É verdade que há anos foi feito um concurso público e que foi escolhido o arquiteto autor do acrescento ao Palácio da Ajuda cujas obras foram interrompidas no princípio do século XIX, com os devidos agradecimentos às invasões francesas.
É tambem verdade que somos um país pobre e que só as taxas turísticas permitiam executar o acrescento.
Mas também é verdade que nada obrigava as instituições a manter válido o concurso e a escolha.
Teria sido muito interessante um concurso de ideias e o debate público aberto aos cidadãos.
Igualmente interessante teria sido divulgar o projeto original do Palácio (o projeto completo incluiria o simétrico do que existia antes do acréscimo com um pátio a separar os dois corpos e uma escadaria circular na vertente sul ).
Cito também António Guerreiro, referindo-se a outro caso, em
https://www.publico.pt/2021/06/04/culturaipsilon/cronica/arquitectura-crime-1964842 :
"A bienal de arquitectura de Veneza, no ano 2000, tinha como título Less Aesthetics, More Ethics. Esta questão da ética da arquitectura não é certamente dos temas mais frequentes e sempre que surge provoca polémica. O grande historiador de arte italiano Salvatore Settis, que chegou a ocupar um cargo oficial relacionado com o património, defendeu há alguns anos que se devia consagrar na Constituição dos países o direito à paisagem. E, por entender que os arquitectos deviam estar deontologicamente obrigados a defendê-la, propôs, em jeito de provocação (bastante polémica, aliás) que eles deveriam fazer um “juramento de Vitrúvio”, por analogia com o “juramente de Hipócrates” a que os médicos estão obrigados. Tal como um médico não pode matar o doente, o arquitecto não deve matar a paisagem nem deve contribuir para saquear a cidade."
Cito ainda Fernando Sobral em
https://www.publico.pt/2021/06/13/opiniao/opiniao/hollywood-bollywood-pollywood-1965968
"Somos um país endividado, e sem estratégia de médio ou longo prazo, servimos tremoços em bandejas a turistas. Somos o Pollywood da precariedade, um documentário turístico de baixo custo, e nem com salários baixos saímos deste pântano. Gastamos o dinheiro que não temos a fazer marquises como a que destruiu esteticamente o Palácio da Ajuda. Não temos dinheiro e vendemos aquilo que poderia trazer riqueza ao país. Aqui não se fazem investimentos. Combinam-se negócios."
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