segunda-feira, 18 de maio de 2015

Rápido cálculo à maneira de Fermi para estimar o preço da subconcessão

Os problemas de Fermi são uma tentativa de nos aproximarmos da realidade quando não dispomos de elementos precisos mas conseguimos pôr hipóteses. Por exemplo, calcular o número de grãos de areia no planeta partindo do conhecimento que temos de uma mão cheia dela na praia conhecida.
O cálculo rápido que apresento segue esse raciocínio, uma vez que a informação disponível sobre a subconcessão do metro de Lisboa não é clara. Além de que, dadas as minhas limitações financeiras, tenho dúvidas que estejam corretos (pelo que gostaria de os ver corrigidos).
Mas ponham-se hipóteses.
Quanto terão os contribuintes de pagar ao operador privado na hipótese de ele só receber por carruagem.km? (parece que ele também receberá uma percentagem da receita, mas consideremos apenas esta hipótese).
Admitindo, sem grande rigor, gastos operacionais  de todo o metro de 80 milhões de euros, de que 20 milhões  serão para a manutenção do material circulante por conta do próprio metro, e 20 milhões de carruagem.km por ano, então teremos 3€/carr.km  . Admitindo de forma minimalista um lucro de 10%, os contribuintes pagariam nesta hipótese 3,3€/carr.km , além dos 20 milhões de euros da manutenção do  material circulante (total para os contribuintes: 3,3x20 + 20 = 86 milhões de euros).
Atualmente a carruagem.km custa aos contribuintes 80/20 = 4 €/carr.km incluindo a manutenção do material circulante (total para os contribuintes: 80 milhões de euros).
Claro que o subconcessionário vai dizer que tem uma eficiencia tão grande que não vai gastar 80 milhões de euros em gastos operacionais (o que é uma forma como outra qualquer de ofender os técnicos da empresa pública). A cada um de acreditar ou não que se respeitarão os critérios de segurança e qualidade.

Suponhamos agora que o subconcessionário se contenta com 1€/carr.km, que é um valor suficientemente baixo para ganhar um concurso. Que percentagem da receita requererá ?
Da parte das carruagens.km receberá por ano 1 x 20 = 20 milhões de euros. Mas tendo gastos operacionais de 80-20=60 milhões e pretendendo um lucro de 10%, quererá ter uma parte da receita total definida por  (1,1x60) - 20 = 46 milhões de euros, isto é,  46/80=57,5% da receita total. Os contribuintes pagarão assim ao subconcessionário 20 + 46 = 66 milhões de euros.
Atualmente os contribuintes pagam por este serviço 80-20=60 milhões de euros.

Entretanto a propaganda oficial do governo não se cansa de repetir que vai obter economias para os contribuintes, multiplicando a economia anual pelos 10 anos da subconcessão, embora poupando-nos às contas da capitalização dessas poupanças. A repetição da propaganda permitirá consolidar a fé nas suas contas, que não serão certamente cálculos de Fermi. E provavelmente omitirá os prolongados contenciosos sobre a definição do pagamento pela FERTAGUS do uso das infraestruturas da REFER ou sobre a quantificação dos incentivos à produção pelos subconcessionários dos contratos do metro do Porto.
Omitirá igualmente o cancro do serviço da dívida e financeiro que certamente o governo não quererá renegociar para não prejudicar este ou aquele banco (encargos totais em 2014 em milhões de euros: empréstimos 129,2 + locação de material circulante 20 + juros 95,5 + outros 0,26 = 245,2).

Aguardemos   os resultados do concurso da subconcessão, sempre na esperança de o governo não conseguir levar a sua obsessão privatizadora até ao fim (vamos gastar o que for preciso com a subconcessão para poupar o que for possível), o governo a dizer que isso prejudicaria o interesse público e este blogue a dizer o contrário, que suspender o processo é que será do interesse público.

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