segunda-feira, 9 de março de 2020

As chaminés da central térmica de Setúbal



fotografia em 16 de março de 2020. No centro da foto, as chaminés que vieram a ser destruidas em 29 de março de 2020



Andei desatento. Desde o fecho da central térmica, a fuelóleo, de Setúbal, em 2012, que havia uma ameaça de demolição dos edificios da central e das duas torres.
No momento em que escrevo nem sei se ainda existem as duas torres. Que "por motivos técnicos" foi adiada a sua demolição, marcada para 7fev2020.
A demolição das chaminés da central térmica de Setubal constitui um atentado ao Património Industrial. É verdade que a sua manutenção seria cara e a rentabilização dos terrenos sem elas é um fator relevante, mas são das estruturas mais altas em Portugal (210 e 200m), o seu projeto é de elevado valor intelectual e fazem parte da paisagem. Não são iguais. Uma delas, mais fina, segue a forma dum hiperboloide.  O seu desaparecimento magoará muita gente, habituada a vê-las lá ao longe.
A sua destruição será um ato de barbárie. Ninguém poderá condenar os bárbaros que não sabem ou não querem saber por que é um ato de barbárie e que pressurosos acorrerão a enumerar os mecenatos que sustentam. Ao menos comparem com o que se faz noutros países da UE, como Espanha e a linha de La Fregeneda, ou a Alemanha e o Ruhr.
A sua destruição será mais uma perda e o triunfo dos bárbaros, como a do viaduto das Presas na foz do Tua. 
Sugiro a leitura da dissertação de Helga Carina Santos Matos de 2015 (pesquisar por "Central Termoelétrica de Setúbal a Património Industrial por Reutilização Adaptativa"), porque é possível rentabilizar o património industrial.
Sugiro também a  realização de um referendo municipal.


PS em 30 de março de 2020 - Ontem concretizou-se a agressão ao património industrial:
https://rr.sapo.pt/2020/03/29/pais/chamines-da-central-termoeletrica-de-setubal-foram-derrrubadas-veja-o-video/noticia/187231/?jwsource=fb&fbclid=IwAR0K_31bp-bS-rEAbZJJ-sc7A-Br9bCDiGKTc_d4bmSDZaopqxceIxhUnhM

Esta agressão junta-se à demolição do viaduto das Presas, na linha  do Tua. Enquanto a EDP  lustra a sua imagem como promotora da Cultura e de mecenas social, faz isto. 
A barbárie triunfou. Podiam ao menos poupar-nos às desculpas oportunistas e à hipocrisia, que o espaço servirá para a descarbonização. E talvez dê para uma central solar. "Gostariamos muito" disseram, "mas não têm um projeto definido". Como? fazem a demolição sem saber o que vai para lá? Ao menos no caso do viaduto das Presas sabiam... estão a progredir na escala da barbárie. 
E se instalarem uma termosolar (não há muito espaço, e para uma fotovoltaica também não, é uma boa desculpa mas só por agora, depois já ninguem vai ligar) talvez se lembrem de instalar uma torre concentradora dos feixes de 200m com riscas horizontais, nunca se sabe.
Mas sabemos que a verdadeira razão é simplesmente económico-financeira.  
Decretaram que as chaminés nunca poderiam ser rentabilizadas em termos turisticos ou museológicos.
Infelizmente , provavelmente, aconteceria o mesmo  se a EDP não tivesse sido privatizada, esta demolição teve o amen das entidades públicas. Depois admiram-se do que às vezes se diz do país.
Curioso ver no video da demolição o comportamento diferente das duas torres, talvez porque o seu método construtivo era mesmo diferente.
Inútil explicar por que isto é uma barbárie. Mas eu digo à mesma, porque só puderam construir-se as chaminés porque a humanidade foi desenvolvendo os fundamentos da técnica e a técnica para isso. É um produto da natureza humana, da sua potencialidade cerebral.
Mas não admira, num país em que no Conselho de Estado não tem lugar um engenheiro, profissão desprezada...






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