Em 2016 escrevi ao presidente do metro pedindo que publicamente pedisse ao governo autorização para encomendar os rodados necessários para substituir os desgastados em 18 comboios (unidades triplas) , cerca de 16% do total, que já tinham "encostado" por segurança. Não me respondeu e só no ano seguinte, depois de estarem imobilizados cerca de 30 comboios (perto de 30% do total) e da opinião pública protestar indignada contra os tempos de espera nas estações, o governo autorizou a importação da fábrica checa dos rodados, cerca de meio milhão de euros, que atempadamente tinham sido orçamentados. Fora um episódio de cativações.
Na altura recordei que o espírito de economia antes de tudo, no fundo a grande revolução do século XX gerada na escola de Chicago e no consenso de Washington, acabara por ser o principal responsável pelo mau desempenho comparativo da EU em relação ao Japão e aos USA na recuperação pós depressões. Ver https://fcsseratostenes.blogspot.com/2014/09/os-ciclos-e-o-discurso-de-draghi-no.html
Apesar dos USA serem a pátria do liberalismo, são suficientemente pragmáticos para entenderem a necessidade de intervenção e do investimento público. Ao lado deles a EU faz má figura, e ainda bem que Trichet foi substituido por Draghi.
Aplaudo portanto o artigo de Susana Peralta que conclui que o governo português foi muito poupadinho ao poupar 3674 milhões de euros que tinham sido orçamentados para o combate à pandemia e seus efeitos, mas que para não sobrecarregar o defice foram poupados:
https://www.publico.pt/2021/01/29/opiniao/opiniao/joao-leao-gerir-pandemia-palas-1948408
Analogamente, Teresa de Sousa trata o espírito de poupança da EU:
É o seguinte o quadro com os habitantes, o adiantamento para financiamento e compra de vacinas, por país ou EU, e a despesa por habitante na encomenda das vacinas:
EU 450 M habitantes 1780 M€ 3,95 €/hab (segundo outra fonte, teriam sidoUK 62 M hab 1900 M€ 30,65 €/hab
USA 330 M hab 9000 M€ 27,27 €/hab
Numa altura em que era importante combater o isolacionismo inglês ou o instinto crónico supremacista dos USA, a EU preferiu regatear o preço das vacinas e atrasar a formalização da encomenda, Agora veste a pele de vítima porque a farmaceutica se atrasou no plano de vacinação. Por preconceito mais ou menos xenófobo não quererá ouvir falar na vacina da Sinovac, aplicada no Brasil.
Aplaudo as posições da EU em muitas das questões da atualidade, mas há casos em que se deve privilegiar o pragmatismo em relação aos discursos muito corretos e bonitos. Esta foi mais uma vez em que a EU fez má figura e em que Daniel Gros tem razão ao criticar a falta de investimento na teoria e na prática económicas predominantes. Ver http://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/economistas/daniel-gros/detalhe/a_europa_e_a_mania_dos_investimentos_mal_orientados
Cito Daniel Gros também porque ele critica a falta de investimento pela CE nas redes transeuropeias de energia e de transportes, muitas vezes devidas não só aos interesses locais, mas também à inércia e à cumplicidade dos governos.
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