Acontece por vezes, a um idoso como quem escreve estas linhas.
Dobra-se uma esquina e voltamos atrás 30 anos.
É que já não via o meu amigo e colega de curso há 30 anos.
Está quase na mesma, com mais algumas rugas , claro, mas inconfundível com a sua voz apaixonada. Não o reconheci imediatamente, graças ao boné para proteger do frio a calva que já tinha e os óculos.
Revoltado com a situação e com a nossa geração.
Longe estão os tempos em que nos encontravamos ao almoço, ele vindo do edifício dos CTT, nas esquina da Conde de Redondo com Luciano Cordeiro, eu vindo da subestação do Metro na Sidónio Pais.
Discutiamos a fibra ótica e a passagem das centrais eletromecânicas para as de comutação espacial (ainda não havia centrais de comutação temporal, ao tempo que isto foi...).
E agora discutimos a desgraça, a destruição das empresas estratégicas de interesse público.
Foi quando eu lhe disse que tinha escrito um livro, umas crónicas de 36 anos de vida profissional no metropolitano, e que um amigo e colega do Porto o tinha classificado como muito "farpeado", de que as pessoas com influencia podem não gostar e limitar a divulgação. Ou coisa pior ainda.
Foi o que o meu amigo de há 30 anos respondeu.
Que tinha também começado a escrever as suas crónicas dos CTT e depois da PT, mas que tinha desistido. Por medo. Assim dito, por medo, de ser processado por difamação.
Pois, medo. De facto, ninguém está livre de ser processado. Mas como pode escrever-se sobre
a vida profissional em empresas estratégicas de serviço público, sem deixar o testemunho de que os decisores abusaram do seu poder, impediram a gestão participativa e à vista do público, subordinaram as suas decisões ao interesse privado em detrimento do interesse das populações (será isto subjetivo? não está patente?)
E não sendo possível, é isso difamar?
Aguardemos as crónicas de umas telecomunicações.
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