terça-feira, 14 de abril de 2020

Depois da destruição das chaminés de Setubal

Pouco antes da destruição das chaminés da antiga central térmica de Setúbal, recebi um email do chefe de gabinete da presidencia da câmara acusando a receção de anterior meu email estranhando a postura permissiva da câmara perante o atentado ao património industrial que se aproximava e sugerindo a realização dum referendo municipal:


"Encarrega-me a Senhora Presidente da Câmara de acusar recepção do mail enviado o qual mereceu a nossa melhor atenção.
Relativamente ao assunto registamos a sua opinião.

Com os meus cumprimentos, "

Evidentemente que o registo da minha discordancia , evocando o exemplo com um final feliz do depósito de água de Tavira, cuja destruição foi impedida pelos tavirenses, o exemplo do respeito pelo património industrial no Ruhr e na própria EDP na sua central Tejo, a excelente dissertação de Helga Carina Santos Matos de 2015, mas também o exemplo negativo da destruição dispensável do viaduto das Presas, no Tua, de nada serve perante o argumento financeiro de uma manutenção cara (apesar do turismo arqueológico industrial gerar receitas) e perante a realidade de que as chaminés já não existem.
Email que tinha enviado:

Mas continua a ser possível exprimir uma opinião, e deu-se o caso de, ao observar um episódio de uma série televisiva sobre a vida dura dos refugiados, cuja ação se desenrola em Dublin, ter dado com os olhos nas duas chaminés de Setubal, perdão de Dublin.

As chaminés da central de gás, ao sul de Dublin, desativada em 2010, também com 200 m de altura e mantidas por decisão do conselho da cidade ao atribuir-lhes em 2014 o estatuto de estruturas protegidas

O departamento de planeamento do Conselho de Dublin incluiu em 2014 a central Poolbeg Generation Station na lista de estruturas protegidas. As chaminés foram entendidas como um emblema daquela região da cidade e os guias turísticos explicam como podem ser vistas de perto.
Claro que a central de Setubal não pode comparar-se à central Tejo, mas era património industrial e podia comparar-se com a central de Dublin.
Perderam-se, tal como se perdeu, ao privatizar a EDP, empresa estratégica, a capacidade de decidir o destino de uma estrutura patrimonial. Embora duvide que sob gestão pública, conhecidas as relações entre os governos e os nomeados para funções de administração, o destino das chaminés tivesse sido melhor.
 Mas é um caso exemplar. Não esperava que a câmara de Setubal não tivesse levantado um dedo contra a destruição. Ao menos podia ter promovido um referendo municipal.

https://en.wikipedia.org/wiki/Poolbeg_Generating_Station




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