem e discursam contentes, sem tomarem consciencia da inconformidade do procedimento. Este vício provinciano do auto contentamento, de incensar artistas sem cuidar se serão ou não como Florence Jenkins (e se as elites portuguesas forem como Florence Jenkins? convencidas que são muito boas sem terem consciencia das suas limitações? isso explicaria muito do estado do país...), de resolver as coisas em secretismo (por exemplo, o tratamento da calçada da Ajuda implicaria o desvio da linha de elétrico, eventualmente para, ou sob os terrenos adjacentes, mas isso requereria o concurso de especialistas de transportes, que não foram chamados ao caso) para depois organizar uma festa e recolher aplausos.
Uma obra da importancia da conclusão do palácio justificava um concurso de ideias e um concurso público para o projeto. A lei estabelece o limite de 75000 euros para o ajuste direto de bens ou serviços, acima do qual é obrigatório o concurso público. Penso que era o caso, e mesmo para o ajuste direto deveriam ter sido consultados mais arquitetos.
Pensemos que a ópera de Sidney, como a conhecemos, nunca teria sido banhada pela luz do dia se os australianos fossem como os portugueses, que chamam um arquiteto porque sim, porque criou fama junto de quem não é arquiteto, para fazer o projeto.
O que eu protestei no metropolitano por se convidarem diretamente arquitetos para os projetos das estações. Mas quem mandava tinha outras ideias.
Como no governo e na CML.
Inadmissível e indigno de entidades públicas.
Coisa infelizmente perfeitamente coerente com o que se está a passar com a série "Boys" a passar no canal 1 da RTP. Ex ministros e outros ex ou não ex têm protestado, que a série induz nos espetadores a ideia de que todos os políticos são indignos nas combinações que fazem nos seus grupinhos e capelinhas (e lojinhas maçónicas), que aqueles que foram ou são bons ministros e bons funcionários públicos superiores não merecem ser postos ao mesmo nível (e depois, admiram-se do senhor jornalista ter publicado o seu livrinho com as conversas privadas).
Repito, inadmissível e indigno de servidores públicos.
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2016/09/consulta-publica-para-revisao-da.html
PS em 7 de novembro de 2016 - segundo me dizem, o arquiteto selecionado ganhou um concurso há mais de 15 anos para a ampliação do palácio. Embora seja provável justificar com argumentos jurídicos a manutenção da escolha passados tantos anos, mantenho a crítica por acreditar que estas e quase todas as coisas prescrevem, Na legislação sobre contratação pública é fixado o prazo de 6 meses para a repetição de um concurso, mas independentemente de argumentos jurídicos, passou tempo suficiente para saber que o monumento e a envolvente requerem outro tratamento. A menos que os decisores achem que estão acima da opinião dos cidadãos. Salvo melhor opinião, claro.
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