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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Monsieur Moscovici, vocês dão cabo da paciência de um santo



Vocês fazem perder a paciência a um santo.
Estou farto das vossas implicações, de tanto com que vocês implicam. Das vossas burocracias e dos vossos fundamentalismos.
Não é que não tenham alguma razão. O nosso ministro das finanças do XXI governo é um pouco teórico, tem  pouca experiência da vida real nas frentes de trabalho das empresas. É um académico. Como vocês, afinal.
Tão irrealista é um, para tal taxa de crescimento, como os outros, vocês. Como podem vocês aumentar o crescimento e cortar o desemprego com a vossa paixão pela austeridade? E como se pode crescer com a vossa austeridade, sem evitar a reestruturação da dívida (de que vocês fogem como o Shylock do mercador de Veneza) e cumprindo as vossas utópicas regras orçamentais? (ver http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2014/05/o-triangulo-das-impossibilidades-da.html )

Vocês não querem ver como as vossas regras (foi isso que disseram, não foi? que há regras para cumprir) já limitaram mais do que o suficiente e o conveniente o nosso crescimento. Vá lá que já perceberam com os ingleses, que quando é preciso se mudam regras. Falta agora perceberem o que os italianos vos têm dito. Mas tiveram de bolsar aquela que a Grécia não está a fazer o suficiente para conter a vaga de refugiados. Tenham pudor, nem vale a pena argumentar perante tal disparate. Ajudem antes a parar a guerra, geoestratégico petrolífera ou lá o que for, e chamem a atenção da Turquia para respeitar o povo curdo.
Vocês estão a bloquear a Europa. O que será preciso fazer ? para vocês aceitarem isto tão simples, não podemos viver em deflação, com o desemprego e subemprego que isso acarreta, nem podemos ter diferenças de taxas de juro de país para país, nem podemos ter os defices estruturais ou suas taxas de variação que só podem existir nas vossas cabeças, nem podemos impedir o controle público das empresas estratégicas, nem podemos deixar as coisas nas vossas financeiras mãos, numa frase simples.
Parem lá de discutir se o corte das pensões e dos salários públicos é temporário ou estrutural, se entra, se sai das contas ou se pelo contrário.
Talvez só se possa sair deste impasse por ação do parlamento europeu. Mas têm de se entender para isso, os deputados europeus. Que parecem dominados pela incapacidade de se organizarem, como é caraterístico dos grupos de portugueses.
Não há paciência, vocês querem implodir a união, querem que a Grécia, a Inglaterra, nós, a Itália vos mandem passear?
Acham que não é possível? Deixem-me lembrar-vos que a seguir ao 25 de abril de 1974 também muitos governos estrangeiros ameaçaram Portugal com a quebra de negócios. Não deu em nada, a ameaça, os negócios são feitos com empresas, não com governos (pelo menos nalguns casos, os seficientes), e a Siemens, por exemplo, manteve os seus negócios. A General Eletric, por exemplo, não manteve.
São opções...

domingo, 23 de março de 2014

As ligações energéticas à Europa

Como dizia Duna Guedes, os políticos não percebem nada de cidades, e eu generalizo, de qualquer coisa (se soubessem estariam a trabalhar nela em vez de querer reduzir a realidade aos seus modelos).
Isto a propósito da afirmação de Durão Barroso de que as ligações energéticas à Europa são do maior interesse mútuo.
Algum técnico preocupado com o interesse nacional terá soprado a solução? Ou algum dos poucos governantes com formação técnica o terá feito? ou finalmente o diretorato de energia da união europeia conseguiu fazer perceber aos políticos como se resolve o problema?
A problemática da produção de energia a partir das renováveis já tem sido tratada neste blogue, tentando demonstrar que tem de ser ultrapassada a ganancia dos produtores com centrais de combustíveis fósseis (rendas para a disponibilidade das centrais para compensar a intermitencia das renováveis), ou a ignorancia paralizante de alguns ambientalistas.
Remeto para o texto em
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2013/10/viabilidade-das-energias-renovaveis-em.html

de que repito esta parte:
"parecerá razoável considerar do interesse da UE, atendendo à estratégia de redução de emissões de gases com efeito de estufa e de importação de combustíveis fósseis, a sua participação como investidora em linhas de transmissão de alta tensão contínua ligadas às fontes de produção solar e eólica em Portugal e Espanha, rentabilizando assim o excesso de capacidade instalada em Portugal e Espanha, e melhorando a reação aos picos de consumo por aumento da capacidade de interligação França-Espanha"


(o facto de se propor tensão contínua para a linha de transmissão deriva de questões de estabilidade em vazio da tensão da linha em alternada com um comprimento da ordem de um quarto do comprimento de onda de 50 ciclos/s, isto é, 1500 km)
e para os textos em
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2011/05/politica-energetica.html

e restantes textos em
fcsseratostenes.blogspohttp://fcsseratostenes.blogspot.pt/2011/05/politica-energetica.htmlt.pt/search?q=renováveis

Não parecendo que este blogue pudesse influenciar tão altas personagens credoras do reconhecimento do povo por tão bem terem sabido conduzir as coisas ao estado em  que se encontram,  resta-me pensar que talvez tenham sido convencidos, a propósito da crise na Ucrania, pela questão do fornecimento de gás e petróleo pela Russia à União Europeia.
Talvez...




quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Algirdas Semeta, comissário europeu para as taxações aduaneiras

Escondida num cantinho do jornal, uma notícia que deveria ter saído na primeira linha e ativado um controle de verificação da evolução do caso para daqui a um mês ou dois: o comissário europeu para as taxações aduaneiras, Algirdas Semeta, apresentou medidas de alteração do regime fiscal para evitar a fuga aos impostos através de empresas mãe sediadas num país com filiais noutros países. Transferindo lucros de uma para outras através de empréstimos, é atualmente possível escapar aos impostos, como aliás já tinha sido denunciado na Assembleia da República a propósito da Jerónimo Martins e da EDP e das suas sedes ou filiais na Holanda. É muito interessante ver que é da própria UE que vêm as soluções que o fraco governo se mostra incapaz de aplicar aos fortes grupos económicos.
E que dirão agora daquele argumento que não se devem beliscar os grandes grupos porque eles podem emigrar?
Assunto a seguir.
PS em 28 d enovembro - consta que foram pedidas explicações à Holanda , Irlanda e Luxemburgo sobre as "facilidades" fiscais que concedem às multi-nacionais, mas só se falou da Apple, da Starbucks... 


quarta-feira, 18 de julho de 2012

Mais um aparente paradoxo da democracia e a opinião do bispo

Será mais um paradoxo da democracia?


A classe politica dirigente da União Europeia impõe como sagrada a regra da concorrência como defesa das empresas de iniciativa privada.

Quando se diz sagrada, quer dizer que exclui a organização das empresas noutras formas que não sejam SARL, como empresas públicas, mútuas, parcerias, cooperativas (a falta que mais se faz sentir é a cooperativa).

Penso que essa exclusão não está escrita, mas na prática é imposta a todos os países da união.

Tal regra não parece que esteja inscrita também nos programas dos partidos políticos que detêm a maioria dos votos.

Se é assim, o eleitorado não deu o mandato a ninguem para impor o predomínio das empresas de iniciativa privada.

Isto é, quando se vai a votos o eleitorado exprime a sua vontade noutros centros de interesse, neste não.

Por exemplo, nos países escandinavos não se põe o problema de “reduzir o peso do Estado”.

O sistema de segurança social funciona, quer o governo seja de direita ou de esquerda.

Poderá ser que na origem deste facto esteja o célebre indicador de alfabetização da população: XVI foi o século em que metade da população escandinava atingiu a alfabetização; na Alemanha e na Inglaterra isso aconteceu no século XVII; seguiu-se a França no século XVIII, a Espanha no século XIX e Portugal no século XX.

Talvez por isso seja difícil em Portugal interpretar corretamente a ideia que outro exprimiu.

Nesta perspetiva, é estranho que a União Europeia continue alegremente a querer impor a liberalização absoluta.

Por exemplo na energia.

Há razões técnicas contra a dispersão por várias empresas. A principal, na distribuição, apesar da normalização, tem que ver com a gestão das redes e os riscos de deslastragens conduzirem a apagões progressivos.

No caso da produção, a liberalização e a fraqueza da planificação pública dificultam, e de que maneira, o estudo e a implementação das medidas de libertação da dependência do petróleo e de redução das emissões de CO2.

Os transportes são outro exemplo em que a liberalização contraria a segurança (as empresas privadas têm tendência para reduzir custos de manutenção, embora gostem de propalar os ganhos de produtividade, e de formação do pessoal) e a planificação integrada e estruturante de regiões. Igualmente dificulta a redução de emissões de CO2, apesar das taxas de externalidades que vem impondo aos aviões e aos camiões.





Retomando o tema, este aparente paradoxo da democracia consistirá no apoio cego a empresas privadas como um vicio escondido, oculto nas campanhas eleitorais, que se opõe ao progresso em muitos domínios da economia.

Nesta perspetiva, carece de análise profunda a insistência da troika na privatização da CP Carga, quando já existem duas empresas de transporte privado que parece darem-se bem com o negócio, a Takargo e a DB Schenker (2 comboios semanais entre Portugal e a Alemanha).
Idem a insistencia em impor companhias aéreas "low-cost" , altamente produtoras de emissões de CO2, beneficiando de infra-estruturas que sempre foram públicas (isto é, estão retirando a propriedade aos contribuintes, sem que, provavelmente, pelo menos 2/3 dos eleitores inscritos concordem - é uma figura de expropriação em sentido inverso)

Ainda nesta perspetiva, a imposição de privatizações será claramente a execução de um mandato que o eleitorado não conferiu aos políticos e aos financeiros, e será uma medida prejudicial para o interesse público, pelo menos nos exemplos citados.

E, se tenho razão, será exemplo de um assalto de um grupo de representantes de grupos económicos ou de académicos fundamentalistas das ideias de Hayeck e Friedmann para retirar da esfera pública a propriedade de meios de produção e entregá-las a privados.

Se tenho razão, também o bispo Torgal Ferreira terá, quando fala em gangues no atual governo.

E essa afirmação, minha e do bispo, que não pode ser classificada como proclamação da verdade (porque ninguém sabe o que é a verdade, nem mesmo a Igreja; apenas se pode dizer que, se é como eu penso, então as medidas do governo são prejudiciais para o interesse público; mas não há garantia de que as coisas sejam como eu penso, nem que sejam como o governo pensa), enquadra-se perfeitamente no comportamento tido no caso do BPN (também pelo governo anterior) no sentido da desvalorização progressiva do bem a privatizar até ser entregue ao grupo privado.



É curioso verificar que a estratégia do atual governo de desvalorização dos estaleiros de Viana do Castelo, nomeadamente a anulação do concurso para os motores e a chapa dos asfalteiros venezuelanos, se enquadra perfeitamente na ideia de um gangue que na campanha eleitoral não ocultou que ia privatizar empresas (aliás, nem deu importância a este assunto, uma vez que insistia no corte das despesas públicas e na taxação do consumo), mas ocultou que o ia fazer após as desvalorizar e que, uma vez no poder, tudo faria para desviar os recursos para empresas privadas .

Exemplo disso é o desvio de fundos do QREN de investimentos públicos para subsídios a empresas privadas.

Se foi assim, nem seria necessário apresentar queixa contra os governantes envolvidos, na desvalorização para privatização ou no desvio de fundos QREN do público para o privado.

Para isso existe o Ministério Público.

Mas é apenas uma hipótese, ou várias, claro.

PS em 19 de julho de 2012 - o porta voz da conferencia episcopal portuguesa classificou as afirmãções de Januário Torgal Ferreira como "a nível individual".
Mas também afirmou aue a Igreja deve proclamar a verdade. Já passaram uns dias e nenhuma hierarquia da Igreja veio desautorizar  Torgal Ferreira. Recordo até a afirmação de Jorge Ortiga, presidente da comissão pastoral social: "os politicos deveriam ter a coragem de ler os numeros e tirar consequencias". Apesar de não ser crente, quem escreve este blogue tem a esperança de que não aconteça o mesmo que aconteceu em 1971, quando o cardeal de Lisboa, António Ribeiro, preferiu não tomar partido quando um grupo de católicos, com o padre Alberto, se manifestou na capela do Rato contra a guerra colonial. Como dizia Kipling, citado pelo meu professor de sociologia, Pereira Ataíde, a neutralidade nestas coisas é um crime (até parece Torgal Ferreira a falar, não é?).
Afirmações de Torgal Ferreira:
"Há jogos atrás da cortina, habilidades e corrupção. Este governo é profundamente corrupto nestas atitudes a que estamos a assistir... o problema é civilizacional, porque é ético. Não acredito nestes tipos, nalguns destes tipos, porque são equívocos, porque lutam pelos seus interesses, têm o seu gangue, o seu clube, pressionam a comunicação social, o que significa que os anteriores que foram tão atacados, eram uns anjos ao pé destes diabinhos negros - alguns - que acabam de aparecer"







terça-feira, 12 de abril de 2011

Islandia, Islandia

Ontem acordei islandês.
Ou melhor, pensei que tinha acordado islandês, porque o referendo tinha chumbado o plano de pagamento da dívida à Holanda e à Inglaterra.
Mas o paráclito não desceu sobre mim e rapidamente verifiquei que continuava a não entender uma só das palavras islandesas, e que nem sequer era capaz de as articular corretamente.
Senti-me antes um neandertal.
Que não acredito que a espécie se tenha extinto.
Não por falta de capacidade da espécie Homo Sapiens para extinguir a espécie dos primos, graças às habilidades estratégicas dos seus, deles Sapiens,  mais requintados neurónios,  que os habilitam até a sugar e exterminar os próprios irmãos.
Mas deve haver por aí ADN de Neandertais, pois se até descobriram o fóssil da menina da Lourinhã, com ADN do sapiens e do neandertal.
Talvez seja isso que nos caracteriza, em Portugal, gostarmos de nos misturar; por que haveria um Neandertal de não se apaixonar por uma Sapiens, se essa era uma atividade mais interessante do que partir a cabeça a um Sapiens ou ter a cabeça partida por ele?
Alem de que a Sapiens, com os seus hemisférios cerebrais em permanente comunicação, certamente teria habilidades de gestão logistica que as Neandertal não teriam, e saberia apreciar as particularidades que o Neandertal tinha que o Sapiens não teria.
Talvez que no resto da Europa os Sapiens achassem que os Neandertais não eram tão capazes como eles de se sustentarem a si próprios, de produzir alimentos, caçar animais e fabricar ferramentas e utensílios de forma rentável de modo a manterem as tribos Neandertais sem necessidade de pedir ajuda às tribos Sapiens.
Ter-se-ão cansado de ajudar os Neandertais e então estes pobres foram-se afastando até darem de caras com o mar.
Não se extinguiram, estou convencido, mas poucos Sapiens se aventuraram  aqui a ver perder a sua produtividade ao misturarem-se com os Neandertais lusitanicus.
Isto pensava eu enquanto ouvia um islandês dizer ao entrevistador na televisão que não queria pagar as dívidas dos donos do banco que falira, o Icesave.

E, na verdade, porque vamos exigir aos contribuintes islandeses que paguem os custos de um esquema de Ponzi, mais conhecido em Portugal por esquema de D.Branca, em pirâmide e altamente especulativo por si próprio e pelo investimento nas obrigações colaterais do "subprime" norte americano e das subsequentes obrigações securitárias?

Resposta: porque as leis das finanças internacionais são as mesmas que eram no fim da Idade Média, quando a família Fugger (os financeiros sucessores da família Medici, financiadores das campanhas eleitorais de Carlos V e dos monarcas europeus do século XVI) obteve do papa a legalização de taxas de juro elevadas, proibidas até então, o que permitiu o florescimento de atividades internacionais especulativas sem correspondencia com bens efetivamente produzidos. Dito em linguagem modernaça, permitindo a "alavancagem" (este termo não significa a utilização de uma menor força para obter a elevação dum peso graças a um braço maior, significa que estamos a investir ou a creditar sobre um bem que tem ou pode vir a ter um valor muito inferior).
Então a receita que a finança internacional gostaria de aplicar à Islandia baseia-se em duas tecnologias medievais:
Primeiro: aplicar taxas de juro elevadas, vulgo agiotagem (ver o Mercador de Veneza, de Shakespeare, para avaliar o que as pessoas de bem da altura pensavam dos emprestadores a juros elevados); notar que a taxa do referndo islandês, de 3,5%, pode ser considerada elevada para quem não investiu no banco Icesave;
Segundo: a sangria, que é o que se está a fazer aos setores de menores recursos da comunidade; a justificação dos físicos medievais era que chupando o sangue do paciente a tensão arterial baixava e o estado geral melhorava; é o que os economistas-financeiros da atualidade ainda acham.

Aconteceu que os senhores "investidores" ingleses e holandeses decidiram investir no Icesave porque os juros eram altos (ter-se-ão achado estes cidadãos superiores em inteligencia aos comuns dos cidadãos que têm por norma não investir as suas poupanças em fundos de risco? ou mais capazes, como os sapiens relativamente aos neandertais? ou será que não é só em Portugal que existem "chicos-espertos", na Inglaterra e na Holanda tambem existem? daqueles que ultrapassam a fila de automóveis parada nos semáforos?).
Quando o banco faliu, coitado, com o Lehman Bros, a Islandia nacionalizou o Icesave (é para isso que serve a teoria económica moderna, para socializar os prejuízos e privatizar os lucros?)
E ainda mais curioso, à semelhança do BPN, que também socializou os seus prejuízos enquanto a holding-mãe  SLN continua com os seus ativos, também a holding-mãe do Icesave mantem os seus (dela) ativos, o que leva os cidadãos que votaram "não" a sugerir que se vendam esses ativos para pagar a dívida.
Entretanto, de forma muito civilizada, os bancos centrais da Inglaterra e da Holanda indemnizaram os "investidores" (um Neandertal poderia pensar que esses "investidores" eram cumplices de um esquema em pirâmide que eles próprios alimentavam na expetativa de retirar lucros acima do normal, em claro prejuízo da comunidade, mas não foi esse o entendimento, historicamente mais sofisticado, dos bancos centrais e da jurisprudencia financeira vigente).

Porém, eu, apesar de Neandertal, sou contemporizador.
Lá por na cultura Neandertal se considerar crime uma taxa de juro de 3,5% ou a taxação dos rendimentos de faixas populacionais de menores recursos, não quer dizer que essa não possa ser a lei das sociedades modernas.
Penso que sim, que se tivesse participado no referendo islandês teria votado a aceitação dos termos do pagamento da divida; e agora que o referendo chumbou o plano, votaria pela continuação das negociações para ver se se obtinha uma taxa de juro menor e um prazo de pagamento maior.
É que eu sou um admirador da primeiro-ministro islandesa, a senhora Joana Sigurdardotir (Joana, filha de Sigurdar - estive a treinar a pronuncia e até acho que o nome é bonito), que propôs a aprovação.
Quiçá como contrapartida pelas vantagens da adesão à União Europeia.

Mas então, como amigo da senhora Sigurdardotir, cumpre-me testemunhar que as vantagens da adesão são relativas.
Que só vale a pena aderir se quem adere for tratado como parte integrante e igual da União.
Que, se a parte que adere, não for capaz de tratar do seu sistema educativo, do seu sistema de justiça, do seu sistema de saúde, do seu parque habitacional, alguem da União há-de vir explicar e ajudar a resolver a questão.
Que, se a parte que adere, tiver pescas e agricultura a funcionar, não vêm decisores, de tez não tisnada pelo sol e pelo mar e sem calos nas mãos, decidir que peixe e que culturas se abandonam.
Que , se a parte que adere, tiver dificuldade em produzir bens uteis ou em construir linhas de caminho de ferro, alguem da União há-de vir ajudar a fazer a seleção dos investimentos e a elaborar os projetos de execução.
Que os banqueiros da União hão-de preocupar-se mais em arranjar taxas de juro baixas para investimentos na produção do que taxas de inflação baixas e que possam emprestar diretamente aos Estados, sem protecionismos dos intermediários domésticos.
Que ninguém na União se lembrará de impor privatizações, da extração do aluminio, da produção hidro-elétrica ou geotérmica, ou dos bancos, quando foi exatamente por a Islandia ter deixado privatizar os seus três principais bancos em 2000 que se iniciou a escalada dos esquemas especulativos.
Se assim for, aderir à União vale a pena.
Se não, não.
Mas isto sou eu a pensar, como neandertal da peninsula ocidental.

Nota: dirão alguns economistas que o caso da Islandia (mais 10.000 km2 do que Portugal) é diferente porque são 320.000 cidadãos e cidadãs. Talvez, mas se disserem isso estão a ignorar o significado de uma amostra laboratorial e as regras da analogia, homotética ou não. O PIB per capita da Islandia é de cerca de 27.000 € contra 16.000 € em Portugal. PIB da Islandia: 8.500 milhões de euro; PIB de Portugal: 165.000 milhões de euro. Mais uma vez, uma questão de produtividade.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Vaira Vike Freiberga




Vaira Vike Freiberga já foi presidente da república da Letónia.
O povo da Letónia tem uma história de repressão por ocupantes externos.
O filme André Rubliev (autor do ícone que ilustra este texto), do realizador russo André Tarkovsky, de 1971, contem um episódio da cristianização forçada deste e dos outros povos do Báltico nos séculos XIV e XV, submetidos pelos cavaleiros teutões, polacos e russos, e obrigados a abandonar o paganismo.
Um dos povos desapareceu mesmo. Puro genocídio.
De modo que Vaira Vike Freiberga tem autoridade moral para falar.
E que disse ela?
Que a União Europeia tem de deixar de funcionar como a antiga União Soviética.
O que permite deduzir que tem funcionado como tal e induzir que se não deixar de funcionar assim, deverá implodir.
Pessoalmente, apesar dos inconvenientes que vejo na União Europeia, como seja:
- o fundamentalismo da “concorrência” (disparate, estar a separar a produção , o transporte e a distribuição da electricidade; pode gerar “apagões”; além de que a experiência ensina que a concorrência pode levar ao abaixamento da qualidade exactamente para viabilizar custos baixos)
- o excesso de burocracia (i.é, eurocracia; poderia ser a isto que a senhora Vaira Vike se referia, quando se mostrou disponível para ser presidente da U E, criticando a obscuridade das negociações de bastidores para selecção de candidatos…)
- os riscos de que uns iluminados se reunam outra vez nos Açores e mandem soldados para a terra dos outros (não estou muito certo que a senhora queira referir-se a isto),
julgo que os benefícios superam os inconvenientes, pelo que não concordo com a senhora.
Não impludamos a UE.