quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Aeroporto do Montijo XII - ainda a propósito das declarações do CEO da ANA

A discussão do aumento da capacidade aeroportuária de Lisboa é um problema interessantissimo do ponto de vista da engenharia do território e o facto de não haver dinheiro para investimento público não é desculpa para que não se estudem as melhores soluções. Há muitos anos aprendi isso com um consultor suiço que trabalhou para o metropolitano. Independentemente dos métodos de análise, devem sempre estudar-se as melhores soluções na hipótese de não haver constrangimentos financeiros. E depois comparar com as possíveis (já escrevi que tenho de engolir a solução Montijo, mas isso não impede que a considere uma má solução). Trata-se de um método semelhante aos 2 envelopes das propostas de fornecimento: uma contem a proposta técnica e a outra contem a proposta económico-financeira e primeiro analisa-se a técnica.
Isto para dizer que a posição que me parece mais correta é a do CEGE do ISEG:

http://www.transportesemrevista.com/Default.aspx?tabid=210&language=pt-PT&id=56884

É verdade que a situação financeira do país é catastrófica, mas tem de se explicar à UE que , como diz o economista dinamarquês Steen Jakobsen, os portugueses não são preguiçosos. E manter um Estado social (que não foi uma criação de nenhum regime socialista, Bismarck não era socialista) custa dinheiro, a percentagem de funcionarios publicos e a percentagem de gastos publicos com a educação e a saude estão abaixo da média europeia, paguem-nos mais pelas nossas exportações e invistam cá os excedentes  que o defice baixa, mas isto sou eu que sou ingénuo. E neste caso, se é verdade que a Vinci paga as despesas todas (embora aqui eu tenha dúvidas) e que não vai haver investimentos até 2030,  isso contraria o que o economista Jakobsen disse, que é preciso investir e até há stock de crédito disponível para isso (mais uma vez, só pode haver investimento se os anteprojetos, não intenções, estiverem feitos). Tem de se explicar isto à UE, um Estado deve investir 2 a 3% do PIB em infraestruturas (esta é do Alfredo Marvão Pereira).

Tambem gostaria de fazer alguns comentários porque os números que são apontados não andam muito afinados, empola-se o custo da solução que não se quer ou reduz-se o custo da solução que se quer. Mas antes tenho de pedir desculpa ao colega  Mario Ribeiro porque ele já tinha explicado que dos 1000 milhões do Marques Mendes, 300 são para o Montijo e 700 para a Portela (esperemos que façam o desejado taxiway já que a pobre pista 17/35 vai para estacionamento para rentabilizar os charters e as low cost).  Só que, e lá estou eu a empolar o custo da solução de que não gosto, as previsões da força aérea são de 130 milhões para a deslocalização do Montijo (não esquecer as missões de salvamento de compromisso europeu) mais 250 milhões para deslocalizar o campo de tiro de Alcochete porque os tiros aéreos são incompatíveis com 24 movimentos por hora no Montijo (claro que a opinião pública pode querer simplesmente acabar com o campo de tiro, mas terá de se discutir o assunto com a NATO e com as novas orientações da defesa da UE). 
Será que  a Vinci embarcaria em tanta massa? E depois é o próprio CEO da ANA que vem dizer que afinal o Montijo não é para ser low cost, é para ser ponto a ponto. Então perde força o argumento de que as companhias são livres de não quererem ir para um aeroporto a menos de 40 km (conforme medido no google earth e utilizando vias existentes e "puxando"  o NAL para oeste, a distancia da gare deste à gare do Oriente pode ir aos 30 e poucos km, em comparação com o caminho mais curto da BA6 à mesma gare do Oriente de 20 km, não me parece ser razão para as companhias ponto a ponto recusarem o NAL no CTA; além disso, a liberdade das companhias escolherem os locais acaba onde começa a liberdade dos Estados de escolherem os locais) . 
Também tenho de observar que o que o sr CEO da ANA disse não é verdade, o tempo do trajeto da Transtejo do cais do Seixalinho ao Cais do Sodré é de 25 minutos, não 15 (os catamarãs até podem fazer o percurso em menos de 15 minutos, mas a sinistralidade é proporcional à velocidade).  E se quiserem ficar no Terreiro do Paço talvez se aproximem dos 20 minutos. A menos que queiram fazer um cais novo na costa ocidental da peninsula do Montijo, mas aí têm de fazer dragagens ou fazer o cais a 1 km da dita costa. Tambem podem fazer na ponta da peninsula, mas em qualquer caso será um cais para servir o aeroporto, não o Montijo, o que implica comprar mais barcos, que a ANA quererá pagar?
Também tenho de criticar os 10,000 milhões de Barajas. Em Portugal temos de aprender a controlar os custos (também é verdade que não há meio de aprendermos, por exemplo há 6 meses que a obra de Arroios do metro está parada porque não se entendem com o empreiteiro). Se tiverem paciencia para ver no ponto 3 de:

verão a previsão do coordenador da expansão aeroportuária: 3,6 mil milhões para a 1ªfase do NAL e 2,7 mil milhões para as acessibilidades. Sem discutir os 3,6 mil milhões, parece-me que é abusivo atribuir ao NAL a totalidade da TTT e restantes acessibilidades. Eu estimei em 700 milhões a parte do NAL, o que daria para a 1ª fase 4,3 mil milhões (a 2ªfase seriam mais 2,2 mil milhões).

Agora vamos ao contrato de concessão de 2012 que não estava assim tão mal redigido:

A claúsula 42.3 é clara, o concessionário deverá estudar uma alternativa não só mais económica como mais eficiente. Ora, definida nas especificações do anexo 16 o objetivo de 95 movimentos por hora e 2 pistas de 4km (Montijo tem 2,1 km incompativel com aviões com a carga máxima, com possibilidade de ampliação de 500m para a água, com dificuldades de drenagem em dias de marés vivas, chuvas e vento SW, esta é a minha costela de análise de riscos). Estamos conversados, os 72 movimentos do Portela +1 significa menos eficiente, e a impossibilidade de ampliar as 2 pistas para 4km idem (estou a admitir que um belo dia vão querer construir uma 2ª pista no leito do rio).
Só que a clausula  45.1.b diz que o concedente pode aceitar propostas alternativas do concessionário "exigidas" pelo próprio concedente. Isto é, pode , o que é o caso, prescindir das especificações mais rigorosas e aqui eu tenho de engolir uma má solução (porque não tenho o financiamento que o próprio contrato de concessão encarregava o concessionário de arranjar).
Na minha humilde opinião, trata-se de um caso de má gestão, por este governo, do contrato de concessão, que conduziu ao facto consumado de termos de aceitar a solução Portela+1.

E temos uma alternativa engraçada, se o tráfego crescer acima de 2%,  o Montijo será transitório e o dinheiro que se gastou nele, mesmo sendo da Vinci, melhor fora que se gastasse na 1ªfase do NAL (a menos que violentem o rio com a 2ª pista com mais de 3 km); se crescer abaixo, será como o colega  Rui Rodrigues diz, aproveita-se o dinheiro que a Vinci gastará, mas também talvez seja como o Mario Lopes diz, Portela+1+Barajas, o que tem a curiosa analogia com a ferrovia, sem bitola UIC vamos ser uma alegre provincia espanhola, já dizia a Margarida, duquesa de Mantua, que era melhor para nós.
Em resumo, estamos nas mãos da Vinci e teremos de suportar as suas decisões, mas nada me obriga a aceitar isso calado, aceito mas falo.

Finalmente, um comentário à má criação do sr CEO da Ryannair, o tal que ofereceu flores à TAP quando teve greves. Afinal a Ryannair tambem tem greves, tambem fecha bases e tambem tem prejuizos ao fim do ano (claro, a culpa é do barril). Escusava era de ser mal criado, de ter alergia a delegados sindicais e de tirar fotografias com secretárias de Estado (visitar a Ryannair, que até é uma atividade útil, é, como diria o António Silva, com os cabos, não com o regedor).

E pronto, perdoem-me os desabafos


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