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segunda-feira, 6 de maio de 2013

Correlação liberalização ferroviária-acidentes ferroviários?

Lamenta-se mais um acidente ferroviário com consequencias graves.
Desta vez um comboio de mercadorias transportando cianoetileno (acrilonitrilo) descarrilou com explosão , incendio e derrame desse liquido altamente tóxico (anteriormente usado para pesticidas, atualmente usado para fabrico de fibras sintéticas resistentes).
Não se pode afirmar com segurança que existe uma correlação entre a liberalização a que se assiste na operação ferroviária e os acidentes ferroviários.
Mas deve colocar-se a hipótese (ver 
- a frequencia com que ocorrem os acidentes depois das liberalizações na Bélgica: em fevereiro de 2010 acidente em Buizingen com morte de passageiros; em maio de 2011 choque de dois comboios de mercadorias em Godinne
- a acusação feita às empresas públicas de que gerem mal os recursos embora muitos desses recursos se destinem à segurança ferroviária
- a argumentação dos decisores de Bruxelas da UE e dos governos neo liberais  de que a concorrencia é util para os cidadãos .

Deveriam os senhores governantes, burocratas de Bruxelas e grupos interessados na liberalização da exploração ferroviária aceitar que a concorrencia depende sempre da lei do lucro, que o lucro varia normalmente em sentido inverso ao investimento na segurança , e que as potenciais vítimas de acidentes ferroviários podem nem sequer ser utilizadores do sistema ferroviário (configurando uma externalidade, como dizem os economistas, terem de pagar para o que não utilizam).
Foi o caso do acidente de 4 de maio de 2013 em Schellebelle, a 13km de Gand, na Bélgica , e a 36 km de Bruxelas. O derrame do gás decorrente da explosão matou um habitante por intoxicação, feriu gravemente cerca de 50 pessoas e contaminou as águas do rio e os lençois freáticos. A proximidade de grandes nucleos populacionais dá ideia da extensão da catástrofe que poderia ter acontecido.
Causa do acidente: funcionamento deficiente de uma agulha de ponta ou velocidade excessiva na aproximação da agulha, num itinerário não habitual devido a trabalhos noturnos na via; inexistencia de sistema de controle automático de velocidade.
O maquinista era holandês, o comboio alemão, e a gestão da rede ferroviária belga. 
O que poderá fazer-se para que os economistas, os gestores, os burocratas, os sacerdotes do neo liberalismo, os professores das faculdades de economia de mãos limpas por nunca as terem sujo num comboio ou numa agulha de mudança de via, compreendam que as suas teorias não têm correspondencia na prática do transporte de passageiros e de mercadorias? 
Acidentes semelhantes nos USA levaram a uma concentração de empresas ferroviárias (não à sua pulverização) e a um controle reforçado do departamento federal (contrariando a teoria da redução sistemática do peso do Estado).
No caso do acidente de Schellebelle é legítimo questionarmo-nos se as condições de segurança em consequencia dos trabalhos na via estavam asseguradas e compreendidas pelo maquinista, e se este tinha ao seu dispor um sistema ATP de controle automático de velocidade com capacidade para gerir situações anormais de zonas de obra (evidentemente que por razões de economia o operador privado tem tendencia para poupar no investimento).
Igualmente é de questionar como um liquido tão perigoso é transportado em vagões que não resistem ao choque, mais precisamente as válvulas, ponto fraco (ver o caso de Viarregio numa das ligações acima).
Enfim, como não estamos nos USA, nem mesmo no UK, onde a tradição anglo saxónica impõe o debate aberto e a disseminação das análises aos acidentes, antes estamos no território dos burocratas que impõem os dogmas da liberalização a todo o preço sem atender às especificidades dos sistemas, e que para isso lhes é conveniente deixar cair estes casos no esquecimento, enquanto apelam à privatização ou concessão das rede ferroviárias, provavelmente ficarão por divulgar as circunstancias e causas deste acidente. 
Certamente que os nossos governantes continuarão a insistir no que me parece um erro grave: a liberalização do setor ferrovia´rio, que por razões de segurança deveria ser mantido na esfera pública (inútil explicar isto aos senhores da troika;  não sabem nada de transporte ferroviário).

Mais informação sobre  o acidente em

PS em 8 de maio - Mme Chantal Monet explica muito melhor do que eu os riscos da liberalização e da falta de regulamentação eficaz que permite o transporte de produtos inflamáveis e combustíveis tóxicos/reativos. 20% do transporte de produtos químicos na Bélgica é feito por ferrovia (o que significa que os riscos do transporte rodoviário são enormes). Seria interessante que a opinão de quem defende linhas de mercadorias independentes de linhas de passageiros fosse mais respeitada:
http://www.rtl.be/videos/video/442500.aspx?CategoryID=496



quarta-feira, 18 de julho de 2012

Mais um aparente paradoxo da democracia e a opinião do bispo

Será mais um paradoxo da democracia?


A classe politica dirigente da União Europeia impõe como sagrada a regra da concorrência como defesa das empresas de iniciativa privada.

Quando se diz sagrada, quer dizer que exclui a organização das empresas noutras formas que não sejam SARL, como empresas públicas, mútuas, parcerias, cooperativas (a falta que mais se faz sentir é a cooperativa).

Penso que essa exclusão não está escrita, mas na prática é imposta a todos os países da união.

Tal regra não parece que esteja inscrita também nos programas dos partidos políticos que detêm a maioria dos votos.

Se é assim, o eleitorado não deu o mandato a ninguem para impor o predomínio das empresas de iniciativa privada.

Isto é, quando se vai a votos o eleitorado exprime a sua vontade noutros centros de interesse, neste não.

Por exemplo, nos países escandinavos não se põe o problema de “reduzir o peso do Estado”.

O sistema de segurança social funciona, quer o governo seja de direita ou de esquerda.

Poderá ser que na origem deste facto esteja o célebre indicador de alfabetização da população: XVI foi o século em que metade da população escandinava atingiu a alfabetização; na Alemanha e na Inglaterra isso aconteceu no século XVII; seguiu-se a França no século XVIII, a Espanha no século XIX e Portugal no século XX.

Talvez por isso seja difícil em Portugal interpretar corretamente a ideia que outro exprimiu.

Nesta perspetiva, é estranho que a União Europeia continue alegremente a querer impor a liberalização absoluta.

Por exemplo na energia.

Há razões técnicas contra a dispersão por várias empresas. A principal, na distribuição, apesar da normalização, tem que ver com a gestão das redes e os riscos de deslastragens conduzirem a apagões progressivos.

No caso da produção, a liberalização e a fraqueza da planificação pública dificultam, e de que maneira, o estudo e a implementação das medidas de libertação da dependência do petróleo e de redução das emissões de CO2.

Os transportes são outro exemplo em que a liberalização contraria a segurança (as empresas privadas têm tendência para reduzir custos de manutenção, embora gostem de propalar os ganhos de produtividade, e de formação do pessoal) e a planificação integrada e estruturante de regiões. Igualmente dificulta a redução de emissões de CO2, apesar das taxas de externalidades que vem impondo aos aviões e aos camiões.





Retomando o tema, este aparente paradoxo da democracia consistirá no apoio cego a empresas privadas como um vicio escondido, oculto nas campanhas eleitorais, que se opõe ao progresso em muitos domínios da economia.

Nesta perspetiva, carece de análise profunda a insistência da troika na privatização da CP Carga, quando já existem duas empresas de transporte privado que parece darem-se bem com o negócio, a Takargo e a DB Schenker (2 comboios semanais entre Portugal e a Alemanha).
Idem a insistencia em impor companhias aéreas "low-cost" , altamente produtoras de emissões de CO2, beneficiando de infra-estruturas que sempre foram públicas (isto é, estão retirando a propriedade aos contribuintes, sem que, provavelmente, pelo menos 2/3 dos eleitores inscritos concordem - é uma figura de expropriação em sentido inverso)

Ainda nesta perspetiva, a imposição de privatizações será claramente a execução de um mandato que o eleitorado não conferiu aos políticos e aos financeiros, e será uma medida prejudicial para o interesse público, pelo menos nos exemplos citados.

E, se tenho razão, será exemplo de um assalto de um grupo de representantes de grupos económicos ou de académicos fundamentalistas das ideias de Hayeck e Friedmann para retirar da esfera pública a propriedade de meios de produção e entregá-las a privados.

Se tenho razão, também o bispo Torgal Ferreira terá, quando fala em gangues no atual governo.

E essa afirmação, minha e do bispo, que não pode ser classificada como proclamação da verdade (porque ninguém sabe o que é a verdade, nem mesmo a Igreja; apenas se pode dizer que, se é como eu penso, então as medidas do governo são prejudiciais para o interesse público; mas não há garantia de que as coisas sejam como eu penso, nem que sejam como o governo pensa), enquadra-se perfeitamente no comportamento tido no caso do BPN (também pelo governo anterior) no sentido da desvalorização progressiva do bem a privatizar até ser entregue ao grupo privado.



É curioso verificar que a estratégia do atual governo de desvalorização dos estaleiros de Viana do Castelo, nomeadamente a anulação do concurso para os motores e a chapa dos asfalteiros venezuelanos, se enquadra perfeitamente na ideia de um gangue que na campanha eleitoral não ocultou que ia privatizar empresas (aliás, nem deu importância a este assunto, uma vez que insistia no corte das despesas públicas e na taxação do consumo), mas ocultou que o ia fazer após as desvalorizar e que, uma vez no poder, tudo faria para desviar os recursos para empresas privadas .

Exemplo disso é o desvio de fundos do QREN de investimentos públicos para subsídios a empresas privadas.

Se foi assim, nem seria necessário apresentar queixa contra os governantes envolvidos, na desvalorização para privatização ou no desvio de fundos QREN do público para o privado.

Para isso existe o Ministério Público.

Mas é apenas uma hipótese, ou várias, claro.

PS em 19 de julho de 2012 - o porta voz da conferencia episcopal portuguesa classificou as afirmãções de Januário Torgal Ferreira como "a nível individual".
Mas também afirmou aue a Igreja deve proclamar a verdade. Já passaram uns dias e nenhuma hierarquia da Igreja veio desautorizar  Torgal Ferreira. Recordo até a afirmação de Jorge Ortiga, presidente da comissão pastoral social: "os politicos deveriam ter a coragem de ler os numeros e tirar consequencias". Apesar de não ser crente, quem escreve este blogue tem a esperança de que não aconteça o mesmo que aconteceu em 1971, quando o cardeal de Lisboa, António Ribeiro, preferiu não tomar partido quando um grupo de católicos, com o padre Alberto, se manifestou na capela do Rato contra a guerra colonial. Como dizia Kipling, citado pelo meu professor de sociologia, Pereira Ataíde, a neutralidade nestas coisas é um crime (até parece Torgal Ferreira a falar, não é?).
Afirmações de Torgal Ferreira:
"Há jogos atrás da cortina, habilidades e corrupção. Este governo é profundamente corrupto nestas atitudes a que estamos a assistir... o problema é civilizacional, porque é ético. Não acredito nestes tipos, nalguns destes tipos, porque são equívocos, porque lutam pelos seus interesses, têm o seu gangue, o seu clube, pressionam a comunicação social, o que significa que os anteriores que foram tão atacados, eram uns anjos ao pé destes diabinhos negros - alguns - que acabam de aparecer"