Neste momento em que o XXII governo afirma que se vive um grande debate público sobre o PRR e sobre o PNI 2030, os quais incluem investimentos nos metros de Lisboa e Porto, as informações que nos chegam do site do metro de Lisboa são que os contratos dos 3 lotes da linha circular já estão visados pelo Tribunal de Contas, que as sondagens arqueológicas decorrem, que o início das obras estará eminente, que os estudos do prolongamento da linha vermelha de S.Sebastião para Alcântara Terra estão avançados e que foi firmado um protocolo entre as câmaras de Lisboa, Loures e Oeiras sobre os traçados de princípio das novas linhas de elétrico nomeadas como LIOS e do designado metro ligeiro de superfície de Odivelas e Loures (estranha-se a ausência da câmara de Odivelas do referido protocolo, o que indicia em matéria de transportes que as ligações partidárias entre as presidências dispensarão compromissos públicos).
Ignoram-se porém os pormenores dos traçados, quer do prolongamento da linha vermelha, quer do LIOS, parecendo mais claro o traçado do designado metro ligeiro Odivelas/Loures.
Ligações para o site do metro:
comunicados da empresa: https://www.metrolisboa.pt/institucional/
breve descrição do prolongamento da linha vermelha: https://projetos.metrolisboa.pt/not%C3%ADcias/item/60-prolongamento-da-linha-vermelha-inclui-constru%C3%A7%C3%A3o-de-quatro-novas-esta%C3%A7%C3%B5es.html
Da primeira ligação retirei o esquema do prolongamento:
De anterior artigo do Público retirei o traçado do LIOS, anunciado como fazendo correspondência com o prolongamento da linha Vermelha, não percebi se em Alcantara Terra ou em Santo Amaro/Instituto de Agronomia:
Com base nestes elementos elaborei este mapa:
Comentários:
A primeira impressão é que o projeto do traçado da linha circular foi feito sem considerar os prolongamentos das outras linhas. Verifica-se que os dois traçados desenvolvem-se relativamente próximos, menos de 500 m nalguns troços, mas sem correspondência entre as respetivas estações. Isto mesmo se verificava já no famoso mapa de 2009, profuso em curvas, pendentes e bifurcações, em absoluto desrespeito pelas regras de projeto de redes de metro. Não se admirarão então os colegas que colaboraram nestes planos que eu critique as suas deficiências. Erraram, por muito que não queiram reconhecê-lo. A linha circular dificulta as expansões futuras e desobedece claramente ao PROTAML 2002 que ainda está em vigor porque as atualizações não foram aprovadas, porque não serve a área metropolitana e porque a atual rede de metro se executada a extensão a Alcantara Mar teria os mesmos rebatimentos dos eixos de penetração anunciados para a linha circular. Sem linha circular a ligação entre Cais do Sodré, Estrela e Campo de Ourique poderia ser assegurada pela modernização da linha de elétrico atual, criando troços segregados e pedonalizando ruas, mas o propalado suporte do transporte de superfície e dos modos suaves não é aqui defendido pela CML.
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mapa de 2009 |
Anota-se ainda que se prevê uma interestação de cerca de 1300m entre a estação S.Sebastião e Amoreiras (interestação Rato-Estrela: 960m). Compreende-se que a estação Campolide, pela sua profundidade, seria muito cara. Também é verdade que estações muito próximas induzem gastos de energia mais elevados. Mas o facto foi que uma decisão superior alterou o traçado original do prolongamento da linha vermelha desde Saldanha, que deveria contornar os terrenos do Tribunal e da Penitenciária pelo lado norte, aproximando-se da estação da CP (possível estação de Campolide a menor profundidade e com ligação pedonal entre a rede de metro e a da CP - seria interessante estudar a alternativa de um prolongamento da linha vermelha, não a partir do atual término/ventilador no Palácio da Justiça, mas curvando para norte imediatamente a seguir à estação, aproximando-se da estação da CP de Campolide e seguindo pela encosta poente de Campolide em viaduto e tunel até Alcantara Terra e depois por viaduto até Alcantara mar para a correspondencia com a linha de Cascais).
Isto mostra que algumas das anteriores administrações do metro também faziam como a atual, iam resolvendo ponto a ponto os prolongamentos, sem curar de ter uma visão abrangente. Seria bom mudar esta estratégia, alargando a visão a toda a área metropolitana.
Seria também interessante comparar a passagem do túnel pelo lado nascente do centro comercial das Amoreiras com a passagem a poente, contornando o reservatório da EPAL e fazendo correspondência com um parque dissuasor na prevista reurbanização de Campo de Ourique norte, evitando-se as curvas apertadas do proposto.
Em vez de ter o objetivo Alcantara Terra, deveria privilegiar-se Alcantara Mar, fazendo correspondencia com a linha de Cascais em viaduto. O argumento do impacto visual não terá consistencia dada a presença do novo hospital da CUF Tejo e o apetite da imobiliária pela gentrificação e por "torres" (aliás patentes num dos projetos para Alcantara de Siza Vieira). Há um grande problema em Alcantara, que é a indefinição do nó rodo, ferroviário e portuário e as condicionantes imobiliárias, geológicas e hidrológicas. A incapacidade de coordenação e de integração pluridisciplinar arrasta-se há anos. E é grande a resistencia à discussão pública.
Pareceria assim razoável que o traçado do prolongamento da linha vermelha fosse debatido em assembleias públicas, mas não é esse o entendimento do XXII governo, da CML/AML e do metropolitano. Preferem soluções de factos consumados, para depois insistirem que são as suas as melhores soluções. É uma pena que assim seja.
Sobre o traçado do LIOS Jamor-Santo Amaro, para além da pouca informação disponível, assinala-se a sua extensão, que associada à velocidade comercial resultar num tempo de percurso elevado. Mais uma vez, contabilizando o valor das horas dos passageiros assim despendidas, deveria aprofundar-se a análise de custos benefícios comparativa com a linha de metro, em viaduto sempre que possível. Ver
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/02/consulta-publica-do-recape-da.html.
Quanto ao traçado do LIOS de Santa Apolónia para o Parque das Nações assinala-se igualmente a falta de uma análise de custos benefícios comparativa com o prolongamento da linha azul do metro e questiona-se se o objetivo da CML, em mais uma agressão à cidade e à sua economia, é mesmo acabar com a atividade portuária dos terminais de Santa Apolónia e Poço do Bispo (como há muitos anos e de modo infrutífero vêm dizendo os especialistas portuários, nós não somos os holandeses, coisa que Spinoza, neto de portugueses, sabia por experiencia própria). Igualmente se questiona se foi previsto espaço canal para o LIOS nas urbanizações agora muito anunciadas de arquitetos renomados entre Santa Apolónia e o Parque das Nações, o que certamente terá sido considerado, dado que de acordo com os padrões atuais de mobilidade, qualquer estagiário o faria.
Relativamente às ligações anunciadas para o metro ligeiro de superfície a Sacavém, para além da pouca informação disponibilizada, assinale-se que a sua zona de términos, junto da foz do Trancão, padece do mesmo problema da Alcantara, uma grande indefinição e dificuldade de planeamento integrado, nomeadamente aproximando-se a realização de um festival da juventude numa zona difícil e que é uma das hipóteses pra a amarração da nova ligação, em túnel ou ponte, à margem sul.
É portanto mais um exemplo que justifica um debate público.
Relativamente ao traçado do chamado metro ligeiro para Loures, observo que o troço Odivelas-Hospital Beatriz Angelo por Ramada seria significativamente mais eficiente se fosse o prolongamento da linha de metro existente e pouco mais caro se se contabilizasse o valor das horas de todos os passageiros poupadas devido à maior velocidade comercial do metro comparativamente com a do metro ligeiro de superfície. A atratividade de um parque dissuasor junto do hospital para os habitantes da zona de Malveira, Mafra e Torres Vedras com possibilidade de acesso direto via metro ao centro (se abandonada a construção do 3º lote no Campo Grande e transformação da linha circular em laço) seria uma mais valia da alternativa metro.
Pequeno exercício de correção, para depois da construção da linha circular, e alternativa ao LIOS para o Jamor. O projeto de linhas de metro deverá, para evitar excesso de curvas, contar com as ligações transversais através de corredores segregados para cabinas autónomas por GNSS, partilháveis e a pedido por sistema dedicado e pela internet ("podlanes" com 4m de largura):
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