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quarta-feira, 15 de abril de 2015

Armazenamento por flywheels e por sais térmicos; as coisas mexem-se

O colega Mário Ribeiro, sempre atento, enviou-me a notícia da construção de uma subestação na Irlanda com flywheels (volantes de inércia no vácuo com rolamentos magnéticos) como dispositivos de armazenamento da energia elétrica produzida em excesso nos períodos de fraco consumo.
Eu, que sou da escola clássica, diria que o despacho da energia não devia depender para além do razoável das questões económicas, mas no contexto atual a ideia é armazenar a energia elétrica nos períodos de baixo consumo em que a remuneração do MWh é baixa (pouca procura), armazená-la e vendê-la depois a melhor preço nos períodos de maior procura (pontas do diagrama de cargas).

Uma pequena incursão pela wikipedia informou-me que a subestação poderá fornecer 20 MW durante 15 minutos, ou 5 MWh. Será um princípio, uma experiencia piloto como outras na Irlanda (foram estendidos cabos submarinos entre a Irlanda e a Inglaterra para alimentar consumos na Inglaterra  nos períodos de vazio na Irlanda.
São experiencias de que os beneficiários dos CMEC não gostam, mas parecem-me muito válidas.
Cada volante de inércia pode fornecer 100kW durante 15 minutos, isto é, pode armazenar cerca de 25 kWh. São fabricados pela Beacon Power, a estimativa de custos é de 250 € por kW instalado,  e usam a mesma tecnologia dos centrifugadores para produção de uranio enriquecido (vácuo, rolamentos magnéticos sem contacto).

As formas de armazenamento da energia elétrica podem ser as seguintes (é uma pena o atual governo não querer candidatar o desenvolvimento destas formas a fundos comunitários, com a desculpa de que não há dinheiro e que se gastou muito em infraestruturas):
- bombagem em centrais hidráulicas reversíveis
- baterias estacionárias
-depósitos de ar comprimido (a produção de ar comprimido será mais rentável se descentralizada, isto é, em postos locais de produção alimentados pela rede elétrica)
- produção descentralizada por eletrólise de hidrogénio, especialmente para fins de tração rodoviária (idem - 1 kg de hidrogénio consome 60 kWh)
- volantes de inércia (flywheels)
- sais térmicos em centrais solares com concentradores e sais térmicos para conservar o calor depois do por do sol  (solução já muito utilizada em Espanha e na Califórnia)

Foi pois com satisfação que na edição da revista Ingenium da Ordem dos Engenheiros de janeiro-fevereiro de 2015 encontrei um artigo dscritivo das vantagens das centrais hibridas de concentradores solares com sais térmicos e back up com combustíveis fósseis (eu preferiria sem a intervenção fóssil, com a diversificação das formas de produção renovável mesmo à custa de menores rendimentos, e a redução até 3% da rentabilidade das PPP de energia, sendo certo que apesar do atual governo as ter reduzido a 8% se deve assinalar o facto  como positivo) .
O artigo traça uma perspetiva interessante do panorama energético ibérico, e é da autoria dos profs H.M.I.Pousinho, V.M.F.Mendes, M.Colares Pereira e C.Pereira Cabrita, das universidades de Évora, ISEL e Beira Interior.

Isto é, a coisa irá, vai mexendo, será imparável, apesar do baixo preço do petróleo e do gás natural e da força dos seus comercializadores.

PS - Cheguei a estudar as experiencias de flywheels no metropolitano de Londres. Eram instalados nas subestações de tração, absorvendo a energia de regeneração da travagem dos comboios e devolviam-na, descontando o rendimento, claro, no arranque dos comboios. Penso que o metro de Hamburgo tambem teve uma instalação experimental. Parece que não vingaram as experiencias. Tambem se pensou montá-los nas automotoras (há muitos anos circularam num metro dos USA esses volantes de inércia). Penso que os construtores de autocarros elétricos tambem estão a experimentar isto. E os construtores de fórmula 1 para absorver a energia de travagem e devolvê-la nas acelerações. Enfim, admirável mundo da tecnologia de aplicações à mobilidade. Mas sem certezas... o petróleo está baratinho e o gás não é problema...

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Problemas de Energia em Portugal - Olhos nos olhos, programa da TVI em 25 de novembro de 2013

O convidado do programa era o engenheiro Henrique Gomes, o secretário de Estado da Energia demitido pelo atual governo, que assim manifestou a sua incompetencia em assuntos técnicos.
Mas Henrique Gomes fugiu à explicação da sua demissão, comentada na imprensa como tendo sido celebrada com champanhe pela direção da EDP.
Preferiu concentrar-se na problemática da energia, chamando a atenção para que as instituições reguladoras não têm força e que os célebres CMECs (contratos de custos de manutenção dos equilíbrios contratuais - eufenismo para retirar os riscos da exploração dos operadores) deveriam ser renegociados porque nada há nas diretivas europeias que o proiba.
E com isso explicou a sua demissão, mostrando complementarmente os gráficos com a subida de receitas da EDP e dos outros operadores à custa dos consumidores e, no futuro, graças ao defice tarifário, dos contribuintes.
Discordo de Henrique Gomes quando manifesta esperança para Portugal nos preços baixos do petróleo e gás de xisto que recolocou os USA como produtores autosuficientes e exportadores independentes do médio Oriente. Penso que os transportes têm de se adaptar à tração elétrica (ou por hidrogénio obtido por eletrólise a partir das eólicas) e aumentar a capacidade de armazenamento da rede elétrica.
Mas o seu testemunho é precioso para mostrar a inexistencia de estratégia do atual governo e o protecionismo escandaloso que pratica relativamente aos interesses dos grandes produtores.
Como Medina Carreira comentou, se o mercado não funciona, justifica-se a renacionalização da REN e da EDP (o que, quanto a mim e nas condições reais existentes, não existem diretivas eurpeias que o impeçam).
Não pode honestamente o atual governo dizer que os contratos CMEC (e os memorandos com a troika) são intocáveis quando repete à saciedade os seus anseios de revisão da Constituição e quando altera unilateralmente os contratos sobre reformas e pensões.
Em linguagem mais divulgada, é assim possível, com base no parecer de Henrique Gomes,
 renegociar as tais "rendas" da Energia.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O 11ºcongresso da ADFERSIT no centro de congressos do Estoril em 17 e 18 de outubro de 2013

"Meu Senhor, tende piedade dos que andam de bonde..."                                                                            (Vinicius de Morais, o desespero da piedade,  
                                                                                 ver o poema completo no fim deste post)

Podia ter sido este o tema do congresso, que talvez tivesse ficado mais próximo das causas últimas do desolador panorama dos transportes em Portugal, mesmo sem considerar as culpas que nisso a crise terá.
Mas não, o tema foi "Os transportes, a energia e o ambiente".
Graças aos patrocinadores foi possível debater algumas questões relacionadas durante dois dias, no edificio cedido pela camara municipal de Cascais.
Este blogue teve a hora de fazer uma apresentação sobre energias renováveis e a tração rodoviária com hidrogénio, que já foi inserida neste blogue.
A atividade da ADFERSIT, enquanto expressão do conhecimento teórico e prático dos seus técnicos, é uma prova de que é possivel à sociedade civil e aos cidadãos não organizados em partidos mostrar soluções concretas.
Infelizmente, o bloqueio à operacionalização das soluções imposto pela própria estrutura politica e partidária tem sido muito eficaz e a eficácia das ações como as da ADFERSIT reduzida.
Não parece assim ter sido suficientemente profundo o debate que se verificou, nem passíveis de rápida concretização as medidas propostas, nem existirão grandes esperanças de que o poder politico, especialmente na sua vertente económica e financeira, tenham recebido as mensagens.
Fica uma sensação de que a população anda a ser enganada quando é revelado, numa das apresentações do congresso, que no programa dos fundos europeus de coesão 2000-2006,  Portugal utilizou 24% das verbas (equivalente a 5.000 milhões de euros) em  infraestruturas de transportes (certo, já sabemos, muito foi mal gasto em autoestradas, mas consideremos o estado prévio deplorável das ligações rodoviárias). Nos fundos do programa de 2007-2013 foi programada uma utilização de 13% (equiv.2.800 Meuro) para infraestruturas de transportes, que foi baixada para 9% !!! (equiv.1.900 Meuro) pelo atual governo em 2012.
Será, para utilizar os termos de Vinicius, uma piedosa distancia da realidade e das necessidades da comunidade portuguesa em transportes (passageiros e mercadorias,claro) por parte dos decisores.
Ter-se-á manifestado mais uma vez a maldição dos economistas, que manipulam as suas contabilidades sem saber como funcionam na realidade as coisas correspondentes (não se pretende ofender, apenas que perguntem como as coisas funcionam e qual o efeito delas não funcionarem, ou de não se construirem as respetivas infraestruturas).

Foi comunicado no congresso que a UE aprovou o plano dos fundos europeus (QEE - quadro estratégico europeu, sucessor do QREN, dotado, para Portugal, duma verba total de 21.800 Meuro) para 2014-2020 com as prioridades das redes Transeuropeias, que incluem os corredores ferroviários atlanticos Lisboa/Sines/Setubal - Madrid e Leixões/Aveiro - Salamanca (para passageiros e mercadorias, claro).
Ficam assim, mais uma vez, sem argumentação os decisores e seus apoiantes que repetem "não há dinheiro" .
Que parte da frase "a UE aprovou as redes transeuropeias com os corredores atlanticos com comparticipação de 85%" não terão percebido?
Mas há um problema: os projetos já deveriam estar a ser elaborados a todo o vapor, e reina o silencio sobre isso.
Foi dito informalmente que nas verbas sobrantes do QREN ainda cabiam os acabamentos da estação do metro da Reboleira de correspondencia com a linha de Sintra.
E que nas verbas do QEE seriam contempladas a ampliação dos cais da estação Arroios e a adaptação a pessoas com mobilidade reduzida de algumas estações do metro.
Esperemos, embora o problema principal seja aquele: é preciso acabar rapidamente os projetos para a  candidatura ser aprovada, vencer a inércia, o olharmos uns para os outros sem nehuma entidade decisora tomar a iniciativa, enquanto a bola do voleibol cai no chão e a equipa perde o ponto.
Das sessões especializadas em que participei, saliento a necessidade de redução da dependencia de combustíveis fósseis nos transportes (36% da energia primária, 3.700 milhões de euros anuais, correspondente a petróleo importado, é consumido em transportes rodoviários)  através do desenvolvimento de frotas elétricas (relacionado com isto, são boas sugestões a construção de uma linha de muito alta tensão de corrente continua entre Portugal, Espanha e França para absorver o excesso de produção das eólicas, e a conclusão do plano de barragens com centrais hidroelétricas com bombagem).
De assinalar que, entre os participantes, ainda há técnicos que não estão sensibilizados para a maior eficiencia energética por passageiro.km de uma linha ferroviária Lisboa-Madrid quando comparada com a ligação aérea (a economia energética de uma ligação aérea, para alem da taxa de ocupação elevada, reside na baixa resistencia ao deslocamento a alta altitude, em velocidade de cruzeiro; na ligação Lisboa-Madrid o avião tem de começar a descer ao atingir a altitude de cruzeiro, perdendo assim rendimento; por maioria de razão na ligação Lisboa-Porto).
Igualmente se viu no congresso que a perceção da opinião pública ainda está dominada pelo chavão de que as empresas públicas de transportes são mal geridas e que só os privados podem gerir bem o respetivo serviço público.
Trata-se de uma questão que tem de ser analisada caso a caso, que depende dos técnicos executantes e não de ideologias.
Por exemplo, a FERTAGUS dispõe de indemnizações compensatórias por passageiro.km muito superiores às que os metropolitanos e unidades de suburbanos recebem. Foi ainda dado o bom exemplo dos transportes municipais  rodoviários do Barreiro e o mau exemplo da concessionária dos transportes urbanos de Cascais.
Assinalo ainda as excelentes intervenções sobre a problemática a nível global da energia e do ambiente.
Por exemplo, a equação Kaya para estimativa da produção de CO2:  
produção CO2 = população x (volume de serviços/pessoa) x (volume de energia/serviço) x (emissão de CO2/energia produzida)
Por exemplo, a evolução da extração de combustíveis fósseis (fratura hidráulica de rochas de xisto para obtençao de petróleo e gás de xisto - oil and gas shale)


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O Desespero da Piedade
Meu senhor, tende piedade dos que andam de bonde
E sonham no longo percurso com automóveis, apartamentos...
Mas tende piedade também dos que andam de automóvel
Quando enfrentam a cidade movediça de sonâmbulos, na direção.

Tende piedade das pequenas famílias suburbanas
E em particular dos adolescentes que se embebedam de domingos
Mas tende mais piedade ainda de dois elegantes que passam
E sem saber inventam a doutrina do pão e da guilhotina.

Tende muita piedade do mocinho franzino, três cruzes, poeta
Que só tem de seu as costeletas e a namorada pequenina
Mas tende mais piedade ainda do impávido forte colosso do esporte
E que se encaminha lutando, remando, nadando para a morte.

Tende imensa piedade dos músicos dos cafés e casas de chá
Que são virtuoses da própria tristeza e solidão
Mas tende piedade também dos que buscam silêncio
E súbito se abate sobre eles uma ária da Tosca.

Não esqueçais também em vossa piedade os pobres que enriqueceram
E para quem o suicídio ainda é a mais doce solução
Mas tende realmente piedade dos ricos que empobreceram
E tornam-se heróicos e à santa pobreza dão um ar de grandeza.

Tende infinita piedade dos vendedores de passarinhos
Que em suas alminhas claras deixam a lágrima e a incompreensão
E tende piedade também, menor embora, dos vendedores de balcão
Que amam as freguesas e saem de noite, quem sabe onde vão...

Tende piedade dos barbeiros em geral, e dos cabeleireiros
Que se efeminam por profissão mas que são humildes nas suas carícias
Mas tende mais piedade ainda dos que cortam o cabelo:
Que espera, que angústia, que indigno, meu Deus!

Tende piedade dos sapateiros e caixeiros de sapataria
Que lembram madalenas arrependidas pedindo piedade pelos sapatos
Mas lembrai-vos também dos que se calçam de novo
Nada pior que um sapato apertado, Senhor Deus.

Tende piedade dos homens úteis como os dentistas
Que sofrem de utilidade e vivem para fazer sofrer
Mas tende mais piedade dos veterinários e práticos de farmácia
Que muito eles gostariam de ser médicos, Senhor.

Tende piedade dos homens públicos e em particular dos políticos
Pela sua fala fácil, olhar brilhante e segurança dos gestos de mão
Mas tende mais piedade ainda dos seus criados, próximos e parentes
Fazei, Senhor, com que deles não saiam políticos também.

E no longo capítulo das mulheres, Senhor, tende píedade das mulheres
Castigai minha alma, mas tende piedade das mulheres
Enlouquecei meu espírito, mas tende piedade das mulheres
Ulcerai minha carne, mas tende piedade das mulheres!

Tende piedade da moça feia que serve na vida
De casa, comida e roupa lavada da moça bonita
Mas tende mais piedade ainda da moça bonita
Que o homem molesta - que o homem não presta, não presta, meu Deus!

Tende piedade das moças pequenas das ruas transversais
Que de apoio na vida só têm Santa Janela da Consolação
E sonham exaltadas nos quartos humildes
Os olhos perdidos e o seio na mão.

Tende piedade da mulher no primeiro coito
Onde se cria a primeira alegria da Criação
E onde se consuma a tragédia dos anjos
E onde a morte encontra a vida em desintegração.

Tende piedade da mulher no instante do parto
Onde ela é como a água explodindo em convulsão
Onde
ela é como a terra vomitando cólera
Onde ela é como a lua parindo desilusão.

Tende piedade das mulheres chamadas desquitadas
Porque nelas se refaz misteriosamente a virgindade
Mas tende piedade também das mulheres casadas
Que se sacrificam e se simplificam a troco de nada.

Tende piedade, Senhor, das mulheres chamadas vagabundas
Que são desgraçadas e são exploradas e são infecundas
Mas que vendem barato muito instante de esquecimento
E em paga o homem mata com a navalha, com o fogo, com o veneno.

Tende piedade, Senhor, das primeiras namoradas
De corpo hermético e coração patético
Que saem à rua felizes mas que sempre entram desgraçada
Que se crêem vestidas mas que em verdade vivem nuas.

Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade
Que ninguém mais precisa tanto de alegria e serenidade.

Tende infinita piedade delas, Senhor, que são puras
Que são crianças e são trágicas e são belas
Que caminham ao sopro dos ventos e que pecam
E que têm a única emoção da vida nelas.

Tende piedade delas, Senhor, que uma me disse
Ter piedade de si mesma e de sua louca mocidade
E outra, à simples emoção do amor piedoso
Delirava e se desfazia em gozos de amor de carne.

Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas
A vida fere mais fundo e mais fecundo
E o sexo está nelas, e o mundo está nelas
E a loucura reside nesse mundo.

Tende piedade, Senhor, das santas mulheres
Dos meninos velhos, dos homens humilhados - sede enfim
Piedoso com todos, que tudo merece piedade
E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim!

                                       Vinicius de Morais 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Do outro lado do Atlantico

Do outro lado do Atlantico virá uma sugetão para as nosas dificuldades. Viram-se nas manifestações cartazes com os dizeres educação 10%, saude 10 %. Aí temos uma boa sugestão para o senhores decisores que querem decidir a "reforma" do Estado pelos cidadãos e cidadãs, sem os ouvir bem. Despesas com educação com 10% do PIB como objetivo, saúde 10%, cultura 1% e segurança social 25%. Será então de cuidar melhor das estatisticas do PIB com uma economia menos burocrática e castigadora, substituir importações,deixar o conto de fadas que reduzind o Estado a iniciativa privada cresce, e dinamizar o fundo de estabilização financeiro, comprando divida estrangeira (em vez de vender como quis o senhor ex ministro Gaspar). Ah, distribuindo melhor os sacrificios (taxações das transações na bolsa e uns centimos por cada transação do multibanco), contendo as importações alimentares e de energia, e naturalmente, investindo com fundos QREN (Horizonte 2020). Parece um programa de governo, não é? A dificuldade é pôr os gabinetes de engenharia a trabalhar nestas coisas (de economistas e de advogados, não, por favor, só em regime de prestação de informações). Este post é dedicado ao senhor professor João Cesar das Neves, que repetiu na sua crónica de hoje no DN o lamento do senhor professor Marcelo Caetano: "como é dificil governar", achando que os portugueses falam sobre o que não sabem quando discutem s politicas do governo e criticam o estrsangulamento das empresas e da economia(não sei, eu, a falta que faz o investimento em energias renováveis para substituir as importações de combustíveis fósseis? desde que haja investimento em linhas de transmissão em muito alta tensão contínua para a França e redução das rendas das produtoras por disponibilidade das centrais de carvão... mas para discutir isso é preciso conhecer o assunto, nao será?)

sábado, 30 de março de 2013

Diálogo breve num posto de combustível

- Que maçada, aumentou outra vez, a gasolina
- E vai continuar a aumentar.
- A cotação do petróleo até está baixa, mas as distribuidoras estão sempre a fazer dinheiro à nossa custa.
- É interessante. Por um lado é verdade, até a troika tem razão, os combustíveis como fator de produção, como fator que entra para a composição do preço de qualquer produto, estão demasiado caros. Mas também é verdade que a energia é um bem escasso e não renovável, no caso dos combustíveis fósseis, e portanto só pode ser caro.
- Mas o petróleo está barato.
- Artificialmente barato, por motivos políticos e no interesse dos grandes grupos económicos e financeiros. Imaginemos que se voltava aos tempos do padrão ouro e se substituia o ouro pela energia. O preço das coisas seria referido ao preço da energia e expresso em unidades de energia. Acontece que há 50 anos se gastava pouca energia para extrair o petróleo. Por cada unidade gasta obtinham-se 50 unidades de nova energia. Agora, com o petróleo cada vez mais escondido e de dificil acesso, uma unidade obtem apenas cinco.
- Mas o petróleo pouco mais caro está agora do que há 50 anos.
- É verdade, porque o aumento dos custos da extração são diluidos por toda a economia, ou melhor, são repercutidos em toda a economia. Tudo está orientado para sustentar o baixo preço do petróleo. É natural que a economia esteja distorcida. E com a globalização, a distorção propaga-se como um virus de que a humanidade não se vê livre.
- E assim vamos de crise em crise, em sucessivas alternancias de bem estar e mal estar.
- É pena. A ciencia económica já tinha tido tempo para sistematizar uma organização melhor das comunidades, estruturalmente imune às vagas recessivas. Mas para isso precisava de conseguir a autonomia relativamente aos combustiveis fósseis e, sobrepondo o interesse público ao da concorrencia dos grandes grupos e às forças de mercado, desenvolver as energias renováveis.
- Aí está uma boa utopia.
- Tu o dizes.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Medidas corretivas concretas - 6

6 a aplicar os fundos QREN na área das energias, executando os  estudos e projetos necessários para as candidaturas; considerando os inconvenientes da importação de combustíveis fósseis para a produção de energia elétrica, nomeadamente gás natural e carvão,continuar a instalação de centrais de produção de energias renováveis, nomeadamente eólicas, hídricas e solares térmicas e fotovoltaicas, promovendo:
- a renegociação das rendas para a disponibilidade de centrais de combustíveis fósseis
- a facilidade de trocas de energia na fronteira com Espanha e na fronteira Espanha-França para absorção de excedentes da produção renovável no sentido da exportação, e receção de energia em caso de carência
- o estudo e projeto de uma linha de transmissão de energia elétrica de muito alta tensão contínua entre Portugal e a França (desejável coincidência de grande parte do traçado com a linha ferroviária de alta velocidade do eixo trans-europeu)
6b- central solar concentradora com sais térmicos, com eventual parceria com as realizações congéneres na Andaluzia. Notar que a produção de energia elétrica continua a ser mais barata, em termos nominais, em centrais térmicas de gás natural ou de carvão. No entanto, considerando que estes combustíveis fósseis são importados, deverá insistir-se na produção por fontes renováveis, minimizando a parte importada das instalações de produção.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Mais um aparente paradoxo da democracia e a opinião do bispo

Será mais um paradoxo da democracia?


A classe politica dirigente da União Europeia impõe como sagrada a regra da concorrência como defesa das empresas de iniciativa privada.

Quando se diz sagrada, quer dizer que exclui a organização das empresas noutras formas que não sejam SARL, como empresas públicas, mútuas, parcerias, cooperativas (a falta que mais se faz sentir é a cooperativa).

Penso que essa exclusão não está escrita, mas na prática é imposta a todos os países da união.

Tal regra não parece que esteja inscrita também nos programas dos partidos políticos que detêm a maioria dos votos.

Se é assim, o eleitorado não deu o mandato a ninguem para impor o predomínio das empresas de iniciativa privada.

Isto é, quando se vai a votos o eleitorado exprime a sua vontade noutros centros de interesse, neste não.

Por exemplo, nos países escandinavos não se põe o problema de “reduzir o peso do Estado”.

O sistema de segurança social funciona, quer o governo seja de direita ou de esquerda.

Poderá ser que na origem deste facto esteja o célebre indicador de alfabetização da população: XVI foi o século em que metade da população escandinava atingiu a alfabetização; na Alemanha e na Inglaterra isso aconteceu no século XVII; seguiu-se a França no século XVIII, a Espanha no século XIX e Portugal no século XX.

Talvez por isso seja difícil em Portugal interpretar corretamente a ideia que outro exprimiu.

Nesta perspetiva, é estranho que a União Europeia continue alegremente a querer impor a liberalização absoluta.

Por exemplo na energia.

Há razões técnicas contra a dispersão por várias empresas. A principal, na distribuição, apesar da normalização, tem que ver com a gestão das redes e os riscos de deslastragens conduzirem a apagões progressivos.

No caso da produção, a liberalização e a fraqueza da planificação pública dificultam, e de que maneira, o estudo e a implementação das medidas de libertação da dependência do petróleo e de redução das emissões de CO2.

Os transportes são outro exemplo em que a liberalização contraria a segurança (as empresas privadas têm tendência para reduzir custos de manutenção, embora gostem de propalar os ganhos de produtividade, e de formação do pessoal) e a planificação integrada e estruturante de regiões. Igualmente dificulta a redução de emissões de CO2, apesar das taxas de externalidades que vem impondo aos aviões e aos camiões.





Retomando o tema, este aparente paradoxo da democracia consistirá no apoio cego a empresas privadas como um vicio escondido, oculto nas campanhas eleitorais, que se opõe ao progresso em muitos domínios da economia.

Nesta perspetiva, carece de análise profunda a insistência da troika na privatização da CP Carga, quando já existem duas empresas de transporte privado que parece darem-se bem com o negócio, a Takargo e a DB Schenker (2 comboios semanais entre Portugal e a Alemanha).
Idem a insistencia em impor companhias aéreas "low-cost" , altamente produtoras de emissões de CO2, beneficiando de infra-estruturas que sempre foram públicas (isto é, estão retirando a propriedade aos contribuintes, sem que, provavelmente, pelo menos 2/3 dos eleitores inscritos concordem - é uma figura de expropriação em sentido inverso)

Ainda nesta perspetiva, a imposição de privatizações será claramente a execução de um mandato que o eleitorado não conferiu aos políticos e aos financeiros, e será uma medida prejudicial para o interesse público, pelo menos nos exemplos citados.

E, se tenho razão, será exemplo de um assalto de um grupo de representantes de grupos económicos ou de académicos fundamentalistas das ideias de Hayeck e Friedmann para retirar da esfera pública a propriedade de meios de produção e entregá-las a privados.

Se tenho razão, também o bispo Torgal Ferreira terá, quando fala em gangues no atual governo.

E essa afirmação, minha e do bispo, que não pode ser classificada como proclamação da verdade (porque ninguém sabe o que é a verdade, nem mesmo a Igreja; apenas se pode dizer que, se é como eu penso, então as medidas do governo são prejudiciais para o interesse público; mas não há garantia de que as coisas sejam como eu penso, nem que sejam como o governo pensa), enquadra-se perfeitamente no comportamento tido no caso do BPN (também pelo governo anterior) no sentido da desvalorização progressiva do bem a privatizar até ser entregue ao grupo privado.



É curioso verificar que a estratégia do atual governo de desvalorização dos estaleiros de Viana do Castelo, nomeadamente a anulação do concurso para os motores e a chapa dos asfalteiros venezuelanos, se enquadra perfeitamente na ideia de um gangue que na campanha eleitoral não ocultou que ia privatizar empresas (aliás, nem deu importância a este assunto, uma vez que insistia no corte das despesas públicas e na taxação do consumo), mas ocultou que o ia fazer após as desvalorizar e que, uma vez no poder, tudo faria para desviar os recursos para empresas privadas .

Exemplo disso é o desvio de fundos do QREN de investimentos públicos para subsídios a empresas privadas.

Se foi assim, nem seria necessário apresentar queixa contra os governantes envolvidos, na desvalorização para privatização ou no desvio de fundos QREN do público para o privado.

Para isso existe o Ministério Público.

Mas é apenas uma hipótese, ou várias, claro.

PS em 19 de julho de 2012 - o porta voz da conferencia episcopal portuguesa classificou as afirmãções de Januário Torgal Ferreira como "a nível individual".
Mas também afirmou aue a Igreja deve proclamar a verdade. Já passaram uns dias e nenhuma hierarquia da Igreja veio desautorizar  Torgal Ferreira. Recordo até a afirmação de Jorge Ortiga, presidente da comissão pastoral social: "os politicos deveriam ter a coragem de ler os numeros e tirar consequencias". Apesar de não ser crente, quem escreve este blogue tem a esperança de que não aconteça o mesmo que aconteceu em 1971, quando o cardeal de Lisboa, António Ribeiro, preferiu não tomar partido quando um grupo de católicos, com o padre Alberto, se manifestou na capela do Rato contra a guerra colonial. Como dizia Kipling, citado pelo meu professor de sociologia, Pereira Ataíde, a neutralidade nestas coisas é um crime (até parece Torgal Ferreira a falar, não é?).
Afirmações de Torgal Ferreira:
"Há jogos atrás da cortina, habilidades e corrupção. Este governo é profundamente corrupto nestas atitudes a que estamos a assistir... o problema é civilizacional, porque é ético. Não acredito nestes tipos, nalguns destes tipos, porque são equívocos, porque lutam pelos seus interesses, têm o seu gangue, o seu clube, pressionam a comunicação social, o que significa que os anteriores que foram tão atacados, eram uns anjos ao pé destes diabinhos negros - alguns - que acabam de aparecer"







quinta-feira, 17 de maio de 2012

As rendas da co-geração

O senhor ministro da Economia disse aos jornalistas que estava muito contente por ter reduzido as rendas que sobrecarregam "o tarifário " da eletricidade.

O senhor ministro não tem formação em Física, e tem tendencia para esquecer

que um sistema físico é conservativo, isto é, o balanço global é constante, o que pode variar á proporção dos componentes.

Ou dito de outra maneira, quando se poupa num lado, 100 milhões de euros, diz o senhor ministro, gasta-se no outro, nada se cria (nas zonas de expansão do universo e da energia escura a conversa é diferente , mas o senhor ministro da Economia não está lá ainda).

Claro que não são populares as “rendas”. Infelizmente não é possível eliminar o termo fixo da equação linear de primeiro grau das tarifas de qualquer fluxo.

Os senhores economistas sabem isso, mas assim talvez ganhem votos.

O problema é que a energia é um grande problema, e a senhora preseidente da associação de co-geração europeia fez declarações pouco abonatórias do senhor ministro.

Claro que vão dizer que é uma parte interessada.

Só que é uma parte interessada numa solução parcial do problema da energia que tem reflexos nas exportações de bens transacionáveis (coisa que os senhores economistas sabem que é importante).

A engenharia das energias ensina que a co-geração, ou produção combinada de eletricidade e calor (ou produção de mais eletricidade com o mesmo combustível aproveitando o calor para fazer vapor turbinando-o e aumentando o rendimento da produção de energia elétrica para quase 70%).

No caso português, a co-geração tem utilizado o gás natural, principalmente à entrada de centros industriais que produzem bens exportáveis (combustíveis refinados, pasta de papel…).

As medidas deste governo vão aumentar os custos de produção e aumentar também as emissões de CO2 por utilização de fontes de energia mais poluentes por menor rendimento de conversão.

Não se discute a necessidade de aproximar os custos de venda dos custos de produção, eliminando subsídios (o que deverá ser feito após discussão aberta com as partes interessadas), mas alterações bruscas em qualquer sistema, como qualquer pessoa com formação física sabe, induz instabilidade.

E porque será que na Alemanha subiram os estímulos à co-geração?

Como disse um produtor nacional, alguém no ministério da Economia anda a dormir.

Do ponto de vista energético, a politica do senhor ministro da Economia é perigosa, mesmo que reduza as tarifas.

Extrato das declarações da senhora presidente da Ecogen Europe:

"Portugal deve olhar bem para as oportunidades que a directiva de eficiência energética traz, em vez de olhar para isto como um custo … se o País quer manter o sector industrial forte e cortar importações, deve apostar na eficiência da rede energética para ser competitivo … se quer que a indústria cresça, não pode sabotar as indústrias existentes".

É um principalmente um problema de energia, de eficiência energética, não é um problema de custos.

Mas é difícil explicar isto.

Ver em :

http://www.cogeneurope.eu/about-cogen-europe_2.html



PS em 21 de maio de 2012 - Dado que a co-geração se destina a produzir calor, para alem de eletricidade,  ou a obter mais eletricidade a partir da mesma quantidade de um combustível fóssil, normalmente gás natural, ela tem sido muito utilizada à entrada de grandes instalações industriais. Diminuindo o volume de co-geração, no primeiro caso (produção de calor) a empresa industrial tem de obter o calor a partir de outra fonte, provavelmente óleo fuel, com maior impacto ambiental; no segundo caso (produção de eletricidade com elevado rendimento) a diminuição de co-geração induz o aumento do pedido de mais eletricidade à rede; em ambos os casos, diminui o pedido de gás à rede de gás, com risco dos fornecedores compensarem a quebra de receitas com o aumento das tarifas dos consumidore domésticos; mas esta é uma hipótese; isto dos mercados nunca se sabe)




quinta-feira, 19 de abril de 2012

Falas de governantes - da energia à especulação

Não é propaganda ao juro das obrigações da EDP.
É um comentário às frases do senhor ministro da economia e transportes.
Diz o senhor ministro: "Não é a economia que deve servir a energia, é a energia que deve servir a economia".
Compreende-se a preocupação do senhor ministro, dada a sua formação de economista.
Mas a energia é uma questão fundamental de sobrevivencia da espécie e o seu custo não parece poder ser definido pelas mesmas regras que definem o custo de bens dispensáveis.
Mas são formações diferentes a olhar para o mesmo problema.
Com a energia produz-se e compensa-se as ameaças da natureza.
Com a economia, pensava eu, definiam-se e aplicavam-se as convenções de natureza administrativa que viabilizassem o objetivo anterior, sem preocupação de nenhuma supremacia de uma formação sobre outra (não obstante não ser de exigir aos economistas saberem como funciona um gerador eólico e que meios existem para armazenar, converter e rentabilizar a sua produção excedentária). Mas não interessa chover no molhado, agora que o senhor ministro da economia e transportes vai para mais uma sabatina com o seu homólogo da energia de Espanha para preparar a reunião de maio com a troica/FMI sobre assuntos estratégicos (energia, ferrovias, rios ibéricos).
Vozes de burro não chegam ao céu (calma, estou a referir-me à minha) , mas eu sugeria uma parceria (não publico-privada, por favor) com Espanha na construção de centrais solares térmicas com armazenamento de calor e vendiamos a Espanha a produção excedentária das centrais térmicas cujos donos estão tristes por não funcionarem à potencia  máxima (ou exportavamos as centrais solares térmicas que produzissemos, porque têm  um rendimento). Ver em:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2011/10/central-fototermica-gemasolar-na.html

E diz o senhor primeiro ministro que o país não deve "desatar" a discutir se o aeroporto complementar da Portela deve ficar ou não no Montijo porque isso sera "especulação" enquanto o grupo de trabalho faz o seu estudo sobre a localização do aeroporto complementar.
Do dicionário: especulação - estudo teórico, reflexão, análise, investigação, pesquisa.
Mas também, com significado pejorativo, como o senhor primeiro ministro utilizou, para que não se pensasse que ele não queria que o povo estudasse, refletisse, analisasse, investigasse, pesquisasse, com o sentido de se ficar pela teoria, sem passar às medidas práticas (do dicionário: teoria - conjunto de leis ou regras bem sistematizadas, resultado de hipóteses e sínteses).
Tratar-se-á de um problema interessante. O senhor primeiro ministro sempre anunciou que a solução para o aeroporto deveria ser a Portela mais um aeroporto complementar. Mas não suportou essa conclusão em nenhum estudo. Está a fazer-seagora. Salvo melhor opinião, o governo baseou a sua opção sobre o aeroporto numa "especulação" em sentido pejorativo.
Embora diga que não há dinheiro, mas vai ter de gastar dinheiro com esse tal de aeroporto complementar para suas altezas as companhias "low cost" (farão os senhores comissários da UE o favor de explicar como é que têm o descaramento de estar a apoiar trasnportes poluidores e pouco eficientes do ponto de vista da "energia", para que depois não venha alguém dizer que a economia está a servir a energia).
E, embora vozes de burro não cheguem aos céus (ver nota acima), faço a sugestão de localizar o aeroporto complementar sobre a atual pista do campo de tiro de Alcochete. Fica a 11 km da A12 e a 18 km da estação de Pinhal Novo.
Poupariam dinheiro se a maior parte dos passageiros e das mercadorias fossem transportadas através de ligações ferroviárias entre a A12 e a nova pista (minimizando a construção no aeroporto complementar) , a qual já poderia ser a pista do novo aeroporto para daqui a mais de 10 anos.
É que assim como estamos, com os aviões a sobrevoarem o Julio de Matos, fico a pensar que é mais importante cumprir as normas europeias para as gaiolas das galinhas do que as normas europeias para as rotas de aproximação de aviões.
E quanto a "especular", é da discussão aberta, do debate participativo que podem sair boas propostas, não exatametne como o prós e contras faz, mas como vem explicado na Sabedoria das Multidões.
Por exemplo, que na base aérea do Montijo a pista mais comprida só tem 2500m e a sua orientação leste-oeste é inconveniente para a povoação. Pode construir-se uma pista mais comprida mas lá está, está-se a gastar mais dinheiro.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010






A fotografia mostra carris na via secundária de uma pequena estação perto de Vila Real de Santo António.
Pode ver-se um pequeno garrote (um bico, na ligação de topo entre carris). Os carris são de menor peso do que os da via principal.
Alguns dos carris têm a inscrição  Cockriell 1912.
Há quase um século que sofrem as inclemencias climáticas e a passagem da tonelagem dos comboios. As travessas de madeira estão, nas sua maioria, podres.
A fotografia está aqui apenas para mostrar que grande parte das instalações ferroviárias não evoluiu enquanto as novidades da tecnologia rodoviária eram aplicadas.
Não estamos portanto a comparar dados comparáveis quando se olha para o transporte rodoviário e para o transporte ferroviário.
Não se investiu durante décadas como se devia ter investido no transporte ferroviário, tendo em consideração que o atrito do contacto roda de aço - carril é menor do que o atrito do contacto roda de borracha-asfalto e, consequentemente, o consumo específico de energia é menor.

Agora, apesar de continuar válida a lei da Física que permite gastar menos energia transportando sobre carris,  e de tanto se ter economizado durante anos nos investimentos na ferrovia, ainda acham os cidadãos que não se deve investir no TGV?

Será que estão a querer fora da equação a Ciência, para citar a expressão do professor Carvalho Rodrigues?

PS - Os carris foram substituidos antes do verão de 2012. Não consegui identificar a marca do fabricante. Talvez coreano, chinês, japonês ...

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sábado, 24 de julho de 2010

Deep water Horizon

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A busca da energia é sempre um negócio temerário
Acreditem. Não pode haver energia barata.
Tem de se pagar, às vezes com desastres (Tchernobil, a barragem de Frejus, o acidente na central de gás nos USA, os naufrágios do Amoco Cadiz e do Exon Valdez)

No entanto, a gravidade destes acidentes justifica a investigação cuidadosa das causas e circunstancias.
No caso de Tchernobyl, alguém de espírito inovador (vivia-se a perestroika) resolveu fazer uns ensaios para tentar resolver a instabilidade congénita dos reatores quando em baixa carga.
Foram sucessivamente desligando os alarmes até a reação entrar francamente em cadeia.

No caso da “Deep water Hoizon” do golfo do México foi agora divulgado o que já se suspeitava: estavam desligados os alarmes de explosividade e de libertação de gases perigosos. Segundo uns, para não incomodar a tripulação com alarmes falsos às 3 da madrugada.
Dito assim, a indignação das multidões já tem quem colocar no pelourinho - os trabalhadores negligentes.

Mas não devemos ficar pelas primeiras análises.
Passemos às secundárias:
1 – a BP e outras petrolíferas são financiadoras de partidos representados no congresso dos USA
2 – a plataforma que explodiu destinava-se à perfuração e não à extração normal, e estava arrendada em “outsourcing” pela BP a uma companhia que tinha adquirido em bolsa a primitiva proprietária (isto para dizer que muitas das decisões são tomadas por quem está longe de conhecer o negócio na frente de trabalho)
3 – o sistema de monitorização principal da perfuração é designado por e-drill e centraliza em Houston, num centro de comando e controle, todas as informações e alarmes da perfuração (isto para dizer que, lá como em muitas mentalidades em Portugal, os decisores acham que tudo se resolve à distancia num centro de comando e controle; porque assim não é preciso –não? – investir na segurança local; porque se pode poupar na dimensão e na qualificação do pessoal nas plataformas; e porque a fé na informática casada com as telecomunicações é infinita).
Não culpemos pois os trabalhadores, onze dos quais morreram, por terem os alarmes desligados.

Reavaliemos antes os conceitos de economia e de centralização da segurança.
Reavalie-se o conceito de comando e controle centralizados.
A tecnologia atual, graças aos microprocessadores e à informática, permite descentralizar a inteligência da construção, da exploração e da manutenção.
Descentralizemos, pois, e atentemos mais nas questões técnicas e menos nas financeiras .


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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Mr President - Cut costs in the army, not in energy efficiency

Excuse me, sir, what I tell you.
Our budget, in our little country, is also affected by an huge indebtness and our government is cutting public expenditure, like yours.
Really, your GDP is very good, the biggest in the world.
US dollars 14 trillions (14x10E12) … not bad, compared with Portugal GDP, US dollars 220 billions (220x10E9) or 0.2 trillions...
You must teach us how to produce.
But you must excuse me again, it is a problem to solve these Wall Street guys.
Our bankers are also a problem, they don’t want that our government rises their taxes.
Another big problem: you must cut costs in army.
The best will be you accelerate Afganisthan withdraw, sincerely.
Cut costs with the army, but invest in energy efficiency, renewables, decarbonisation, safe nuclear, how to make synthetic fuel from coal and wood (ask your advisers to recover the Carter energy plan), and so on, and so on, that’s what is worth, believe and old man.
Best luck.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Energis VIII – A casa nova de Joana e o desperdício I


A nova urbanização
Joana tinha-me dito: “Um dia destes vai lá ver a minha casa nova”. E eu fui.
Joana trabalha no Parque das Nações.
Esteve 3 anos em Angola numa consultora internacional donde passou para uma grande companhia angolana de bebidas. Este ano conseguiu uma colocação na dependência dessa companhia em Lisboa.
É uma executiva de sucesso, pelo menos enquanto houver petróleo em Angola.
A casa nova de Joana fica numa urbanização recente no fim do prolongamento da rua principal de Prior Velho, quase sobranceira à curva do Trancão, antes de passar por Sacavém e se lançar no Tejo (o Trancão, não a urbanização).
Apesar da crise imobiliária, os novos andares têm-se vendido bem e já se vêem muitos automóveis estacionados.

A desertificação de Lisboa
Temos aqui um sintoma da desertificação da cidade de Lisboa (considerando os seus limites municipais).
Os jovens executivos preferem ir viver para a periferia.
E na verdade, a casa nova de Joana é grande . Ocupará talvez 180 m2, para além de um terraço onde já está uma casota de cão e se poderá montar uma festa para 80 pessoas.
É muito difícil encontrar pelo mesmo preço e qualidade de construção e de acabamentos, áreas semelhantes em Lisboa.
Queixam-se os decisores de que as pessoas abandonam a cidade, queixam-se os arquitectos de que os habitantes que ficam cometem atentados como o fecho das marquises (ainda não compreenderam que se as pessoas fecham as marquises é porque têm pouco espaço em casa?).
Não querem reflectir que as áreas disponíveis, os preços e a qualidade da construção são, regra geral, muito maus.
Já perceberam que tem de haver reabilitação dos edifícios e dos quarteirões.
Mas estão a ir pelo caminho do “o que era bom era que houvesse uma reabilitação do parque habitacional”.
E faltam os planos das intervenções e os projectos de execução integrados. Refiro-me a intervenções e projectos reais e profundos, não a recuperação de fachadas.
Integrado significa aqui inter-disciplinar. Outra dificuldade em Portugal, em que reina a compartimentação estanque.
Anteriores intervenções, como o projecto e a construção dos bairros de Chelas, por exemplo, não geram o reconhecimento pelos autores, com humildade, dos erros cometidos. Pelo contrário, orgulham-se da obra.
Assim é difícil.
As novas intervenções são entretanto preparadas com o secretismo que caracteriza os decisores em Portugal. Não há debate participativo.

O debate público
Dirão os novos gestores da câmara de Lisboa que sim, que há muito debate público.
É verdade, dele resultou a proliferação das vias cicláveis a que se assiste. Resultou de debate público.
Não resultou porém desse debate a decisão de acabar a prazo com o terminal de Alcantara (o problema real não é a altura do muro de contentores, 4 ou 5, é a própria existência do terminal e a inexistência de um plano a prazo para o seu desaparecimento).
Nem de garantir que não mais hotéis nem urbanizações de arquitectos famosos se construam à beira do Tejo.
Nem que se elabore um plano congruente para a zona das comendadeiras , nem que a estratégia seja a fusão de municípios da área metropolitana, nem que se tenha tento com a problemática dos museus de Belém, nem que se estanque a hemorragia da Baixa pombalina.

A restituição das cores
Joana estava radiante com a casa nova. Todos os tectos da casa são falsos, abrigando iluminação de halogéneo. Como o pequeno João corria a bom correr pelo corredor e por todas as divisões da casa, as luzes estavam acesas na sua máxima potência.
O que era bom, por um lado, porque a iluminação de halogéneo restitui as cores num ambiente quente e realça os pormenores. Por isso se adivinhavam os contornos da roupa interior sob a saia, travada como manda a moda deste ano, obrigando Joana a alguns trabalhos de equilíbrio porque ao efeito da saia se juntavam os saltos altos de 10 cm com sola compensada de 2 cm (“Estou da tua altura” dizia Joana).
Mas por outro lado, só a sala grande tinha 30 lâmpadas de 35 W, o que dava mais de 1 kW. Potência instalada só para iluminação: 4 kW.

O problema do consumo
Vá que no telhado do prédio uma pequena instalação solar térmica reduzia o consumo de gás da caldeira central de cada fogo, para aquecimento de águas e de radiadores, mas uma iluminação com lâmpadas fluorescentes compactas permitiria reduzir 3 ou 4 vezes o consumo .
E o problema é que o tecto já está esburacado para as pequenas dicróicas de iluminação de halogéneo …
Joana não vai ter as luzes sempre acesas, mas talvez vá consumir, de electricidade para iluminação (ficando de fora a electricidade para o ar condicionado e o gás para cozinha e aquecimento de águas e ar) cerca de 180 kWh/mês (50 lâmpadas de 35 W acesas 100 horas por mês).
Quando consumiria, se a instalação previsse as lâmpadas fluorescentes compactas (na realidade um projecto cuidadoso fá-lo-ia, para tratar convenientemente as tonalidades deste tipo de lâmpadas), cerca de 45 kWh.
Ao fim do ano são 1.500 kWh de desperdício de energia importada em 80%. Naquele prédio serão 15.000 kWh de desperdício. Naquela urbanização serão 300.000 kWh = 0,3 GWh de desperdício por ano em iluminação.
Um sucesso, licenciado pela respectiva câmara municipal (neste caso, Loures).

Epílogo
Temos aqui um exemplo de que, na realidade, os projectistas ligam mais ao imediato, sendo neste caso o imediato a moda e o conforto da iluminação por luminárias de halogéneo encastradas em tecto falso, do que às regras de economia durante a vida útil da obra. O imediato permite uma publicidade atractiva para vender os andares e consegue-o.
Assim é difícil, muito difícil.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Energis VII - O secretário de Estado João Fictício Azeitona








João Fictício Azeitona , nascido e criado em Azeitão, e talvez por isso admirador de Sebastião da Gama, tem um nome bem adaptado à sua militância em grupos ecologistas.
Dada a sua proximidade ao partido mais votado, não se estranhou a nomeação como secretário de Estado do Ambiente.
Mas João Fictício teve, enquanto secretário de estado, um comportamento independente das orientações do partido, colocando sempre em primeiro lugar o Ambiente ou, como ele dizia, as pessoas.
Já se percebeu, por esta altura, que este pequeno texto é apenas uma homenagem a João Fictício, e não tem nada que ver, nem sequer por meras coincidências, com a constituição do actual governo da Nação.
João Fictício, a quem muitos acusavam de lírico, o que não deixava de lhe causar um certo prazer, atendendo à admiração por Sebastião da Gama, tratou de fazer jus ao seu nome quando se apanhou na secretaria de estado.
E um dos dossiers, como se diz em burocrático, que tomou entre mãos e fez até avançar, foi o do levantamento e identificação das potencialidades de cultura e produção de espécies vegetais para a produção de combustíveis, ou para mistura com combustíveis fósseis, de modo a reduzir a dependência externa dos ditos, e também a famosa “pegada ecológica”, ou pegada do carbono” do país que muito queria servir.
Em pouco tempo, um grupo de jovens entusiastas que o rodeava, alguns com concepções políticas que mais tarde escandalizaram os chefes do partido, tinham desenhado um mapa do país agrícola com áreas bem marcadas em que estavam assinaladas as espécies que se poderiam cultivar com sucesso, as quantidades de grão, frutos ou bagas que se poderiam obter e as quantidades de combustível vegetal e os respectivos poderes energéticos.E depois, se o projecto ayingisse os objectivos, que não se admirassem de ver andar camiões apenas com óleo de colza, que Rudolf Diesel experimentou o seu primeiro motor com óleo de amendoim.
João Fictício iniciou então uma guerra com entidades públicas e privadas, porque em Portugal é muito difícil planificar de forma integrada seja o que for.
Os proprietários rurais não quiseram associar-se nem coordenar as suas culturas em função das necessidades de produção de combustível vegetal, as empresas industriais de resíduos urbanos e agrícolas desconfiaram de que estavam a querer ficar-lhes com o negócio, as repartições públicas temeram o fim da calma dos gabinetes, e todos acharam que havia ali movimentações de comunistas.
Enquanto essa guerra germinava, como bom azeitonense, impressionado pela quantidade enorme de azeitona que é desperdiçada quando começa a cair, todos os anos, a partir de Outubro, João Fictício promoveu a recolha, por todo o país, da azeitona caída.
Carrinhas de caixa aberta ou de caixa fechada, de grandes empresários de transportes ou individuais que foram a correr registar a sua empresa unipessoal em menos de uma hora, e que responderam aos processos de contratação pública em estrito cumprimento da legislação, percorreram todo o país.
E assim ficou provado, aos olhos de muitos, que era mesmo coisa de comunistas, porque essa ideia de apanhar a azeitona do chão já tinha vindo à tona com a Maria Vitória da ocupação da herdade da Torrebela e do filme de Thomas Harlan (ver em http://pt.wikipedia.org/wiki/Torre_Bela_(filme) ).
Foram assim levantadas do chão toneladas de azeitonas, desde as azinhagas de Carnide, em Lisboa, às estradas e caminhos das serras da Arrábida e do Louro, ali ao lado de Azeitão, aos campos de Sousel e do Alentejo, às terras de Trás os Montes e do Côa.
Não se tocava nas azeitonas agarradas aos ramos. Só se apanhavam as caídas.
Toneladas e toneladas de azeitonas foram prensadas, até nos lagares que as normas comunitárias tinham excluído da produção de azeite por carência de satisfação dos requisitos da União.
Do óleo de azeitona que se obteve, não integrável na cadeia alimentar pelas razões acabadas de expor, produziu-se por transesterificação combustível biodiesel.
Depois, a partir do bagaço da azeitona, com peles, sobras de polpa e caroços, que sobraram nos filtros das centrifugadoras, obteve-se mais óleo, agora iluminante ou para queima.
E por fim ficaram os caroços, da melhor madeira.
Caroços, restos do bagaço e óleo iluminante acabaram em centrais termo-eléctricas de bio-massa, de braço dado com cascas de amêndoa , ramos triturados e sobras dos baldios.
Feitas as contas, conseguiu-se produzir naquele ano, só à conta das azeitonas, aproveitando-se duas pequenas centrais de 5 e de 20 MW já existentes, qualquer coisa como 30 GWh (Gigawatt.hora) ou dizendo doutra forma, 30 milhões de kWh de energia eléctrica.
Não foi muito, num país em que se produz cerca de 47 TWh (Terawatt.hora), ou dizendo de outra forma, 47.000 milhões de kWh.
Porém, esses 30 milhões de GWh ficámos a devê-los às azeitonas, e não a combustíveis fósseis que temos de importar, e quase nada poluíram em emissões de gases com efeito de estufa, quando comparados com as emissões dos combustíveis fósseis. Digo quase nada porque houve algumas emissões durante o processo de recolha e de fabrico dos combustíveis vegetais.
Não gostou um grande industrial com grande volume de negócios na área do aproveitamento de resíduos, talvez “et pour cause”, que lhe tivessem atravessado a herdade a apanhar azeitonas do chão.
E como publicano ofendido rasgando as vestes com pública fúria, processou o secretário de Estado por violação de propriedade privada.
Não teve João Fictício paciência para aturar os senhores jornalistas que quiseram fazer grandes títulos dos jornais, nem os chefes do partido e do governo que lhe exigiram relatórios e arrepio do caminho mudando para alvos prioritários de melhor aceitação pública.
E demitiu-se.
Foi dar aulas para a sua escola, duas ou três cadeiras do curso de engenharia ambiental; desabafa de vez em quando num blogue, relê aos fins de semana a poesia de Sebastião da Gama com a serra da Arrábida como fundo, e está a investigar o potencial das algas para a produção de biodiesel e dos respectivos resíduos para queima em centrais termo-eléctricas de bio-massa.
Este ano pelo Outono, lá estão as azeitonas no chão, morrendo ingloriamente aos pés de quem passa.
Mas atenção, é mesmo verdade, não tem esta história nada que ver com o governo actual.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Energis VI – A energia do hambúrguer e as bicicletas


Deu-se o caso que tive de investigar uns números para um powerpoint a apresentar na minha empresa (minha no sentido do outrem para quem trabalho, ou seja o que for que por este termo devamos entender, dentro ou fora da cobertura da definição já clássica de Gurvitch, de que o trabalho é toda a actividade consciente, penosa e útil).
Estava eu a magicar como comparar gastos específicos de energia de modos de transporte diferentes, e especialmente níveis de emissão de gases com efeito de estufa, assim como quem se prepara para submergir num plano estratégico de transportes para 12 anos, quando tropecei no cheeseburger.
O cheeseburger tem a grande vantagem de responder ao problema fundamental do homem, que é o de arranjar energia para alimentar a combustão dos seus tecidos (seus do homem), por exemplo às 2 ou 3 de uma madrugada em que a restante família esteja longe, em vilegiatura e a inspiração culinária tenha falhado à hora regimental.
Essa energia mede-se por 590 kilocalorias, ou, fazendo as contas ao equivalente, 680 Wh.
Por outras palavras, comendo um cheeseburguer, a nossa massa muscular permite-nos andar uns quilómetros sem emagrecer.
Como a energia que dissipamos a andar, sem entrar em apneia, para aí a 2,5 km/h, corresponde mais ou menos a uma lâmpada de 100 W, segue-se que um cheeseburguer dá para andarmos 680 Wh/100 W = 6,8 horas.
À velocidade referida, 2,5 km/h, foi combustível que deu para andarmos 17 km.
Nada mau.
E quem anda 17 km com 680 Wh anda 1 km com 40 Wh.
Até parece um problema de Fermi, guardando as respeitosas distâncias, claro.
(ver problemas de Fermi em:
http://www.cmpa.tche.br/educacional/secoes_ensino/site_sec_C/arquivos%20e%20Links/F%EDsica/textos_diversos_4.doc
http://algol.fis.uc.pt/quark/viewforum.php?f=14
http://es.wikipedia.org/wiki/Problema_de_Fermi)
E chegado a este ponto, fui comparar, que era para comparar modos de transporte que estava magicando, com o consumo específico do metropolitano, que é, considerando as energias consumidas na sua rede e nos seus edifícios, à volta de 120 Wh por passageiro.km.
Isto desta unidade passageiro.km, ou passageiro-km (não confundir com passageiro por km, ou passageiro/km) às vezes faz confusão mesmo.
120 Wh/pass.km significa que é preciso sacrificar 120 Wh de energia para transportar 1 passageiro durante 1 km.
Ou 2 passageiros durante meio km.
No fundo, quando se diz que o metro de Lisboa transporta por ano cerca de 800 milhões de passageiros.km, o que se está a dizer é que os percursos de todas as viagens realizadas por todos os passageiros durante o ano, alinhados um a seguir ao outro, somaram 800 milhões de km.
Melhor seria dizer então 800 milhões de viagens.km, mas passageiro.km é mais bonito e é esta a unidade em que se exprime o produto de uma empresa de transportes.
Também é preciso ter cuidado para não confundir passageiro.km com lugar.km.
É que aqui temos um dos grandes dramas da energia dos transportes: andar a passear lugares vazios.
A média em Portugal de passageiros por automóvel é de 1,2; na Finlandia é de 1,7.
A média de passageiros numa carruagem de metro é de 26 pessoas, quando ela tem capacidade para 130 com um mínimo de comodidade.
Estamos com problema de procura deste modo de transporte; as pessoas preferem andar de carro e deixá-lo em cima do passeio, a andar de metro.
Voltando ao cheeseburger, temos então que a energia para transportar um passageiro durante 1 km é de 40 Wh para o modo a pé e de 120 Wh para o modo metro.
Dir-se-ia que poderíamos evitar todos aqueles enormes investimentos para construir o metro se estimulássemos as deslocações a pé até ao local de trabalho.
Só que os 40 Wh são enganadores, porque para produzir o cheeseburger, até estar ao alcance da boca do consumidor, foi necessário consumir 5 vezes mais energia (fertilizantes, rações, abate e transporte da carne…), i.é, 200 Wh.
E assim se prova que a alimentação é uma forma deficitária de produzir energia (produzimos menos do que o que consumimos, ainda nos extinguimos, como dizia Malthus, se não ganhamos juízo, já que o desenvolvimento das tecnologias não dá cabo do fosso entre pobres e ricos, ver http://en.wikipedia.org/wiki/Malthusianism), nem sequer conseguimos ser mais eficientes a andar a pé.
Também é verdade que é preciso mais do que 120 Wh por passageiro.km para fazer andar o metro, porque também houve consumo da energia até ela própria entrar no metro e este também despende energia na construção, na manutenção, no aquecimento, e por aí fora. Por isso é melhor contar, enquanto não se conseguir encher mais lugares nas carruagens, com cerca de 140 Wh/passageiro.km .
Mas não nos vamos ainda embora e vejamos se podemos melhorar a eficiência dos transportes com a máquina de melhor rendimento do mundo: a bicicleta.
Imaginem que, andando sem apneia, para aí a 7 km/h durante as 6,8 horas que o nosso cheeseburguer nos concede, conseguimos fazer cerca de 14 Wh/passageiro.km .
O que é óptimo, se não pensarmos que, para transportar na hora de ponta 15.000 pessoas, que é um número comodamente atingível numa linha de metro, teríamos de encher uma avenida com 8 vias normais de largura (agora é vias que se diz, não é faixas) ao longo de 7 km, para a esvaziar dos 15.000 “clientes do sistema de transporte” numa hora.
Estou a dar 4m de distancia entre 2 bicicletas consecutivas, percorridos em 2 segundos à velocidade de 7 km/h, sendo que os 2 segundos são a distancia sagrada, ou de segurança, em tempo, entre 2 veículos na estrada (mensagem especialmente destinada aos adam smithistas das auto-estradas: a 144 km/h, a distancia de segurança para o carro da frente é 80m).
Mas aqueles 14 Wh/pass.km, como provêm do cheeseburguer, também têm de ser multiplicados por 5 para obter a energia necessária à produção e comercialização do cheeseburguer.
Dá então 70 Wh/passageiro.km de bicicleta.
Mas agora temos de entrar com os custos energéticos da construção e da manutenção das vias, das próprias bicicletas, vamos até 77 Wh/pass.km.
E agora ainda falta a cereja no cimo do bolo.
É que a energia tem um custo mensurável em gases com efeito de estufa (a celebradíssima pegada de carbono, ou pegada ecológica).
E enquanto os 140 Wh/pass.km do metro, graças à distribuição das origens das fontes de energia da EDP, emitem à volta de 400 gCO2/kWh, as pobres vacas dos hambúrgueres, graças à peculiaridade do seu sistema digestivo, contribuem para que o resultado final das emissões da energia do cheeseburguer seja de 1 kgCO2/kWh.
Ora bolas, pois para os fabricantes de hambúrgueres, por mais cómoda que seja a sua visita às 3 da madrugada: 1 passageiro.km de metro emite cerca de 64 gCO2, enquanto o ciclista, por km, emite cerca de 77 gCO2.
Será que os ecologistas que nos governam terão feito bem as contas, ao lançar, na verdadeira acepção da palavra lançar, a moda das ciclovias por tudo quanto é câmara municipal, agora que serenaram as febres das fontes cibernéticas e das rotundas acalmadoras do transito?

domingo, 20 de setembro de 2009

Energis V – a energia, o problema fundamental da humanidade

Recomendo vivamente a leitura da revista Ingenium da Ordem dos Engenheiros de Julho/Agosto de 2009.
Distraidamente tinha-a deixado a um canto sem sequer reparar na capa.
O tema é “Energia”. Para não tirar o efeito surpresa (é como nos filmes, é melhor não contar) só cito estes números:
1 – a energia primária (petróleo, carvão, gás, electricidade) importada é cerca de 83% do total de energia primária consumida
2 – 20 % da energia eléctrica consumida é importada
3 – 75% !!! dos bens alimentares consumidos são importados
4 – a quota da factura energética (7.000 milhões de euros) no deficit da balança de pagamentos é de 60% , sendo aquele deficit de 11% (11% do consumo não tem compensação pelas exportações)
5 - a quota dos transportes na factura energética é de 70% (confesso que me parece exagerado, estava à espera de 40%, mas a fonte é credível, talvez seja o transporte individual que esteja a crescer em passageiros.km).
Perante este panorama, queremos discutir exactamente o quê? Energia barata?
Energia tipo maná que cai do céu? Continuará a vox populi a dizer que o professor Ilharco era maluco por dizer que o problema fundamental da humanidade é a energia?
Leiam a revista.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Energis III – O rotulamento da EDP

Aconteceu uma coisa extraordinária.
Que todos podem ver.
Todos, os que têm um contracto com a EDP.
Que receberam um folhetozinho assim intitulado: “Rotulagem de energia eléctrica”.
É extraordinário, acreditem. É um progresso.
Já sabemos qual é a contribuição de cada forma de produção de energia, a sua quota, para a energia eléctrica que consumimos.
Eu devia estar contente. Há anos que precisávamos disso para avaliar a “pegada ecológica”, como se diz agora, do passageiro de transportes colectivos em ferrovias electrificadas.
Mas por isso mesmo faço essa reflexão melancólica: há 5 anos pedi formalmente à EDP esta informação, enquanto técnico de uma empresa de consumo intensivo. Chegou agora a minha casa no âmbito de clientes particulares. Só posso aplaudir o respeito pelo direito à informação dos cidadãos e das cidadãs, mas a verdade é que durante 5 anos não foi respeitado o direito à informação de uma empresa utilizadora intensiva de energia eléctrica, pelo que aqui registo o facto.
Já sabemos qual é a nossa contribuição doméstica para a produção de CO2, oxido nítrico e outros que tais. Juntamente com o CO2 por km dos nossos carros, já estamos mais perto de saber quantas árvores tínhamos de plantar para tornar inocente a nossa passagem pelo planeta Terra.
Observo ainda que será um pouco estranha a designação: rotulagem. Alguém achou, provável mente aconselhado por consultores de comunicação, que quotas, peso, parte, distribuição (“share” como dizem os especialistas de TV) em função da origem da energia não era bonito, e que rotulagem é que era. Não ter saído labelização terá sido sorte.
Como quem põe “n” rótulos na energia recebida: 14% para a energia hídrica, 21% para o carvão, 5% para a energia nuclear. Ups, energia nuclear. Repararam no ar cândido com que a EDP informa que se trata de parte da energia importada, e que os resíduos radioactivos ficaram no país de origem. Engraçado. Dir-se-ia que tínhamos direito a 5% de resíduos. Mas isso é outra discussão, por mais que as pessoas mais crentes em fadas acreditem que as energias renováveis vão chegar para os consumos futuros (mau sinal, se chegassem, queria dizer que os consumos seriam reduzidos). E pode ser que esta informação contribua para nos habituarmos à ideia de que mais cedo ou mais tarde vamos ter uma central nuclear com o cortejo de críticas com a ciência fora da equação como de costume.
Quanto ao gás natural, são cerca de 41% (falta a EDP explicar as quotas de produção por fuel e por gás na cogeração por regime especial, o que configura outras burocracias).
Assinale-se ainda o peso da energia eólica: cerca de 10%, com hipóteses de aumentar e de ser utilizada de forma mais eficiente na produção de hidrogénio e na bombagem em albufeiras (nesta, ao menos o doutor Pinho acreditava).
Em termos médios, serão 400 g CO2/kWh, o que não é muito mau. Como 1 kWh que o Metropolitano de Lisboa consome (incluindo edifícios) serve para transportar 8 passageiros.km, quer dizer que cada km percorrido por 1 passageiro emite 50 g de CO2 (o nosso carrinho a acelerar para o Algarve, com 2 pessoas a bordo, emitirá o dobro por pessoa e por km, sem contar a energia necessária para manter e abastecer os postos de combustível, nem a energia necessária para manter a auto-estrada…) .
Nada mau, como disse, mas é uma pena ser só a EDP a controlar este indicador. Deve ser possível obter uma convergência inter-sectorial…
Enfim, numa palavra, a rotulagem é um progresso.
Mais informação sobre "rotulagem" no sítio da ERSE: http://www.erse.pt/pt/desempenhoambiental/rotulagemenergetica/Paginas/default.aspx
Aqui se refere a lei 51/2008 que obriga a facturação a indicar a origem da energia primária de que derivou o nosso consumo de energia eléctrica. É uma lei concisa e clara, que deixou para a ERSE ou para a EDP o odioso da criação deste barbarismo: "rotulagem"...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Energis II – Homenagem ao Prof.Ilharco

O professor Ilharco dava a cadeira de Quimica Geral do primeiro ano dos cursos de engenharia civil, electrotécnica e mecânica do Instituto Superior Técnico nos anos 60.
Fazia-o de acordo com o modelo universitário da época, que ao que parece, felizmente mudou um pouco no nosso país, melhorando a ligação com a economia real (pelo menos, quero crer).
Como em qualquer análise histórica, devemos considerar o contexto da época em que o modelo funcionava, embora na altura já sonhássemos com os campus das universidades norte-americanas.
O professor Ilharco era irmão do director do Hospital psiquiátrico Julio de Matos e esse facto, juntamente com uma preocupação em exigir aos alunos a apresentação uniformizada dos cadernos de apontamentos, contribuía para uma fama injusta.
Porém nesta história o porém é mesmo importante.
E tive a sorte de me explicarem o porém (foi um colega já com o curso concluído) ainda era eu aluno do primeiro ano.
O porém era que o professor Ilharco aproveitava a sua cadeira para injectar logo à entrada do programa dois grandes enunciados (que ele insistia para que os alunos sublinhassem duas vezes):
Um, era o problema fundamental da Humanidade. E embora eu na altura pudesse pensar que o problema fundamental fosse o Amor, a verdade era que o que ficava escrito nos cadernos era qualquer coisa como isto:
- O problema fundamental da Humanidade é a Energia. A sua produção e a sua utilização.
Sem entrar em pormenores explícitos, o professor dava-nos assim as bases para, caso inisistissemos que o problema fundamental era o Amor, analisarmos as kcalorias dos alimentos necessárias para repor a energia muscular consumida, por exemplo, num acto de Amor. Ou calcular as kcalorias para recuperar dum exame e garantir a oxigenação dos tecidos e dos neurónios. Ou entender por que a chita só corre atrás do antílope diminuido se as kcalorias que tiver de dispender na corrida forem menos do que as kcalorias que puder obter ao devorar o antílope. Ou ver com olhos de físico o que Karl Marx queria dizer com aquela de ser necessário fornecer ao produtor energia para repor a capacidade de produção e, mais qualquer coisa. O professor Ilharco não falava em Marx, mas nós falávamos.
O outro enunciado, era o problema fundamental do engenheiro. Coisa que para todos nós na altura estava um pouco distante e, infelizmente para uma maioria, se revelou como a linha do horizonte, afastando-se à medida que nos tentávamos aproximar dela. Por outras palavras, muitos de nós foram sendo impedidos de exercer efectivamente a profissão , e levados a ser gestores virtuais da burocracia, sem utilizar as ferramentas da arte nem instrumentos de medida. Ditava o professor:
- O problema fundamental do engenheiro é a utilização da matéria e da energia de modo a obter benefícios para a comunidade da forma razoavelmente mais económica possível.
As primeiras aulas eram dedicadas ao panorama energético na Terra.
E , num tempo em que o pico da produção de petróleo nos campos do Texas ainda não tinha sido atingido (i,é, em que a produção crescia a olhos vistos de ano para ano antes de entrar em declínio no fim do século XX), e em que a produção dos campos de petróleo da Arábia Saudita ainda balbuciava, longe do pico e do declínio que só agora surgiu, já o professor Ilharco anunciava que os engenheiros não podiam concentrar-se apenas na petroquímica, mas tinham de, o mais tardar no princípio do século XXI, atacar em força a carboquímica.
Nos tempos que correm a informação já foi passada e está ao alcance de qualquer um: o primeiro combustível fóssil a desaparecer será o petróleo (não vai chegar ao fim do século XXI…mesmo que existam reservas), e o seu uso devia ser disciplinado e racionalizado. Depois desaparecerá o carvão (não vai chegar ao fim do século XXII…). Mas tem de ser estudado o seu aproveitamento de modo a não poluir muito.
O professor Ilharco escrevia os seus apontamentos no quadro e repetia martelando as sílabas:
A carboquímica. Será o grande desafio dos engenheiros nos próximos anos.
Estranho mundo este, em que uns quantos diagnosticam os problemas, traçam esquemas de procura de soluções, alguns encontram-nas, mas quando chega a altura de passar à fase seguinte entra em funções uma maldição incógnita.
Será a mão invisível do Adam Smith? (já vos contei que a mão invisível não é a intervenção divina que premeia os justos que crêem firmemente nos mercados? Adam Smith criou o conceito da mão invisível depois de ver Lady Macabeth de Shakespeare, e o castigo implacável e misterioso que se abateu como força invisível sobre o casal oportunista, como metáfora do castigo que aguarda quem se porta mal na economia , ou finanças também, está bem de ver).
E então a mão invisível lançou a insensatez sobre os actores dos mercados dos grandes consumos. Por um lado os rendimentos dos motores de gasolina e de gasóleo subiram dramaticamente, como dizem os anglo-saxónicos, para isso servem os engenheiros, que com o mesmo litro de gasolina põem o carro agora a percorrer o dobro da distancia de há 20 anos. Mas puseram mais potência no motor, tentaram os utilizadores a acelerar mais e mais. Aumentaram a produção e querem vender cada vez mais . O combustível escoa-se. A poluição aumenta. É insustentável. Mas continua a vender-se o sonho do automóvel eterno.
Terá sido a tentação “Tudo isto será teu se prostrado me adorares, a mim ao objecto de grande consumo, se cortares no bife para poderes pagar a prestação do carro”?
A carboquímica não se desenvolveu como o professor esperava. E a petroquímica ignorou o convite à racionalização.
A mão invisível traiu a herança do professor. Mais uma vez se verificou que o caminho descoberto numa dada altura do processo é esquecido depois. O nome deste blogue ilustra o facto: o diâmetro da Terra e o comprimento da milha ou do arco do minuto foram calculados por Eratóstenes no século III A.C. Vieram depois uns ignorantes com capacidade de tomar decisões que decretaram que o sol andava à volta da Terra, e mais disseram que a milha tinha 1609 metros (ou o equivalente em estádios, que era o que se usava na altura). Enganaram-se. Só no fim do século XVIII se confirmou a correcção do cálculo de Eratostenes. A milha tem 1852 metros. Deve ter sido a mão invisível, a baixar um véu sobre a compreensão dos povos.
A mão invisível tramou por exemplo o projecto interessantíssimo do presidente Carter, antigo engenheiro naval que percebeu os dados do problema. Entre as medidas que propôs ao congresso estava o desenvolvimento da carboquímica, concretamente a transformação maciça de carvão em petróleo e em gás (lembram-se de ouvir falar nos gasogéneos que convertiam madeira em gás e punham os automóveis a andar durante a segunda guerra mundial?).
A mão invisível e o congresso chumbaram a proposta. Depois veio o reaganismo e tatcherismo ricos em petróleo e no seu desperdício. Será possível estabelecer uma correlação entre a política energética errada dos USA e as guerras no médio Oriente?
Assim parece, o que só viria confirmar a tese do professor Ilharco, de que a energia (logo, a Paz) é o problema fundamental da Humanidade.
Saravá, professor Ilharco.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Energis I – O petróleo das areias do Canadá

Energis I – O petróleo das areias do Canadá

Sugiro a leitura de:
http://www.energytomorrow.org/Canadian_Oil_Sands.aspx?utm_source=website&utm_medium=banner&utm_content=oil%2Bsands&utm_campaign=March%2B2009

Vejam como se abre à industria do petróleo e do gás natural dos USA um futuro radioso.
Radioso a curto prazo, claro.
Depois de passado o pico da produção nos próprios USA e de nos aproximarmos do pico na Arábia Saudita, eis que o Canadá é o redentor fornecedor de petróleo dos USA.
Sorry, folks, it’s not fair.
Let’s study this case togheter.
Forget the profit for a while.
Explore Canada sands oil, OK, but let’s study how.
Togheter, please.