Reparo que na secção de espetáculos e TV do jornal a notícia é que no dia anterior, 27 de dezembro, sábado, a audiencia da RTP2 foi de cerca de 1,1% , a pior do ano.
Reparei porque nesse dia tinha assistido à retransmissão do Don Giovanni, gravado em 2006 na inauguração do teatro das figuras de Faro. Cantores portugueses, à exceção do protagonista, Nicola Bau.
E tinha-me parecido um espetáculo de qualidade elevada, digno de figurar na programação do canal Mezzo, por exemplo.
Pois terá sido o dia de pior audiencia do canal RTP2.
Não vou culpar o público. Há anos, quando o São Carlos levava a ópera ao Coliseu, ele enchia-se. E hoje também se voltasse a haver ópera no Coliseu.
Também me recordo, sempre que se fala de cultura, da resposta de uma senhora, do povo, como se costuma dizer, que assistia à gravação de um "reality show" e dizia alegremente para a entrevistadora: "Sei muito bem que isto não é cultura, mas é disto que gostamos e estou muito contente por estar aqui a assistir".
É a diferença entre as senhoras do povo e os hierarcas que no governo ou nas instituições tomam decisões ou as boicotam.
As senhoras do povo sabem o que é cultura, os hierarcas terão aprendido a não saber o que é a cultura.
Ou simplesmente, a avaliar pelo comportamento dos senhores presidente da República, primeiro ministro e ministra das finanças, serão culturalmente extremamente limitados.
Por isso imagino Mozart e o seu libretista da Ponte a projetar na sua personagem D.João as psicopatologias dos detentores do poder. D.João diz claramente que não suporta oposição e não admite réplicas. Ilude o povo que se arma para o castigar.Subordina todos à sua vontade.
Ora é sabido, depois de Freud, que a necessidade de D.João se afirmar como conquistador (do governo se afirmar como triunfador na sua estratégia política) deriva da sua impotência de se realizar humanamente (do governo conseguir investimento e emprego).
Por isso o vejo como uma metáfora do imobilismo e da incapacidade do atual governo de investir nas coisas certas, recuando quando se trata de concretizar, como no caso da ligação ferroviária a Madrid ou de candidatar, aos fundos comunitários, investimentos em infraestruturas produtivas até 26 de fevereiro de 2015.
Se o dia da transmissão de Don Giovanni foi o da pior audiencia da RTP2, foi porque o governo é impotente para conduzir uma política eficaz de cultura.
Por isso se desculpará, como qualquer afetado por uma doença psicológica, com causas externas a si próprio, como não haver dinheiro (num país em que a gestão do pavilhão atlantico não parece ter problemas, em que os espetadores acorrem em massa aos festivais de verão, em que se vendem mais de 10.000 automóveis por mês?) nem procura de bens deste tipo de cultura. E que o melhor será fugir à ira popular como D.João, extinguir o canal RTP2 e privatizar a RTP.
Isto é, deixar que a programação seja decidida e aprovada numa assembleia de acionistas de acesso restrito e em que não é respeitada a regra "uma voz, um voto".
Já no tempo dos antigos atenienses se sabia que isso não era democracia.
Ver também:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2013/12/citacao-de-pedro-burmester.html
Mostrar mensagens com a etiqueta democracia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta democracia. Mostrar todas as mensagens
segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
O share da TV - Don Giovanni
Etiquetas:
cultura,
democracia,
fundos comunitários,
Mozart,
Ópera,
TV
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
Cinema - Hanna Arendt
Hanna Arendt, filme de Margarethe von Trotta
Confesso que fui desconfiado ver o filme.
Será difícil fazer um filme sobre uma filósofa teórica da organização politica.
Mas é um excelente filme com um texto muito bom, intensamente perturbador.
Biográfico quanto baste, mas com uma mensagem essencial, que me pareceu, dita por ela própria, ser esta: que nem sempre é o interesse egoísta que comanda a economia e a politica; que pode ser a ação de uns poucos que para isso detêm o poder, que decidem que outros são dispensáveis, que para nada são precisos. E que o mal que esse desvio da humanidade representa pode ser executado e espalhado por pessoas medíocres, que não questionam as ordens ou o pensamento dos seus chefes (“a triste verdade é que o mal é feito por pessoas que nunca decidiram se o que fazem é bom ou mau”).
Hanna Arendt referia-se ao totalitarismo nazi, ao julgamento de Eichmann e ao colaboracionismo de alguns lideres religiosos judeus durante a guerra com os próprios nazis.
E que mais grave do que a tentativa de genocídio é o próprio desvio que faz abater o mal com banalidade sobre as vítimas.
Mas que pensar de quem era jovem nos anos 30 e 40 e foi incorporado no exército alemão?
Que fazer nesas circunstancias?
Que fazer quando se era incorporado no exército colonial português e se recebia ordem de atacar os moimentos de libertação?
Mas que pensar de quem era jovem nos anos 30 e 40 e foi incorporado no exército alemão?
Que fazer nesas circunstancias?
Que fazer quando se era incorporado no exército colonial português e se recebia ordem de atacar os moimentos de libertação?
Como dotar a democracia de meios para evitar os totalitarismos? Nesse aspeto algumas garantias de democracia direta que se encontram até nas constituições de alguns países (referendos, iniciativas legislativas, assembleias de freguesia) poderiam ajudar, para alem da separação de poderes e, de forma indispensável, a educação das pessoas, para que pensem e não dependam do que lhes dizem os lideres, quer sejam religiosos quer sejam politicos.
Que podemos chamar a quem acha dispensáveis os seus semelhantes e os lança no desemprego?
E que fazer quando se é uma chefia intermédia e se recebe ordem de fazer uma lista de "dispensáveis"?
Para Hanna Arendt o julgamento de Eichmann devia fazer-se (embora num tribunal internacional), mas o mal estava antes do que estava a ser julgado, o genocídio; o mal esteve nas pessoas vulgares terem enveredado por considerar dispensáveis outras pessoas.
Filme terrivelmente atual para muitos, quando o mal se banaliza e se expande pelo planeta, enquanto comodamente alguns vão vivendo e votando nos lideresinhos politicos e validando as opções do poder bancário central.
Para Hanna Arendt o julgamento de Eichmann devia fazer-se (embora num tribunal internacional), mas o mal estava antes do que estava a ser julgado, o genocídio; o mal esteve nas pessoas vulgares terem enveredado por considerar dispensáveis outras pessoas.
Filme terrivelmente atual para muitos, quando o mal se banaliza e se expande pelo planeta, enquanto comodamente alguns vão vivendo e votando nos lideresinhos politicos e validando as opções do poder bancário central.
Etiquetas:
democracia,
Hanna Arendt,
nazismo
segunda-feira, 10 de junho de 2013
Como uma flor de plástico na montra de um talho
"Como uma flor de plástico na montra de um talho", poesia de Golgona Anghel, ed. Assírio e Alvim.
A autora é professora de literatura portuguesa contemporanea, romena de nascimento*.
É sempre bom renovarmo-nos com quem vem de fora.
Vê coisas que nós não viamos, dá uma nova força à resistencia contra a inépcia tornada insanidade crónica dos bonzos nacionais (os bonzos chineses que me perdoem) , contra as ideias feitas e a polarização em torno do pensamento único e restritivo do mesquinho meio dos dirigentes, contra o desprezo de quem pensa diferente, por mais cálculos demonstrativos ou resultados experimentais que apresente.
Talvez ajude a melhorar, o trabalho de quem vem de fora.
E quanto a mim, salvo melhor interpretação, quase toda a poesia de Golgona Anghel é de protesto.
Sem precisar de demonstrar com cálculos como as coisas deviam antes ser, que isso compete aos leitores.
Se os leitores, salvo melhor opinião, a lerem bem.
"Vocês podem até não concordar com tudo isto...sentem-se talvez ofendidos...agora, um facto é certo, queimámos quiçá a carne...mas correu muito bem...agora não se iludem, guardem os passarinhos para um churrasco gourmet. Este caminho não leva a lado nenhum.... deixem-nos ao menos vender-vos uma boa história".
Não é uma maravilha de descrição exata do que se está a passar nas mãos dos senhores governantes? Talvez o senhor ministro das finanças, que gosta tanto de citar autores (e meteorologistas), venha a citar Golgona Anghel.
E os eleitores islandeses terem dado a maioria ao partido que os conduziu à falencia em 2008, não será o poema "no domingo passado, estando eu feita num fanico, resolvi passar em casa da Gabi"? a Gabi estendeu a roupa, foi comprar pão, ouviu as queixas até que disse que já a tinha avisado, e que agora tinha um cliente novo e à pergunta de quem era respondeu que era um pugilista, e que "a musa precisa de alguma porrada".
Deuses, deuses, e se a democracia precisa mesmo?
Que dúvida atroz, e que perigo nas mãos do pensador de Massamá.
________________________________________
* «Vim porque me falaram de apanhar / cerejas / ou de armas de destruição em massa. / Mas só encontrei cucos e mexericos de / feira, / metralhadoras de plástico, coelhinhos de / Páscoa e pulseiras / de lata.»
- Porque é que se dá ao trabalho de viver no Portugal de 2011?
- Os verdadeiros encontros são sempre fatais.
A autora é professora de literatura portuguesa contemporanea, romena de nascimento*.
É sempre bom renovarmo-nos com quem vem de fora.
Vê coisas que nós não viamos, dá uma nova força à resistencia contra a inépcia tornada insanidade crónica dos bonzos nacionais (os bonzos chineses que me perdoem) , contra as ideias feitas e a polarização em torno do pensamento único e restritivo do mesquinho meio dos dirigentes, contra o desprezo de quem pensa diferente, por mais cálculos demonstrativos ou resultados experimentais que apresente.
Talvez ajude a melhorar, o trabalho de quem vem de fora.
E quanto a mim, salvo melhor interpretação, quase toda a poesia de Golgona Anghel é de protesto.
Sem precisar de demonstrar com cálculos como as coisas deviam antes ser, que isso compete aos leitores.
Se os leitores, salvo melhor opinião, a lerem bem.
"Vocês podem até não concordar com tudo isto...sentem-se talvez ofendidos...agora, um facto é certo, queimámos quiçá a carne...mas correu muito bem...agora não se iludem, guardem os passarinhos para um churrasco gourmet. Este caminho não leva a lado nenhum.... deixem-nos ao menos vender-vos uma boa história".
Não é uma maravilha de descrição exata do que se está a passar nas mãos dos senhores governantes? Talvez o senhor ministro das finanças, que gosta tanto de citar autores (e meteorologistas), venha a citar Golgona Anghel.
E os eleitores islandeses terem dado a maioria ao partido que os conduziu à falencia em 2008, não será o poema "no domingo passado, estando eu feita num fanico, resolvi passar em casa da Gabi"? a Gabi estendeu a roupa, foi comprar pão, ouviu as queixas até que disse que já a tinha avisado, e que agora tinha um cliente novo e à pergunta de quem era respondeu que era um pugilista, e que "a musa precisa de alguma porrada".
Deuses, deuses, e se a democracia precisa mesmo?
Que dúvida atroz, e que perigo nas mãos do pensador de Massamá.
________________________________________
* «Vim porque me falaram de apanhar / cerejas / ou de armas de destruição em massa. / Mas só encontrei cucos e mexericos de / feira, / metralhadoras de plástico, coelhinhos de / Páscoa e pulseiras / de lata.»
- Porque é que se dá ao trabalho de viver no Portugal de 2011?
- Os verdadeiros encontros são sempre fatais.
(entrevista a
Golgona Anghel, em
Etiquetas:
como uma flor de plástico na montra de um talho,
democracia,
Golgona Anghel,
ministro das finanças
domingo, 14 de abril de 2013
Castrados
Como dizem os franceses, "chapeau" para o cartonista André Carrilho, e a sua metáfora "castrados" no DN Opinião Déjà vu.
A Republica, ou a Democracia, ou a Constituição, violada, e o castigo dos violadores pela Justiça, cega (há quem defenda antes uma castração química, também como metáfora, claro...).
Dirão os violadores que não foi uma violação, que foi a República, ou a Democracia ou a Constituição que, sem burka, e vivendo e exagerando no gozo da liberdade, mereceu a intervenção e o corretivo.
Faltam de facto mecanismos de defesa, de participação das pessoas de bem de modo a evitar estas coisas.
Mas os tempos são de insegurança, sem dúvida, e de riscos para quem vive em liberdade.
PS - antes que as dificuldades de expressão e de identificação da mensagem do emissor pelo recetor induzam alguém a pensar que neste blogue se apela à violencia contra a opressão do governo, repete-se que se trata de uma metáfora, de uma transposição para o sentido figurado, como diz o dicionário. Efetivamente, as regras do debate devem ser cumpridas para que haja reconhecimento pelo recetor do que quis dizer o emissor, sendo certo que a lingua portuguesa permite más interpretações. Vejam-se as discussões tormentosas sobre o acordo ortográfico e o "esquecimento", quando se critica o acordão do Tribunal Constitucional com a reprovação das 4 medidas; um pequeno trecho desse acordão recorda que o governo tem toda a legitimidade para legislar sobre os direitos ou sua cassação dos funcionários públicos, mas que não pode violar uma lei que existe, por mais que uma eventual lei, no futuro, revogue essa lei. Nem é uma questão jurídica, é uma questão de lógica comunicacional. Salvo melhor interpretação, evidentemente.
Etiquetas:
democracia,
violação
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
Andaluzia, Andaluzia, ou repensar a Democracia
Andalucia, Andalucia
O dono do restaurante sentou-se à nossa mesa enquanto a cozinha dava andamento ao pedido, tortilhas de gambas e calamares.
Poucos dias antes tinham-se realizado as eleições para o governo regional.
Andalucia está deitada no mapa da peninsula, recostada em Portugal e um pouco maior do que ele.
As praças de Ayamonte ainda estão cheias de panos com a propaganda dos partidos.
A tarde está quente e amodorrada.
¿Qué cantan los poetas andaluces de ahora?
¿Qué miran los poetas andaluces de ahora?
¿Qué sienten los poetas andaluces de ahora?
Cantan con voz de hombre..
¿pero dónde los hombres?
..con ojos de hombre miran,
¿pero dónde los hombres?
..con pecho de hombre sienten,
¿pero dónde los hombres?
Cantan, y cuando cantan
parece que están sólos...
Miran, y cuando miran
parece que están sólos...
Sienten,..y cuando sienten
¡parecen que están solos!..
¿Es que ya Andalucía
..se ha quedado sin nadie?
¿Es que acaso en los montes andaluces
..no hay nadie?
¿Es que en los mares y campos andaluces..
no hay nadie?
¿No habrá ya quien responda a la voz del poeta?
¿Quien mire al corazón sin muros del poeta?
¡Tantas cosas han muerto..
que no hay más que el poeta!
¡Cantad alto!
..Oiréis que oyen otros oidos.
¡Mirad alto!
Veréis que miran otros ojos...
¡Latid alto!
..Sabréis que palpita otra sangre...
No es más hondo el poeta..
en su oscuro subsuelo, encerrado...
Su canto asciende a más profundo
cuando , abierto en el aire..,
ya es de todos los hombres...
Rafael Alberti
O dono do restaurante diz que não, que a Andaluzia não está deserta nem solitária, apesar da industrialização nunca ter chegado em pleno (e contudo, a industria química de Huelva já é por demais poluente).
E que sim, está aberta a todos.
Depois de tudo o que aconteceu, continua a acreditar na democracia, mesmo que seja preciso repensá-la.
- Sim, repensar a democracia todos concordamos, mas não nos entendemos sobre como repensá-la, ou nem sequer temos tempo ou disponibilidade para repensá-la.
- Talvez seja por eu ter tempo para pensar - responde o andaluz - enquanto não chegam os clientes, enquanto o sol não acalma
- Que fazia antes de abrir o restaurante?
- Trabalhava num pequeno estaleiro de construção naval. Sou engenheiro naval.
- É o primeiro trabalho da democracia. Saber responder à pergunta "Que sabem fazer as pessoas?" , no pressuposto de que antes as ensinou e lhes deu condições para aprenderem, e pô-las a trabalhar.
- Seguro que sim, mas as leis da economia não se compadecem com isso. O estaleiro fechou porque não cobria os custos de produção.
- E resolveu abrir o restaurante.
- Aproveito quando tenho pouco movimento para escrever. Quero repensar a democracia, escrever sobre isso, como se traçasse o projeto de um navio para o oferecer ao serviço das pessoas, de um modo que as pessoas sigam os passos do projeto.
Quero partir da declaração universal dos direitos humanos.
Ou talvez começar pela última frase do programa do manifesto do partido comunista.
- Mas não tem receio de afastar as pessoas com essas ideias marxistas?
- Já não me lembrava do manifesto. A ingenuidade de chamar burgueses aos detentores do poder dos grupos económicos, a abstração redutora da luta de classes, a intuição incipiente do poder das tecnologias nas relações de posse da produção. É outra forma de dizer o que Saint-Simon e Louis Blanc diziam e que até Adam Smith talvez subscrevesse, “de cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades”.
Mas os eleitores não ligam muito, as taxas de abstenção são grandes e fracas as votações nos partidos de esquerda.
É paradoxal, não acha? Numa altura em que as taxas de desemprego crescem.
- Artigo 23, nº1 da declaração universal dos direitos humanos: “Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.”
Todo o governo que não o defender viola a declaração universal, por mais voltas que dê.
Mas os governos de direita por essa Europa fora conseguiram fazer esquecer isto aos eleitores.
Aos abstencionistas nem sequer, que os parlamentos deveriam ter os lugares vazios que correspondessem aos votos em branco e aos abstencionistas; mas aos eleitores conseguiram fazer esquecer.
- É verdade, vê-se bem pelas regras da união europeia e do banco central que as políticas orientadoras são de direita, inspiradas pelas experiencias ultra liberais de Reagan e de Thatcher.
- Talvez não seja mistério.
Primeiro, desacreditou-se tudo o que fosse entidade pública, foi-se buscar a sagrada ideia da iniciativa privada cheia de mérito e a necessidade da concorrência para baixar os preços.
Assim se retirava às entidades públicas a intervenção na vida económica e financeira.
Depois apelou-se descaradamente aos direitos individuais, ou melhor, individualistas, exacerbaram-se os direitos dos consumidores, ao mesmo tempo que se desprezava quem produzia bens de utilidade concreta.
- Fecharam-se estaleiros…
- Os políticos papagueavam que só uma pequena parte da população devia viver dos setores primário e secundário. A desindustrialização da Europa e o predomínio dos serviços ou da informática de gadgets gerou desemprego.
- Estou de acordo. Os políticos e os financeiros da Europa burocrática conseguiram comprar o apoio dos eleitores também com a compressão dos custos na produção e na comercialização.
- Isso conseguiu-se com a globalização e a deslocalização da produção para o exterior . Os preços baixos conseguem-se diminuindo a procura através do corte do poder de compra e do aumento do desemprego.
As pessoas agradecem os preços baixos mas são elas que com os seus sacrifícios e o seu desemprego os tornam possíveis.
Vieram depois os especuladores acabar a obra, a emprestar dinheiro cuja dívida não podia ser paga apesar dos juros baixos e apareceram aqueles produtos, como os financeiros dizem, de loucura, os derivados seguros de crédito, com cotações virtuais sem correspondência com a riqueza real produzida.
- E depois de tudo o que aconteceu, depois dos governos vagamente de esquerda terem tentado apoiar os investimentos públicos, como dizia o Keynes, e só conseguido aumentar a dívida, as pessoas continuam a preferir governos de direita.
Deu resultado, a campanha contra os funcionários públicos e o endeusamento do individualismo.
O erro dos marxistas primitivos foi o de terem acreditado na força. A violência foi-lhes desfavorável. Devemos aprender com Gandhi, a não violência é mais forte do que a ganancia. Os grandes grupos económicos têm a lógica dos tubarões, equipados com os mais eficientes sensores de obtenção de mais valias, seja à custa do que for. Mas a ecologia descobriu que não devemos extinguir as espécies, antes devemos aproveitá-las.
Por exemplo, a cadeia de supermercados que drena dinheiro para a compra dos alimentos estrangeiros é a mesma entidade que patrocina um fórum de publicações de analise das grandes questões da sociedade, de que uma delas é precisamente a exportação de dinheiro.
- Mais de 60% da costa da Andaluzia ficou coberta de edificiois - muitos deles não estão vendidos. No tempo de Garcia Lorca 3% de andaluzes eram proprietários de 45% das terras agrícolas; hoje 3% são proprietários de 55%. A tendência devia ser ao contrário. A produção agrícola e industrial é essencial para todo o país, A organização do território também. Há presidentes de junta que sorteiam empregos nas suas pequenas autarquias, empregos temporários, para que depois a lotaria possa sair a outros.
- É como antigamente na praça da jorna, no Alentejo, na praça do Giraldo, por exemplo.
- É preciso lata, como vocês dizem, dar prioridade à recuperação dos bancos; na Irlanda foram 31 mil milhões, na vossa terra são 8 mil milhões. Dizem que o Bankia e as cajas vão chegar aos 60 mil milhões. Empestimos mal parados em Espanha montam a 180 mil milhões. Não foi quem trabalha para o seu sustento que cometeu estes crimes.
Mas os contribuintes da Irlanda, de Espanha, de Portugal e Grécia estão a pagar os prejuizos dos bancos.
- Na Islândia não foi assim, que importa estarem fora dos mercados, se os mercados forem a metáfora do agiota que oprime o mercador de Veneza. Falhou o manifesto do partido comunista porque a força está de facto nos bancos e nos governos que os salvam sempre que dão um ai.
O banco central não pode emprestar diretamente aos governos enquanto entidade publica? Que é isso? Estamos a sustentar os intermediários do dinheiro e dos empréstimos sem contrapartida de dinheiro real?
- É verdade que os regulamentos da união europeia não estão a ajudar – isto foi dizendo o dono do restaurante enquanto se levantava para ir buscar os pratos que a cozinha tinha dado por prontos. E nem a tortilha nem os calamares impediram a continuação da conversa - não há direito que o BCE não possa emprestar diretamente aos governos, não há direito que o BCE empreste a juros baixos aos amigos dos bancos privados que depois emprestam a juros altos aos governos. As populações não elegeram os dirigentes do BCE, nem eles cumprem as deliberações do parlamento europeu.
- É asfixiante, de facto, e sem aceitar uma pequena inflação é impossível haver crescimento. Mas as pessoas apesar do desemprego, acham sempre que talvez consigam sobreviver sem problemas.
É como acreditar na lotaria. Só 5% tem hipóteses de ganhar algum coisa significativa, e 95% estão na parte central da curva de distribuição, onde nenhum prémio significativo é atribuído. As pessoas não querem aceitar a frieza do raciocínio, terem 95% de probabilidades de nada lhes sair. Que é o que acontece na economia, quando os governos ultraliberais despedem ou ajudam a despedir as pessoas, esperam que elas tenham êxito na concorrência feroz, espera que tenham ideias brilhantes para aproveitar nichos de mercado, mas só 5% podem ter êxito.
-É a fé que mantem as pessoas. Elas têm de acreditar que conseguem, senão a auto-estima delas sufoca-as.
- Mas os números do insucesso são deprimentes, e isso irá refletir-se daqui a uns anos nos jovens, que não resistirão às tentações da marginalidade, do vandalismo, da desqualificação literária e profissional.
- Eis a tarefa da democracia, evitar isso.
- Mas assim como está não consegue evitar. Não é possível aos eleitores avaliar convenientemente as ações dos governos
Havia um pensador politico (Schumpeter) que dizia que as leis da concorrência também se aplicam aos partidos politicos, e que os partidos têm de concorrer e fazer marketing para obter o maior numero de votos dos eleitores.
- Com esse critério é natural que a democracia esteja a falhar . Não são os fundamentos das ações nem as ações que convencem os eleitores, são a sua perceção; e a perceção pode não corresponder à realidade.
- Sim, a variável tempo das ações e das medidas tomadas pode ser superior ao tempo de uma legislatura. O efeito de uma decisão pode só aparecer depois das próximas eleições, e o juízo do eleitorado far-se-á em função desse efeito quando o governo já é outro. Schumpeter é também o homem da destruição criativa, a forma sofisticada e moderna de falar da política de terra queimada. Desde empobrecer as pessoas para não comprarem bens importados, até destruir uma industria para não concorrer com os investidores estrangeiros.
-É ao que estamos assistindo na península. Mas a democracia representativa não é um cheque em branco associado a falsas promessas eleitorais. Deve passar a ser participativa e deliberativa, não pode ficar pela representação porque qualquer representação introduz erro de transmissão entre o eleitor e o eleito.
Não é um partido que detem a solução, não é a alternância, é a partilha de ideias e a mistura de ideias com a contribuição do maior numero de cidadãos e cidadãs.
- Acusou-se o Estado assistencial, ou social, ou providencia, de dissipar ineficientemente os recursos financeiros.
No fundo apenas se pretendia obter apoio social para a oligarquia dos grandes grupos económicos e financeiros.
Aniquilaram assim o sonho de Marx, de colocar as conquistas das tecnologias ao serviço do bem estar das populações trabalhadoras (“de cada um segundo as suas capacidades”) e conseguir a eliminação das estruturas de dominação do Estado e das oposições de classe de modo que “o livre desenvolvimento de cada um é condição para o livre desenvolvimento de todos” .
E no lugar do sonho surgiu o mito do super-homem, no sentido pré-fascismos do conceito, da plenitude da liberdade para o consumidor de escolher, e para o empresário de investir.
- As populações não têm medo de trabalhar, precisam de trabalhar, é a essência da vida em sociedade, o produzir bens e serviçoes úteis, não é a riqueza e o património que interessa, é produzir.
- E no meio da crise surgiu a declaração paternalista dos governos subordinados aos dogmas dos grandes dirigentes financeiros (Goldman Sachs, government Sachs) e dos grandes bancos centrais, de compressão dos custos a todo o custo, de apoio incondicional aos banqueiros e de globalização destrutiva das economias locais (agricultura, pescas, industria, atacadas pelos produtos de baixo custo baseados em transportes de longa distancia baratos graças à contenção politica e militar dos preços do petróleo): “o Estado intervem quando e onde os privados não possam ou não queiram desenvolver a sua atividade”.
Como? Quem são esses privados que decidem o que podem ou querem fazer na economia? São os cidadãos comuns? ou as condições financeiras exigidas, de restrição ao clube dos grandes oligopólios, só permitem que sejam estes a decidir? E foram eleitos para isso? As suas assembleias gerais de acionistas permitem aos comuns cidadãos eleger quem decide o rumo da economia? E os dirigentes dos bancos centrais, foram eleitos? Ou sequer tiveram de se candidatar em concursos públicos? Então não me digam que a democracia não está gravemente doente, sem armas para se defender destes oportunistas (no sentido biológico do parasita de uma árvore ou do agente de infeção dos tecidos de células) .
O Estado só tem obrigações quando esses privados autorizam?
Sinceramente, era o que mais faltava, por mais promíscua que seja a relação entre partidos políticos, grupos financeiros, especialistas de legislação e grupos económicos.
- Também eu não tenho vocação para investidor, para empresário, e estou aqui a gerir um restaurante. Sou um técnico. Não devia ter de me preocupar com questões comerciais, de marketing, de busca de financiamentos e preocupação permanente com equilibrios orçamentais. De acordo que devo entender os números, mas sou técnico de produção, e é nisso que me devia concentrar. Mas enfim, às vezes tenho o prazer de conversar com turistas simpáticos.
- Gracias pela minha parte. O Estado é a organização da população para os fins consignados na declaração universal dos direitos humanos (que presupõem evidentemente obrigações, como seja o respeito da igualdade de direitos), e os especialistas de finanças, os bancos centrais e os governos têm como obrigação respeitar esses fins.
Dirão paternalisticamente os senhores governantes que não há dinheiro para tanto.
Qualquer cidadão sabe gerir situações semelhantes e sabe como qualquer especialista de finanças que quando não há dinheiro, para alem de evitar gastos supérfluos, a solução é arranjar um negócio cujo investimento seja remunerado com o tempo.
O mal amado ministro da economia do meu país bem tenta fazer-se ouvir, no meio da algazarra mediática das vozes mais fortes no governo e no parlamento, que só falam em cortes da despesa pública ou em manobras de diversão de pormenor (esquecendo por exemplo a auditoria à dívida eterna privada), que a solução é “o financiamento da economia pelos fundos comunitários e operacionalização do banco de fomento. Paralelamente as pessoas contribuirão com as poupanças para a reindustrialização do país”. Trata-se de medidas clássicas em economia.
Cortes cegos é que não.
Alguns municípios têm a felicidade de ter dirigentes que compreendem que as populações têm de combater isso.
Mas cansa e desmoraliza ver as sucessivas tentativas de grupos de cidadãos organizarem-se para diversificar as soluções dos partidos políticos e fracassarem perante a soberana indiferença ou contravapor destes.
- No meu país a constituição da Republica quase que dá o monopólio da ação politica aos partidos políticos.
Mas têm sido os partidos que têm sido responsáveis pelos governos que têm alternadamente desperdiçado as oportunidades de crescimento económico.
Os sucessos que se verificaram nos indicadores, por exemplo de mortalidade infantil , de longevidade, de bem estar, deveram-se à capacidade técnica de quem trabalha nessas áreas.
Ficaram por corrigir os maus indicadores de desigualdade social de Gini e os maus resultados dos inquéritos aos alunos PESI.
Soçobrámos na utilização dos fundos comunitários para equipar o país com infraestruturas produtivas, desindustrializámos, aumentámos a dependência das importações alimentares e de combustiveos fósseis.
E foram os partidos que alternaram no poder que inconscientemente, por ignorância das problemáticas técnicas, ou por corrupção entre amigos, deixaram que acontecesse.
- Temos esperança. Aqui na Andaluzia o partido popular , habitual no poder, ganhou as eleições, mas perdeu o governo para o outro partido habitual, o socialista obreiro, que se coligou com a esquerda unida.
Enquanto não conseguimos montar uma democracia popular, de participação efetiva nas tomadas de decisão, é melhor assim, que nenhum partido se considere dono das decisões.
- Infelizmente isso não se pode garantir em todas as eleições, dada a aleatoriedade das votações.
Seria bom que o espaço para as iniciativas da sociedade civil fosse alargado.
Poderíamos começar por validar o voto em branco e juntar-lhe os votos nulos e as abstenções para os representar no parlamento. Os lugares correspondentes ficariam vagos.
Ou, em alternativa, tornar o voto obrigatório.
Porque os partidos que ganham as eleições com menos de 30% de votos relativamente aos eleitores inscritos sentem-se mandatados para o que não foram na realidade. Os lugares vazios no parlamento ajudariam a humildade dos senhores governantes. Que deveriam recorrer mais vezes ao referendo.
Felizmente vão aparecendo umas iniciativas fora do âmbito dos partidos políticos. Mas estes só as toleram, não as desejam. Grupos de cidadãos têm-se organizado para discutir alternativas às politicas e medidas de austeridade, outros tentam auditar as dividas, publicas e privadas, externas e internas, para tentarem compreender onde atuar preferencialmente. Existem programas notabilíssimos de análise de dados reais na televisão e rádio publicas. Algumas associações profissionais promovem seminários onde são analisadas questões sectoriais concretas e propostas de investimento.
Porem, a tirania das necessidades quotidianas rouba capacidade de ação organizada.
À estrutura hierárquica e de comunicação dos órgãos públicos falta fluidez e flexibilidade.
Faltam claramente mecanismos de recolha e tratamento de dados, de análise de propostas e falta sobretudo debate público eficiente.
Não deveria ser difícil melhorar isto.
Nas instituições,por exemplo nos institutos de estatística, existem técnicos competentes, de quem não se tem retirado o que eles podem dar.
Das universidades saem técnicos altamente preparados que poderiam ajudar no arranque de empresas produtivas ou no relançamento da construção civil, na reabilitação urbana, nas novas redes ferroviárias, através da elaboração dos projetos absolutamente necessários para a obtenção dos fundos comunitários de que fala o ministro.
- É revoltante assistir-se a este marasmo, ao aumento do desemprego, à frustração das expetativas.
É doentia a preocupação dos governantes em reduzir os quadros de pessoal.
Que farão as pessoas no desemprego?
São hipócritas, porque o aumento do desemprego é propositado. É um mecanismo para a contenção dos preços através da diminuição da procura.
Os governantes estão patologicamente dependentes do objetivo de contenção de custos, mesmo que para isso aumentem o desemprego e contenham a produção industrial e agro-alimentar.
É contra isso que a sociedade civil se deve organizar.
Participar nas tomadas de decisão, não as delegar por eleições.
- Existe um episódio registado num dos comícios de Lenine, após a revolução de Outubro. O interlocutor de Lenine, discordando do seu discurso, disse que, a ser assim, até uma mulher a dias podia dar uma opinião e dar origem a uma decisão contrária à orientação dos dirigentes políticos. Ao que Lenine respondeu que isso sim, seria a democracia se a decisão fosse partilhada pela maioria da população e fosse compatível com os direitos das minorias.
Claro que estamos discutindo a utopia, além de que a sociologia cientifica ainda não tinha descoberto, no tempo de Lenine, que o segredo da democracia e da correção das decisões populares é as multidões exprimirem, com independência de modas bruscas (cuidado quando as multidões vão de repente atrás de uma unanimidade), opiniões com suficiente diversidade e que sejam também diversas as fontes de informação, de modo que os desvios se compensem em vez de se reforçarem mutuamente e polarizarem em torno do erro de políticos oportunistas e demagógicos; garantindo assim que a decisão coletiva é melhor do que a de qualquer individuo, por mais inteligente e esclarecido que seja.
Como diz um livrinho de Paulo Trigo Pereira editado por uma cadeia de supermercados do meu país, quem diria, a sociedade civil deve organizar-se em "think tanks" para dinamizar o debate e as reformas das políticas.
Como diz um livrinho de Paulo Trigo Pereira editado por uma cadeia de supermercados do meu país, quem diria, a sociedade civil deve organizar-se em "think tanks" para dinamizar o debate e as reformas das políticas.
- Não devemos delegar nos partidos políticos a nossa capacidade de decisão, através de cheques em branco durante as eleições, e esperarmos depois toda uma legislatura para voltar a passar outro cheque em branco.
Até porque há questões técnicas que têm soluções técnicas independentes dos programas eleitorais dos partidos políticos.
Questões como o fornecimento energético, as rede de transportes, a organização e os equipamentos do do território, rural e urbano, são questões sobre as quais todos os partidos devem acordar uma estratégia comum, apesar da dificuldade que deriva da apetência dos neo-liberais para “entregar” o máximo de atividade económica a grupos privados que têm grande dificuldade em seguir politicas integradas e acima dos interesses dos acionistas em obter lucros independentemente do interesse das populações.
- Eu costumo citar os exemplos que vêm da América do Norte, onde coexiste o que de melhor a humanidade é capaz de produzir e o que mais a pode envergonhar.
Naquele livrinho sobre métodos de decisões coletivas de que eu gosto muito, “A sabedoria das multidões”, de James Surowiecky, o autor, no capitulo 12, descreve as experiencias de sondagens deliberativas (“deliberative polls”) de James Fishkin, professor da universidade do Texas.
Toma-se uma amostra representativa da população a quem são fornecidos dossiers sobre as questões a analisar e, num fim de semana, reúnem-se em grupos que ouvem especialistas sobre as questões sobre as quais deliberam. Segue-se a recolha e análise dos resultados dos grupos.
No fundo, é o método seguido pelos consultores das empresas ou de grupos de empresas de um setor, quando querem tirar o máximo partido do conhecimento dos profissionais. É a forma de ativar os "think tanks".
A minha proposta é generalizar este método através de todas as freguesias do país e fazer circular a informação recolhida com a participação dos cidadãos na rede institucional das freguesias no seu relacionamento com o poder central, obrigando este a considerar essa informação na sua ação executiva (governo) e legislativa (parlamento).
Passava a ser mais uma competência das freguesias, ou grupos de freguesias, a organização destas sondagens deliberativas.
- Seria a democracia direta, o que democracia verdadeiramente quer dizer, a utopia que desejamos. Se a pudéssemos realizar, em Portugal e na Andaluzia …
E assim, depois do café, nos despedimos, com reflexos do sol no Guadiana.
Referencias:
- Andalucia y Garcia Lorca, edição Incafo SA, Madrid, 1984
- A sabedoria das multidões, James Surowiecky, edição Lua de papel
- Portugal: dívida pública e défice democrático, Paulo Trigo Pereira, edição Fundação Francisco Manuel dos Santos
- "think tanks" :
Auditoria cidadã à divida
congresso das alternativas
transparência internacional
perdão da dívida
taxação financeira
Budget Watch – Exame orçamental
OBI – open budget initiative
Open knowledge foundation
http://en.wikipedia.org/wiki/Open_Knowledge_Foundation
Plataforma para o crescimento sustentável
http://www.crescimentosustentavel.org/
Plataforma para o crescimento sustentável
http://www.crescimentosustentavel.org/
Etiquetas:
a sabedoria das multidões,
Andaluzia,
democracia,
divida publica,
think tanks
quarta-feira, 18 de julho de 2012
Mais um aparente paradoxo da democracia e a opinião do bispo
Será mais um paradoxo da democracia?
A classe politica dirigente da União Europeia impõe como sagrada a regra da concorrência como defesa das empresas de iniciativa privada.
Quando se diz sagrada, quer dizer que exclui a organização das empresas noutras formas que não sejam SARL, como empresas públicas, mútuas, parcerias, cooperativas (a falta que mais se faz sentir é a cooperativa).
Penso que essa exclusão não está escrita, mas na prática é imposta a todos os países da união.
Tal regra não parece que esteja inscrita também nos programas dos partidos políticos que detêm a maioria dos votos.
Se é assim, o eleitorado não deu o mandato a ninguem para impor o predomínio das empresas de iniciativa privada.
Isto é, quando se vai a votos o eleitorado exprime a sua vontade noutros centros de interesse, neste não.
Por exemplo, nos países escandinavos não se põe o problema de “reduzir o peso do Estado”.
O sistema de segurança social funciona, quer o governo seja de direita ou de esquerda.
Poderá ser que na origem deste facto esteja o célebre indicador de alfabetização da população: XVI foi o século em que metade da população escandinava atingiu a alfabetização; na Alemanha e na Inglaterra isso aconteceu no século XVII; seguiu-se a França no século XVIII, a Espanha no século XIX e Portugal no século XX.
Talvez por isso seja difícil em Portugal interpretar corretamente a ideia que outro exprimiu.
Nesta perspetiva, é estranho que a União Europeia continue alegremente a querer impor a liberalização absoluta.
Por exemplo na energia.
Há razões técnicas contra a dispersão por várias empresas. A principal, na distribuição, apesar da normalização, tem que ver com a gestão das redes e os riscos de deslastragens conduzirem a apagões progressivos.
No caso da produção, a liberalização e a fraqueza da planificação pública dificultam, e de que maneira, o estudo e a implementação das medidas de libertação da dependência do petróleo e de redução das emissões de CO2.
Os transportes são outro exemplo em que a liberalização contraria a segurança (as empresas privadas têm tendência para reduzir custos de manutenção, embora gostem de propalar os ganhos de produtividade, e de formação do pessoal) e a planificação integrada e estruturante de regiões. Igualmente dificulta a redução de emissões de CO2, apesar das taxas de externalidades que vem impondo aos aviões e aos camiões.
Retomando o tema, este aparente paradoxo da democracia consistirá no apoio cego a empresas privadas como um vicio escondido, oculto nas campanhas eleitorais, que se opõe ao progresso em muitos domínios da economia.
Nesta perspetiva, carece de análise profunda a insistência da troika na privatização da CP Carga, quando já existem duas empresas de transporte privado que parece darem-se bem com o negócio, a Takargo e a DB Schenker (2 comboios semanais entre Portugal e a Alemanha).
Idem a insistencia em impor companhias aéreas "low-cost" , altamente produtoras de emissões de CO2, beneficiando de infra-estruturas que sempre foram públicas (isto é, estão retirando a propriedade aos contribuintes, sem que, provavelmente, pelo menos 2/3 dos eleitores inscritos concordem - é uma figura de expropriação em sentido inverso)
Ainda nesta perspetiva, a imposição de privatizações será claramente a execução de um mandato que o eleitorado não conferiu aos políticos e aos financeiros, e será uma medida prejudicial para o interesse público, pelo menos nos exemplos citados.
E, se tenho razão, será exemplo de um assalto de um grupo de representantes de grupos económicos ou de académicos fundamentalistas das ideias de Hayeck e Friedmann para retirar da esfera pública a propriedade de meios de produção e entregá-las a privados.
Se tenho razão, também o bispo Torgal Ferreira terá, quando fala em gangues no atual governo.
E essa afirmação, minha e do bispo, que não pode ser classificada como proclamação da verdade (porque ninguém sabe o que é a verdade, nem mesmo a Igreja; apenas se pode dizer que, se é como eu penso, então as medidas do governo são prejudiciais para o interesse público; mas não há garantia de que as coisas sejam como eu penso, nem que sejam como o governo pensa), enquadra-se perfeitamente no comportamento tido no caso do BPN (também pelo governo anterior) no sentido da desvalorização progressiva do bem a privatizar até ser entregue ao grupo privado.
É curioso verificar que a estratégia do atual governo de desvalorização dos estaleiros de Viana do Castelo, nomeadamente a anulação do concurso para os motores e a chapa dos asfalteiros venezuelanos, se enquadra perfeitamente na ideia de um gangue que na campanha eleitoral não ocultou que ia privatizar empresas (aliás, nem deu importância a este assunto, uma vez que insistia no corte das despesas públicas e na taxação do consumo), mas ocultou que o ia fazer após as desvalorizar e que, uma vez no poder, tudo faria para desviar os recursos para empresas privadas .
Exemplo disso é o desvio de fundos do QREN de investimentos públicos para subsídios a empresas privadas.
Se foi assim, nem seria necessário apresentar queixa contra os governantes envolvidos, na desvalorização para privatização ou no desvio de fundos QREN do público para o privado.
Para isso existe o Ministério Público.
Mas é apenas uma hipótese, ou várias, claro.
PS em 19 de julho de 2012 - o porta voz da conferencia episcopal portuguesa classificou as afirmãções de Januário Torgal Ferreira como "a nível individual".
Mas também afirmou aue a Igreja deve proclamar a verdade. Já passaram uns dias e nenhuma hierarquia da Igreja veio desautorizar Torgal Ferreira. Recordo até a afirmação de Jorge Ortiga, presidente da comissão pastoral social: "os politicos deveriam ter a coragem de ler os numeros e tirar consequencias". Apesar de não ser crente, quem escreve este blogue tem a esperança de que não aconteça o mesmo que aconteceu em 1971, quando o cardeal de Lisboa, António Ribeiro, preferiu não tomar partido quando um grupo de católicos, com o padre Alberto, se manifestou na capela do Rato contra a guerra colonial. Como dizia Kipling, citado pelo meu professor de sociologia, Pereira Ataíde, a neutralidade nestas coisas é um crime (até parece Torgal Ferreira a falar, não é?).
Afirmações de Torgal Ferreira:
"Há jogos atrás da cortina, habilidades e corrupção. Este governo é profundamente corrupto nestas atitudes a que estamos a assistir... o problema é civilizacional, porque é ético. Não acredito nestes tipos, nalguns destes tipos, porque são equívocos, porque lutam pelos seus interesses, têm o seu gangue, o seu clube, pressionam a comunicação social, o que significa que os anteriores que foram tão atacados, eram uns anjos ao pé destes diabinhos negros - alguns - que acabam de aparecer"
A classe politica dirigente da União Europeia impõe como sagrada a regra da concorrência como defesa das empresas de iniciativa privada.
Quando se diz sagrada, quer dizer que exclui a organização das empresas noutras formas que não sejam SARL, como empresas públicas, mútuas, parcerias, cooperativas (a falta que mais se faz sentir é a cooperativa).
Penso que essa exclusão não está escrita, mas na prática é imposta a todos os países da união.
Tal regra não parece que esteja inscrita também nos programas dos partidos políticos que detêm a maioria dos votos.
Se é assim, o eleitorado não deu o mandato a ninguem para impor o predomínio das empresas de iniciativa privada.
Isto é, quando se vai a votos o eleitorado exprime a sua vontade noutros centros de interesse, neste não.
Por exemplo, nos países escandinavos não se põe o problema de “reduzir o peso do Estado”.
O sistema de segurança social funciona, quer o governo seja de direita ou de esquerda.
Poderá ser que na origem deste facto esteja o célebre indicador de alfabetização da população: XVI foi o século em que metade da população escandinava atingiu a alfabetização; na Alemanha e na Inglaterra isso aconteceu no século XVII; seguiu-se a França no século XVIII, a Espanha no século XIX e Portugal no século XX.
Talvez por isso seja difícil em Portugal interpretar corretamente a ideia que outro exprimiu.
Nesta perspetiva, é estranho que a União Europeia continue alegremente a querer impor a liberalização absoluta.
Por exemplo na energia.
Há razões técnicas contra a dispersão por várias empresas. A principal, na distribuição, apesar da normalização, tem que ver com a gestão das redes e os riscos de deslastragens conduzirem a apagões progressivos.
No caso da produção, a liberalização e a fraqueza da planificação pública dificultam, e de que maneira, o estudo e a implementação das medidas de libertação da dependência do petróleo e de redução das emissões de CO2.
Os transportes são outro exemplo em que a liberalização contraria a segurança (as empresas privadas têm tendência para reduzir custos de manutenção, embora gostem de propalar os ganhos de produtividade, e de formação do pessoal) e a planificação integrada e estruturante de regiões. Igualmente dificulta a redução de emissões de CO2, apesar das taxas de externalidades que vem impondo aos aviões e aos camiões.
Retomando o tema, este aparente paradoxo da democracia consistirá no apoio cego a empresas privadas como um vicio escondido, oculto nas campanhas eleitorais, que se opõe ao progresso em muitos domínios da economia.
Nesta perspetiva, carece de análise profunda a insistência da troika na privatização da CP Carga, quando já existem duas empresas de transporte privado que parece darem-se bem com o negócio, a Takargo e a DB Schenker (2 comboios semanais entre Portugal e a Alemanha).
Idem a insistencia em impor companhias aéreas "low-cost" , altamente produtoras de emissões de CO2, beneficiando de infra-estruturas que sempre foram públicas (isto é, estão retirando a propriedade aos contribuintes, sem que, provavelmente, pelo menos 2/3 dos eleitores inscritos concordem - é uma figura de expropriação em sentido inverso)
Ainda nesta perspetiva, a imposição de privatizações será claramente a execução de um mandato que o eleitorado não conferiu aos políticos e aos financeiros, e será uma medida prejudicial para o interesse público, pelo menos nos exemplos citados.
E, se tenho razão, será exemplo de um assalto de um grupo de representantes de grupos económicos ou de académicos fundamentalistas das ideias de Hayeck e Friedmann para retirar da esfera pública a propriedade de meios de produção e entregá-las a privados.
Se tenho razão, também o bispo Torgal Ferreira terá, quando fala em gangues no atual governo.
E essa afirmação, minha e do bispo, que não pode ser classificada como proclamação da verdade (porque ninguém sabe o que é a verdade, nem mesmo a Igreja; apenas se pode dizer que, se é como eu penso, então as medidas do governo são prejudiciais para o interesse público; mas não há garantia de que as coisas sejam como eu penso, nem que sejam como o governo pensa), enquadra-se perfeitamente no comportamento tido no caso do BPN (também pelo governo anterior) no sentido da desvalorização progressiva do bem a privatizar até ser entregue ao grupo privado.
É curioso verificar que a estratégia do atual governo de desvalorização dos estaleiros de Viana do Castelo, nomeadamente a anulação do concurso para os motores e a chapa dos asfalteiros venezuelanos, se enquadra perfeitamente na ideia de um gangue que na campanha eleitoral não ocultou que ia privatizar empresas (aliás, nem deu importância a este assunto, uma vez que insistia no corte das despesas públicas e na taxação do consumo), mas ocultou que o ia fazer após as desvalorizar e que, uma vez no poder, tudo faria para desviar os recursos para empresas privadas .
Exemplo disso é o desvio de fundos do QREN de investimentos públicos para subsídios a empresas privadas.
Se foi assim, nem seria necessário apresentar queixa contra os governantes envolvidos, na desvalorização para privatização ou no desvio de fundos QREN do público para o privado.
Para isso existe o Ministério Público.
Mas é apenas uma hipótese, ou várias, claro.
PS em 19 de julho de 2012 - o porta voz da conferencia episcopal portuguesa classificou as afirmãções de Januário Torgal Ferreira como "a nível individual".
Mas também afirmou aue a Igreja deve proclamar a verdade. Já passaram uns dias e nenhuma hierarquia da Igreja veio desautorizar Torgal Ferreira. Recordo até a afirmação de Jorge Ortiga, presidente da comissão pastoral social: "os politicos deveriam ter a coragem de ler os numeros e tirar consequencias". Apesar de não ser crente, quem escreve este blogue tem a esperança de que não aconteça o mesmo que aconteceu em 1971, quando o cardeal de Lisboa, António Ribeiro, preferiu não tomar partido quando um grupo de católicos, com o padre Alberto, se manifestou na capela do Rato contra a guerra colonial. Como dizia Kipling, citado pelo meu professor de sociologia, Pereira Ataíde, a neutralidade nestas coisas é um crime (até parece Torgal Ferreira a falar, não é?).
Afirmações de Torgal Ferreira:
"Há jogos atrás da cortina, habilidades e corrupção. Este governo é profundamente corrupto nestas atitudes a que estamos a assistir... o problema é civilizacional, porque é ético. Não acredito nestes tipos, nalguns destes tipos, porque são equívocos, porque lutam pelos seus interesses, têm o seu gangue, o seu clube, pressionam a comunicação social, o que significa que os anteriores que foram tão atacados, eram uns anjos ao pé destes diabinhos negros - alguns - que acabam de aparecer"
Etiquetas:
alfabetização,
cooperativa,
democracia,
energia,
estaleiros de Viana do Castelo,
gangues,
liberalização,
privatizações,
Torgal Ferreira,
transportes,
União Europeia
terça-feira, 3 de julho de 2012
De vez em quando lembro-me da minha reclamação contra o corte das laranjeiras da praça de Alvalade. São as conceções de democracia de quem detem o poder.
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2010/03/as-laranjeiras-da-praca-de-alvalade.html
Onde havia laranjeiras e sombra, no verão, existem agora as pedras ao sol.
Vá que sobreviveram, graças à crise e a contragosto dos decisores, algumas árvores sobre o eixo do metropolitano, na Avenida de Roma. Não queriam árvores no eixo, pronto.
Já se vêem algumas flores de jacarandá, muito tímidas.
Mais uma vez digo, que apesar de tudo as árvores, apesar de importantes, não são o mais importante.
O mais importante são as conceções de democracia, mas é o que se vê.
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2010/03/as-laranjeiras-da-praca-de-alvalade.html
Onde havia laranjeiras e sombra, no verão, existem agora as pedras ao sol.
Vá que sobreviveram, graças à crise e a contragosto dos decisores, algumas árvores sobre o eixo do metropolitano, na Avenida de Roma. Não queriam árvores no eixo, pronto.
Já se vêem algumas flores de jacarandá, muito tímidas.
Mais uma vez digo, que apesar de tudo as árvores, apesar de importantes, não são o mais importante.
O mais importante são as conceções de democracia, mas é o que se vê.
Etiquetas:
democracia,
laranjeiras,
urbanismo
sexta-feira, 2 de março de 2012
A Colombiana
Não vou uma fazer uma crítica ao filme mais ou menos frívolo "A colombiana".
Vou apenas referir a ordem de deportação de um juiz da Florida, USA, para expulsão de Daniela Pelaez, de 18 anos, aluna da escola secundária de Miami Norte, nascida na Colombia, trazida para os USA aos 4 anos, e numa situação ilegal devido ao divórcio dos seus pais.
O juiz que invocou apenas a lei para justificar a deportação ignora o que é o período de formação de um ser humano e o criminoso que é a deportação de uma pessoa de 18 anos que não tem memória da sua terra natal.
Interessa-me seguir este caso para ver se os mecanismos democráticos existentes (manifestação de colegas e pais de alunos protestando contra a deportação; recurso para a instancia superior pedindo a ativação de uma cláusula de exceção) vão dar resultados.
Interessa-me sempre ver como a democracia pode resistir aos que a atacam, quer de fora, quer de dentro, utilizando mecanismos legais, como é o caso.
Mecanismos de controle mútuo e de segurança de respeito pelos direitos humanos, para que a democracia seja imune aos ataques da discriminação e da desigualdade de acesso aos benefícios da civilização, precisam-se, quer a dívida pública seja grande ou pequena.
Vou apenas referir a ordem de deportação de um juiz da Florida, USA, para expulsão de Daniela Pelaez, de 18 anos, aluna da escola secundária de Miami Norte, nascida na Colombia, trazida para os USA aos 4 anos, e numa situação ilegal devido ao divórcio dos seus pais.
O juiz que invocou apenas a lei para justificar a deportação ignora o que é o período de formação de um ser humano e o criminoso que é a deportação de uma pessoa de 18 anos que não tem memória da sua terra natal.
Interessa-me seguir este caso para ver se os mecanismos democráticos existentes (manifestação de colegas e pais de alunos protestando contra a deportação; recurso para a instancia superior pedindo a ativação de uma cláusula de exceção) vão dar resultados.
Interessa-me sempre ver como a democracia pode resistir aos que a atacam, quer de fora, quer de dentro, utilizando mecanismos legais, como é o caso.
Mecanismos de controle mútuo e de segurança de respeito pelos direitos humanos, para que a democracia seja imune aos ataques da discriminação e da desigualdade de acesso aos benefícios da civilização, precisam-se, quer a dívida pública seja grande ou pequena.
Etiquetas:
democracia,
deportação,
direitos humanos
domingo, 19 de fevereiro de 2012
Nossa Senhora da República
Nossa Senhora da República,
protege o teu heroi
e os que aqui se reuniam,
no tempo da outra senhora
quando os capacetes do capitão Maltez
lhes apontavam as coronhas das espingardas aos peitos
Nossa Senhora da República,
o teu heroi não gostava de estar no meio dos pobres e dos ofendidos,
não gostava de sindicalistas, anarco-sindicalistas,
socialistas ou comunistas,
era a voz da burguesia esclarecida,
mas a República deve ir além dos seus heróis, não é?
Por isso, Nossa Senhora da República,
protege os que agora são os pobres de recursos,
e os humilhados pelo menosprezo dos que se assenhorearam da República
Nossa Senhora da República e da Democracia,
que já conquistastes a Liberdade,
afaga o caminho para a Igualdade e a Fraternidade
E pronto, sou um sentimental, ou piegas, na versão dos senhores governantes, os betinhos do governo, na pitoresca expressão do bastonário da ordem dos advogados.
Depois de ler o conto da Marília, do livro "O homem do turbante verde", de Mário Vieira de Carvalho, evocando as manifestações dos 5 de Outubro, não resisti aos encantos da estátua.
Etiquetas:
democracia,
Republica
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
O grupo do primeiro ministro foi condenado por suborno
O grupo Fininvest do primeiro ministro Bersluconi foi condenado a pagar 750 milhões de euros ao grupo CIR (jornais Repubblica e L’Espresso) por se ter provado em tribunal que tinha subornado um juiz, há 20 anos, para lhe atribuir a propriedade da editora Mondadori…
Tinha razão Churchill, a Democracia é o pior sistema. Só que os outros ainda são piores.
Veja-se a reclamação de um grupo de portugueses que quer substituir a palavra República, na Constituição, por Democracia, para poderem referendar a Monarquia.
Estarão equivocados, um dos pilares da Democracia é a igualdade perante a lei de todos os cidadãos, sem que nenhum esteja predestinado a ser chefe de Estado, nem a estar isento perante os tribunais.
Venti anni…poiché la Democrazia è bella
E se nel Portugallo studiassero la vecchia e dubbiosa proprietá dei azioni dei gruppi grande?
Tinha razão Churchill, a Democracia é o pior sistema. Só que os outros ainda são piores.
Veja-se a reclamação de um grupo de portugueses que quer substituir a palavra República, na Constituição, por Democracia, para poderem referendar a Monarquia.
Estarão equivocados, um dos pilares da Democracia é a igualdade perante a lei de todos os cidadãos, sem que nenhum esteja predestinado a ser chefe de Estado, nem a estar isento perante os tribunais.
Venti anni…poiché la Democrazia è bella
E se nel Portugallo studiassero la vecchia e dubbiosa proprietá dei azioni dei gruppi grande?
Etiquetas:
corrupção,
democracia,
estrutura accionista
terça-feira, 16 de junho de 2009
No meu país morreram 3 crianças num incêndio
No meu país morreram ontem 3 crianças num incêndio num edifício abandonado, em Pinhal Novo.
No dia 22 de Maio deste ano, escrevi a propósito do incêndio de Avis:
"No meu país 3 crianças morreram há dias no incêndio de uma barraca.Bolas para os laudatórios das virtudes e dos resultados do partido no poder e do seu secretário geral.Não porque a culpa do incêndio seja do partido ou do seu secretário geral.Não é isso que eu digo, embora seja com isso que os cérebros dos seus laudatórios os estarão a enganar, a eles, laudatórios, para poderem vestir a pele da inocente vítima acusada.O que eu quero dizer, sem querer acusar ninguém, é que nós reagimos mal a estas notícias porque manifestamos o nosso desgosto e viramos a página.Há incêndios em barracas com morte de crianças porque nós portugueses não nos sabemos organizar em trabalho colectivo nem sabemos organizar-nos de modo a tomar as decisões certas."
Escrevo apenas por indignação.
Porque os jornais discutem questiúnculas.
Não questionam por que se economiza cortando nos quadros de técnicos e porque não se gasta dinheiro com equipas pluri-disciplinares, com jovens licenciados (poupem-me aos grandes gabinetes de senhores emproados que dão entrevistas a explicar que os outros são ignorantes mas têm sido eles e não os outros a conduzir "isto" ao estado em que está).
É possível em Portugal.
Não com a cultura dominante.
Vejam em qualquer empresa.
A facilidade com que se deixa cair um assunto "porque não é comigo" e "cada um no seu galho" e "ainda temos de pedir autorização para"...
É assim natural que o parque habitacional do país se degrade.
Todos diziam mal da lei das rendas. Alguns iluminados, num governo também iluminado, fizeram umas alterações. Perfeitamente inuteis, dignas de ignorantes, embora os iluminados não fossem ignorantes, claro.
A habitação continua a degradar-se.
São conhecidos exemplos históricos noutros países, de como se chegou à mesma situação e de como se saíu dela (achei interessantissimo quando me contaram o caso do bairro de Harlem, em New York, que já não é o inferno que chegou a ser).
Fala-se vagamente (a Ordem dos Engenheiros, por exemplo, algumas associações profissionais) em programas de recuperação a custos controlados.
Mas falha a capacidade de organização e o planeamento.
Surgem os senhores emproados, muitos deles eleitos, a explicar como é, i.é, como assim já não pode ser.
Mas ser possível é, até há case studies que mereciam melhor divulgação, desde as opiniões dos profs Carvalho Rodrigues e António Câmara (ver o programa da Maria Elisa também com Elvira Fortunato), até aos exemplos nalgumas câmaras do país (não olhem a partidos, por favor, olhem só ao trabalho dos técnicos que lá estão a produzir coisas úteis)...
Mas os jornais acham mais importante noticiar os incêndios em que morrem crianças, ficar-se por aí, culpar os toxico-dependentes "okupas" e garantir que as crianças já estavam sinalizadas.
Este país não é para velhos, nem para crianças, nem para doentes, nem para pobres.
E contudo, os jovens licenciados de serviço social, de sociologia, de psicologia, estudaram soluções, têm soluções.
Onde entram os economistas nesta equação?
Será que são os próprios mecanismos da Democracia que se estão a opor às soluções?
Ou será simplesmente que não pode haver Democracia sem Democratas?
No dia 22 de Maio deste ano, escrevi a propósito do incêndio de Avis:
"No meu país 3 crianças morreram há dias no incêndio de uma barraca.Bolas para os laudatórios das virtudes e dos resultados do partido no poder e do seu secretário geral.Não porque a culpa do incêndio seja do partido ou do seu secretário geral.Não é isso que eu digo, embora seja com isso que os cérebros dos seus laudatórios os estarão a enganar, a eles, laudatórios, para poderem vestir a pele da inocente vítima acusada.O que eu quero dizer, sem querer acusar ninguém, é que nós reagimos mal a estas notícias porque manifestamos o nosso desgosto e viramos a página.Há incêndios em barracas com morte de crianças porque nós portugueses não nos sabemos organizar em trabalho colectivo nem sabemos organizar-nos de modo a tomar as decisões certas."
Escrevo apenas por indignação.
Porque os jornais discutem questiúnculas.
Não questionam por que se economiza cortando nos quadros de técnicos e porque não se gasta dinheiro com equipas pluri-disciplinares, com jovens licenciados (poupem-me aos grandes gabinetes de senhores emproados que dão entrevistas a explicar que os outros são ignorantes mas têm sido eles e não os outros a conduzir "isto" ao estado em que está).
É possível em Portugal.
Não com a cultura dominante.
Vejam em qualquer empresa.
A facilidade com que se deixa cair um assunto "porque não é comigo" e "cada um no seu galho" e "ainda temos de pedir autorização para"...
É assim natural que o parque habitacional do país se degrade.
Todos diziam mal da lei das rendas. Alguns iluminados, num governo também iluminado, fizeram umas alterações. Perfeitamente inuteis, dignas de ignorantes, embora os iluminados não fossem ignorantes, claro.
A habitação continua a degradar-se.
São conhecidos exemplos históricos noutros países, de como se chegou à mesma situação e de como se saíu dela (achei interessantissimo quando me contaram o caso do bairro de Harlem, em New York, que já não é o inferno que chegou a ser).
Fala-se vagamente (a Ordem dos Engenheiros, por exemplo, algumas associações profissionais) em programas de recuperação a custos controlados.
Mas falha a capacidade de organização e o planeamento.
Surgem os senhores emproados, muitos deles eleitos, a explicar como é, i.é, como assim já não pode ser.
Mas ser possível é, até há case studies que mereciam melhor divulgação, desde as opiniões dos profs Carvalho Rodrigues e António Câmara (ver o programa da Maria Elisa também com Elvira Fortunato), até aos exemplos nalgumas câmaras do país (não olhem a partidos, por favor, olhem só ao trabalho dos técnicos que lá estão a produzir coisas úteis)...
Mas os jornais acham mais importante noticiar os incêndios em que morrem crianças, ficar-se por aí, culpar os toxico-dependentes "okupas" e garantir que as crianças já estavam sinalizadas.
Este país não é para velhos, nem para crianças, nem para doentes, nem para pobres.
E contudo, os jovens licenciados de serviço social, de sociologia, de psicologia, estudaram soluções, têm soluções.
Onde entram os economistas nesta equação?
Será que são os próprios mecanismos da Democracia que se estão a opor às soluções?
Ou será simplesmente que não pode haver Democracia sem Democratas?
Etiquetas:
democracia,
morte de crianças,
soluções de serviço social
Subscrever:
Mensagens (Atom)