Tenho esse defeito, gosto de estudar as coisas antes de as propor. E de tema em tema fui vendo a sua complexidade. Não consigo atingir a profundidade desejada.
Mas vou tentar resumir o que sinto.
Há uns anos um chefe religioso disse que a Humanidade tinha dado passos de gigante no desenvolvimento da tecnologia, mas que não tinha evoluido proporcionalmente no campo moral. Algo parecido com o que Carl Sagan diria depois, que tendemos para uma maioria de ignorantes utilizando tecnologias complexas cujo funcionamento só é conhecido por poucos.
Parafraseando-os, diria que as soluções técnicas para resolver as grandes questões da sustentabilidade do planeta já são conhecidas por mentes maduras, sensatas e com conhecimento científico, mas o poder de decisão é como se estivesse nas mãos de crianças.
Dito assim, poderei ser acusado de pretensioso, ao reivindicar o conhecimento que os outros não possuem. Ao que nterei de responder que não proponho certezas, apenas que se discuta o tema, tal como dizem os princípios do método científico, sujeitar sempre à crítica dos pares o resultado a que se chegou.
Regar as culturas agrícolas, especialmente as vocacionadas para grande produção e exportação, tem feito baixar os níveis freáticos. Por outro lado os níveis de salinidade têm aumentado no sentido do interior. A resposta imediata será planear a construção de barragens. A própria versão do PRR de 15fev2021 que serviu de base à consulta pública referia o reforço da barragem de Odeleite e a nova barragem do Crato. Mas não referiu a necessidade da nova barragem do Alvito/Ocreza para combater o aumento da salinidade no Tejo, nem as novas barragens das ribeiras da Foupana, de Cadavais e do Vascão, que no Sotavento algarvio poupariam o anunciado furo no Pomarão (carecendo ainda de revisão o tratado de aproveitamento das águas do rio Chança.
Isto é, tornou-se urgente a construção de dessalinadores junto da costa para produção de água doce para a irrigação e também para a produção descentralizada de hidrogénio por eletrólise. Estimativa para uma produção de 3000m3 de água tratada por dia: 3 milhões de euros e um consumo de energia de 1 GWh/ano .
Erguer-se-ão os protestos dos ecologistas, contra a construção de barragens, contra a construção de dessalinadores, contra a produção de hidrogénio.
Mas continuarão a defender a sustentabilidade do planeta e o combate contra as alterações climáticas. Continuarão a defender o imobilismo recusando a produção agrícola que contribui para as exportações, recusando a produção de energia hidroelétrica, recusando a construção de dessalinadores, recusando a produção de hidrogénio (de facto, o plano de produção industrial de hidrogénio em Sines para exportação por barco criou na opinião pública um sentimento de rejeição, que aliás merece, porque se se quer transportar alguma coisa seria a eletricidade para produção do hidrogénio no local de destino, e não o hidrogénio, de transporte mais caro).
É muito mau para o país, termos de um lado um governo com dificuldade em aceitar e apreender as potencialidades duma solução técnica, e do outro uma sociedade civil com grandes dificuldades de organização e de planeamento, cujas decisões de uns e a opinião de outros são mais influenciadas por fatores acessórios do que essenciais.
Aguardemos a evolução do PRR e dos mecanismos comunitários de apoio.
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