quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Semiótica - Teresa May

Consideremos a fotografia da primeira-ministro do Reino Unido com o primeiro ministro irlandês:


E experimentemos aplicar a semiótica, ou estudo dos sinais exteriores. Mas antes, digo que a senhora primeira ministro não me é simpática. Não gosto de seguidoras de Thatcher, a quem considero responsável por algumas regressões, de que posso citar o desprezo que sentia por quem vivia do seu trabalho sem conseguir juntar fortuna: "se tiveres 30 anos e continuas a andar de bus, és um falhado". A senhora May parece pensar o mesmo, com a agravante de ter aquele ar distinto, muito menos grosseiro do que a Thatcher. Devia ter sido uma rapariga lindissima, a senhora May, ainda hoje é muito elegante. Mas isso não impede a avaliação semiótica. Vejamos mais de perto:



O senhor irlandês diz qualquer coisa, que deve dizer respeito à sua nação, sublinhando a importancia do que diz com um ar compenetrado, a cabeça levemente desviada da direção do olhar, reforçando a postura afirmativa, embora levemente receosa. A senhora apara a fala do interlocutor com os lábios levemente apertados e o vinco de expressão bem definido, encostando ligeiramente a bochecha aos papos das olheiras, forçando um sorriso, mostrando que está concentrada em resistir à argumentação do outro, em não a aceitar, sequer considerá-la para análise e devolução de uma contraproposta. Uma outra forma da expressão "franzir o sobrolho".
Mas vamos para as mãos, cuja posição indicia o que se sente ou pensa.


Aqui é ainda mais clara a postura de superioridade da senhora. Aldous Huxley diria que a senhora é uma alfa e o senhor, quando muito um delta, por especial favor da senhora. A mão esquerda do irlandês está cerrada, denunciando nervosismo. A mão direita acentua o carater de importancia para o seu país, com o dedo indicador a indicar essa mesma importancia. Mas as mãos da senhora May,, ambos os polegares dobrados, como quem diz, quando me livrarei deste importuno? fazendo as mãos noventa graus, como personagem superior numa encenação de uma peça de Shakespeare.

Vamos agora para outro interlocutor, a quem é preciso mostrar mais consideração, Juncker:



Juncker está também numa postura afirmativa (coisa natural quando tem de se falar com esta senhora) mas confiante na sua comunidade de mais de 500 milhões de habitantes e visceralmente convencido que ela é essencialmente uma comunidade, com grande pena se os convencidos decisores políticos ingleses não quiserem  integrar-se (a decisão não devia ser de 2/3 dos cidadãos e cidadãs eleitores?). Tem um ar solto e decidido, vamos por aqui para cumprir a agenda que combinámos. Juncker é um caso interessante do inverso do princípio de Peter. Incompetente como primeiro ministro (transformou o seu Luxemburgo num concentrado de agencias financeiras e num quase off-shore - in-shore), transformou-se em digno dirigente comunitário, emendando a mão e lançando o seu plano de infraestruturas. Vejam quem o critica para verem se não tenho razão.


Teresa  May aparece aqui mais comedida e um pouco tensa. Sabe que tem de negociar os 57 mil milhões de euros para cortar as amarras, e o seu sorriso contido tem algo de condescendencia, sim, mas. Os lábios apesar de apertados estão mais rasgados e as bochechas alargadas. Os olhos semi-cerrados até parecem mostrar algum respeito, embora isso possa ser apenas um expediente contemporizador da serpente que prepara o bote. Certamente acha que não pode mostrar sobranceria, só pode guardá-la por dentro. Como foi possível este paradoxo da história? Numa sociedade dominada pelos descendentes dos chefes tribais normandos que reinvadiram a Inglaterra no século XI e se transformaram em senhores feudais, como foi possível consolidarem-se os fundamentos da democracia moderna, desde a magna carta aos poderes do parlamento, à libertadora criação da academia das Ciências no século XVII, à gloriosa revolução do século XVIII, apesar de asfixiarem a república do século XVII, de erguerem o business is business como lei e de acumularem preconceitos e complexos de superioridade?  E que nos dizem as mãos da senhora May?



Que para estarem de acordo com uma postura aparentemente dialogante, têm de estar ligeiramente recolhidas, alinhadas com o corpo, sem sobressair. Não vá pensar-se que quer contrariar sem argumentos a postura indicativa da mão esquerda de Juncker, talvez indicando a indicação dos 57 mil milhões das custas.
Por mais habilidosas que sejam as escutas informáticas, não vai ser possível transmitir uma mensagem à senhora May, mas ela seria, depois de ouvir na Antena 2 a entrevista sobre "Os reinos desaparecidos", do historiador inglês (há ingleses lúcidos) Norman Davies

que muita gente como eu não quer que o reino unido desapareça, mas possivelmente desaparecerá,  se a senhora May persistir. Eu, pelo menos, se fosse escocês, não hesitava, Escócia (que tal uma república como a do senhor da primeira foto?) sim à Europa, não à Inglaterra pretensiosa.












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