quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Os mais pequenos

 Quando eu era menino e andava na catequese, impressionava-me aquela história do bom pastor, que deixava o rebanho para procurar o cordeirinho, o mais pequeno do seu rebanho que se tinha perdido. E vinham as recomendações que nunca nos desviassemos dos locais seguros do rebanho, mas que apreciassemos a misericórdia do bom pastor, preocupado com o mais pequenino. Mas preocupava-me deixar-se o rebanho à sua sorte, ou à guarda do cão, e ir à procura do transviado. Qualquer estratega diria que desviar o cordeirinho podia ser uma manobra de diversão para atacar o rebanho desguarnecido. 

Muitos anos  depois ensinaram-me, a propósito da manutenção de postos de transformação ou de subestações elétricas, que não deve haver um bom pastor, mas pelo menos dois técnicos para fazer o seu trabalho, porque se um deles tiver um problema o outro poderá pedir ajuda.

Isto recordei ao ler as instruções da Comissão Nacional de Eleições, que do alto do seu pedestal informava que os cidadãos ou cidadãs que testassem positivo ao virus do Sars-Cov2 ou que fossem classificados como tendo tido contacto com alguém com a infeção, a menos de 10 dias das eleições, não poderiam votar.  

A minha formação jurídica é nula, mas a mim me parece que é uma disposição anti-constitucional. A CNE deveria recorrer a um meio que permitisse a votação, ainda que o tempo de contagem dos votos empurasse os resultados oficiais para mais tarde. 

Mas a resposta estará noutro comunicado da CNE, impante segundo o costume cada vez mais vulgarizado entre organismos oficiais, da própria superioridade e da certeza de que a solução adotado é a melhor, a propósito da recusa do voto postal e do voto eletrónico. Existem empresas de software que desenvolveram programas para o voto seguro pela internet. Isso foi comprovado nas eleições nos USA. Mas a CNE diz que cada vez há menos países a adotar o voto postal ou eletrónico (por sinal na Suiça parece ser maioritário e um ótimo recurso contra a abstenção) e que ele tem o grande inconveniente de facilitar a fraude. É uma pena os informáticos não explicarem à CNE e aos deputados da AR (constitucionalmente quem poderia adotar o voto postal ou eletrónico) o que seria preciso fazer para termos uma eleição segura. 

Uma pena que os mais fracos,  apanhados naquela janela de 10 dias, não possam votar. 

E parece que não haverá bom pastor que os socorra, São abandonados à sua abstenção. 

Mudança de atitude perante as dificuldades, precisa-se, vontade de resolvê-las com planeamento, precisa-se.

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