terça-feira, 14 de abril de 2015

A macroeconomia precisa de novos instrumentos para desafiar o pensamento dominante

Poderia pensar-se que seria a petulância dum ignorante de economia política coomo é o humilde escriba deste blogue a escrever a frase do título.
Mas não, a frase é o título de um artigo no Finantial Times de Wolfgang Munchau, apreciado especialista editor do FT, e que o DN tambem publicou em 13 de abril de 2015.

Este blogue já criticou , a propósito do filme "Inside Trading", dois dos atores da crise financeira de 2007-2008, Lawrence Summers e Ben Bernanke. O artigo de Munchau parte das justificações destes dois para a crise, estagnação secular e excesso de poupanças contrário ao investimento, criticando-as. Que as teorias e modelos macroeconómicos atuais não conseguem explicar porque se está em estagnação há tanto tempo e porque há um excesso de poupança contrário ao investimento (por mais que o atual governo ache que o PIB português está a crescer) e são necessárias novas ferramentas que existem noutras disciplinas, mas não na macroeconomia (será o que eu costumo dizer, que a política económica e financeira do atual gverno é a de um contabilista que se limita a alinhar as colunas do deve e haver, sem entender os mecanismos físicos que fazem realmente funcionar a economia, sem entender o conceito de produto e de realização humana associada à produção?).
Critica matemática aos modelos de equilíbrio geral dinamico estocástico (DSGE):
1 - não existe um equilibrio macroeconómico que faça retornar a economia ao estado anterior ao choque. Em Física estudam-se as curvas de histerese que explicam isto. As curvas dos rendimentos decrescentes na zona da armadilha da pobreza tambem o ilustram. Não se podem acusar os macroeeconomistas de ignorantes, talvez não queiram saber, por uma questão de fé dogmática
2 - não existe uma relação universal e linear entre acontecimentos. Estudam-se também na Física as curvas de saturação, e de segundo grau, e logaritmicas, e também de baixa correlação. Mais uma vez deveriam os macroeconmistas submeterem as suas leis à realidade e não querer que a realidade se submeta aos seus dogmas (por exemplo, reduzir o valor do trabalho, como quer o primeiro ministro atual do governo português para "aumentar a competitividade", quando é certo que a competitividade só se aumenta com qualificação)
3 - não existem leis universais que sejam válidas ao longo de todo o domínio da mesma forma. Em Física estudam-se as condições aos limites, ou de fronteira, em qualquer fenómeno físico. O efeito de uma baixa das taxas de juro quando próximas de zero não é o mesmo para valores mais altos. São conceitos simples que o dogmatismo não quer aceitar.
Como consequencia da obstinação dos macroeconomistas, que segundo Munchau "continuam a remexer nos seusmodelos esperando que nenhum politico os vá usar" (penso que a ironia significa que os macroeconomistas prefeririam que os seus modelos não saissem das universidades, possivelmente porque as experiencias de Reagan e de Thatcher, à distancia, não pareçam brilhantes; infelizmente, pelo menos em Portugal, a aplicação da "sebenta" macroeconómica do pensamento dominante nas universidades tem sido aplicada pelo atual governo; Munchu critica tambem a utilização destes modelos pelo BCE, conduzindo a previsões demasiado otimistas).
Munchau recorda ainda o economista Hyman Minsky, que desenvolveu análises para compreensão de crises e que "foi banido pelo poder estabelecido", e manifesta receios de que a derrota dos atuais modelos virá de fora da disciplina e de forma brutal.
Interessante, não é? Ouvir uma voz dissonante do pensamento dominante das universidades apoiantes dos economistas que nos dirigem.
Ao meos ainda existe pluralismo no DN.



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