sexta-feira, 31 de julho de 2015

Sapatos baratos

Sou um piegas, não ganho nada em disfarçar.
Nem consigo.
De vez em quando dá-me isto, ou por ver coisas ou por ler.
Dei por mim a ler a notícia de que as estatísticas do sucesso das exportações portuguesas de calçado tinham de ser revistas, para menos, porque 18 milhões de pares de sapatos que tinham sido considerados como exportados por Portugal, afinal tinham sido importados da China e depois reexportados como se tivessem sido fabricados em Portugal.
O país precisa desesperadamente de aumentar a sua taxa de exportações.
Infelizmente a sua balança comercial continua negativa, pese embora a propaganda oficial que os estipendiados, como diz Batista Bastos, irrefletidamente reproduzem.
O que quer dizer que o saldo orçamental continua mal, como se pode ver pela fórmula:

saldo orçamental = investimento privado e estrangeiro - poupanças + exportações - importações

O peso das exportações é de cerca de 40% do PIB, mas esses 40%  incorporam 15%  de importações. Isto é, só 25% do PIB são exportações de Portugal. No caso dos sapatos chineses foi 0% (do ponto de vista económico a atividade administrativa foi incorporação nacional, assim como se contabilizássemos quem provoca acidentes na estrada como promotores do aumento do PIB por dinamizarem o negócio de reparação e sucata de automóveis e dos hospitais e cemitérios).
E assim, por tudo isto, e porque importar 1000 contentores carregados de pares de sapatos (um terço de um porta-contentores médio) é uma manifestação clara de esperteza boçal, de espírito de desenrascanço em proveito próprio e em prejuízo do próximo, leio a notícia e sinto uma lágrima a cair-me na cara.
Sou mesmo piegas, lacrimejar por 18 milhões de pares de sapatos baratos, "made in Portugal", na União Europeia.
Ou por ver os senhores governantes e os senhores opositores a acharem que "o mercado a funcionar" pode resolver estas coisas.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Algumas privatizações em julho de 2015


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"O sector privado está totalmente envolvido em corrupção. A agenda de privatizações e liberalização tem sido corrompida em si mesma gerando rendas elevadas, usadas para exercer influência política. Por exemplo, com Obama foram combatidas tentativas de se responsabilizar as instituições financeiras pelas suas atividades. Em Massachusetts, quando o procurador-geral do Estado entrou com uma ação contra alguns bancos, um banco controlado pelo governo federal ameaçou cessar suas atividade nesse Estado.(Pag 160)

Em vez do governo moderar os excessos das forças de mercado, trabalha conjuntamente para aumentar as disparidades de rendimento. (p. 50) Nos EUA um estudo mostrou que, em média, os serviços privatizados cobram ao governo mais do dobro do que seria pago a trabalhadores de serviço público para  efetuarem serviços comparáveis. (p. 143). Esta captação de rendas permite às grandes empresas obter vantagens sobre o resto da sociedade(Pag 46)"

J. Stiglitz, The price of inequality, p. 7, Ed. W. W. NORTON & COMPANY, 2013. Existe também edição portuguesa da Ed. Bertrand. Os números de página entre parêntesis são os da edição em língua inglesa e referem-se a conteúdos ou ideias expressas por Stiglitz

Extraído dum texto de Vaz de Carvalho 
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O texto acima foi retirado, com a devida vénia, do blogue ladroesdebibicletas

http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2015/05/lembrem-se-do-oceanario-ii.html
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2015/04/lembrem-se-do-oceanario.html

Não subscrevo integralmente porque não devemos generalizar e no caso do Oceanário até é compreensível o interesse privado dada a formação afim do administrador principal da Jerónimo Martins.
No entanto, mantem-se válida a observação de um dos comentadores: se um procurador privado vendesse um bem à sua guarda que estivesse a dar lucro arriscava-se a um processo grave pelos acionnistas.
Por outro lado, o argumento de outro comentador, de que o Estado não tem vocação e não deve ser distraído com funções como esta (e contudo, o Oceanário tem uma função educativa) é contrariado por este: não é o Estado que faz mexer as empresas públicas, são as pessoas que  lá trabalham. E é muito feio ter inveja dessas pessoas, dizer mal do seu trabalho e querer ficar com o poder decisório dessas empresas.
É pena as pessoas terem esquecido a linha de Melo Antunes, para quem o setor público e o setor privado são perfeitamente compatíveis. Tal como vem expresso no tratado da união.
Mas podemos ter a infelicidade de ter um governo que obssessivamente faz privatizações.
Mesmo que timidamente o tribunal de contas venha explicar que cometeu erros de avaliação (terá? se o objetivo era privatizar, com ou sem avaliação...).
Mesmo que se recorde que o senhor secretário de Estado dos transportes, enquanto administrador do BI da CGD, foi um dos estrategas do TGV Poceirão-Caia, para agora o governo continuar a vangloriar-se de ter parado um  investimento com fundos comunitários que até tinha uma componente de mercadorias (depois ficam escandalizados quando dizemos que conseguiram transformar Portugal numa ilha ferroviária e numa ilha energética).
Veja-se outro exemplo: o sr. Neeeleman já veio explicar que não quer os A350 que poderiam servir as ligações à China (o tratado da união prevê apoios às ligações à Martinica e à Reunião, colónias francesas, seria assim tão complicado recordar aos burocratas de Bruxelas que a ligação a Macau é do interesse da Europa?), e também explicou que é ele que terá o poder decisório porque, apesar de ter menos ações do que o dono da Barraqueiro, cada ação dele vale mais do que cada ação deste.
Confesso que já não gosto da regra básica das assembleias de acionistas, um voto por cada ação. Desde a revolução francesa que a ideia é uma voz, um voto. Agora assembleias de acionistas em que as ações de um valem mais do que as ações de outros, peço desculpa mas isso não é democracia, mesmo que para se viver em democracia se tenham menores rendimentos.
E eis que uma sondagem do centro de estudos e sondagens de opinião pública da universidade Católica vem esclarecer a opinião dos cidadãos sobre a gestão pública e privada.
Por exemplo, no caso dos transportes, 69% dos inquiridos preferem a gestão pública (é provável que depois de várias greves do metropolitano, que por isso mesmo não deveriam revestir a forma de paralisação total, de modo a garantir o apoio da população, essa percentagem baixe).

Eu concluo que se o atual governo respeitasse os princípios democráticos, a decisão de privatização de um bem público só deveria ser tomada com 75% de votos dos representantes no Parlamento. Ou então por referendo...



Extrato do artigo sobre a sondagem do CESOP da Universidade Católica:



Descida do IRS deve ser prioritária
por Octávio Lousada Oliveira20 junho 2015http://www.dn.pt/Common/Images/img_dn/icn_comentario.gif
Portugueses acreditam que já há condições para baixar impostos e defendem a gestão pública dos serviços que utilizam.
Os portugueses não têm dúvidas e dizem que há condições para que os impostos sejam reduzidos na próxima legislatura. Segundo o barómetro de junho, 57% (mais um ponto percentual que em outubro do ano passado) afirma que é possível baixá-los e 28% (menos um ponto percentual em relação à anterior sondagem do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica) responde que tal não é viável.
Quando chamados a responder qual deles seria prioritário que descesse para estimular a economia, a maioria (57%) pende para o lado do imposto sobre os rendimentos do trabalho, o IRS, ao passo que 23% defende que a redução deve incidir em primeiro lugar sobre as empresas, no IRC. Já 20% frisa que não sabe por onde se deve começar ou opta por não responder.
Quanto à gestão dos principais serviços e à dicotomia público/privado, os portugueses são contundentes: preferem, nos nove serviços sobre os quais foram questionados, a esfera estatal. São eles a eletricidade, a água, o gás/combustíveis, a educação (até ao 12.º ano), a saúde, os transportes, os sistemas de pensões, a justiça e a segurança. Em todos a margem de preferência é arrasadora.

No caso dos hospitais, 84% é favorável à gestão pública (e apenas 11% à privada), ponderação que é reforçada no caso das escolas de ensino não superior (86% pende para o Estado e 8% para privados). Nos transportes, a balança é mais equilibrada, sendo que 25% vê com bons olhos a gestão privada nesse setor (e 69% prefira a pública). No caso do gás e dos combustíveis, 61% defende a detenção pública e 31% é apologista da gestão privada. Nas funções tradicionais do Estado, como a segurança e a justiça, também não existem dúvida - 84% e 85%, respetivamente, advogam a gestão estatal.
Sobre a Segurança Social, cuja sustentabilidade tem sido usada como arma de arremesso sobretudo entre PS e a maioria PSD-CDS, 42% vinca que será determinante no seu sentido de voto e 48% refere o oposto, embora 80% entenda que deve haver uma clarificação de posições por parte dos partidos antes das legislativas.

Ficha técnica
Esta sondagem foi realizada pelo CESOP-Universidade Católica Portuguesa para a Antena 1, a RTP, o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias nos dias 13, 14, 15 e 16 de junho de 2015. O universo alvo é composto pelos indivíduos com 18 ou mais anos recenseados eleitoralmente e residentes em Portugal Continental. Foram selecionadas aleatoriamente dezanove freguesias do país, tendo em conta a distribuição da população recenseada eleitoralmente por regiões NUT II e por freguesias com mais e menos de 3200 recenseados. A seleção aleatória das freguesias foi sistematicamente repetida até que os resultados eleitorais das últimas eleições legislativas nesse conjunto de freguesias (ponderado o número de inquéritos a realizar em cada uma) estivessem a menos de 1% dos resultados nacionais dos cinco maiores partidos. Os domicílios em cada freguesia foram selecionados por caminho aleatório e foi inquirido em cada domicílio o próximo aniversariante recenseado eleitoralmente na freguesia. Foram obtidos 1048 inquéritos válidos, sendo 55% dos inquiridos do sexo feminino, 31% da região Norte, 24% do Centro, 32% de Lisboa, 6% do Alentejo e 7% do Algarve. Todos os resultados obtidos foram depois ponderados de acordo com a distribuição de eleitores residentes no Continente por sexo, escalões etários, região e habitat na base dos dados do recenseamento eleitoral e do Censos 2011. A taxa de resposta foi de 77%*. A margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 1048 inquiridos é de 3%, com um nível de confiança de 95%.  

Where is MV.Atlântida ship?

Navio MV.Atlântida, foto do blogue olharvianadocastelo




Caro leitor

Eu sei que tenho tratado o assunto de forma alongada e não interessante.
Pode ver nas duas ligações seguintes como já escrevi muito neste blogue sobre o navio Atlântida e os estaleiros de Viana do Castelo. Contrariamente ao que tenho visto em outros blogues, mais lidos que este, as minhas análises não foram objeto de comentários exaltados de críticos das empresas públicas que, no fundo, têm validado as políticas do atual governo.

http://fcsseratostenes.blogspot.pt/search?q=atl%C3%A2ntida
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/search?q=viana+do+castelo

Porém, recentemente aconteceu um facto deveras interessante, e que eu lhe pedia, se não abuso da sua benevolência,  que ajudasse a divulgar, primeiro por ser do interesse dos contribuintes, e depois porque a comunicação social mantem o secretismo.
Dele tive conhecimento através do económico.sapo/diário económico (a previsão do facto), de um blogue de Viana do Castelo (que ele estava a decorrer) e do site de localização de navios "localizatodo" (que o facto aconteceu).

O acontecimento responde à pergunta "onde está o navio Atlântida?"
E a resposta é:
- Está no estaleiro de Landskrona, na Suécia, perto de Copenhague, no outro lado do estreito de Oresund.
http://www.worldportsource.com/ports/map.3377.1718.php
http://olharvianadocastelo.blogspot.pt/2015/07/navio-atlantida-muda-de-nome-e-ruma.html

Saiu de Viana do Castelo em 1 de julho às 14:00 e chegou a Landskrona no dia 6 de julho às 05:15.
Fez a viagem à velocidade média de 11,6 nós (20,9 km/h) com velocidade máxima de 16,6 nós (29,9 km/h).
Estes são dados retirados do "localizatodo" (também pode pesquisar em "vesselfind"). Mas não pesquise por Atlântida. Escreva antes "Norway Explorer", o seu novo nome.
O navio foi comprado à Douro Azul pela Hurtigruten, uma companhia norueguesa de cruzeiros, principalmente nos fiordes.

O Norway Explorer depois da reconversão, antevisão da Hurtigruten


Nos estaleiros de Landskrona será reconvertido em navio de cruzeiros simplesmente. O número de cabinas subirá de 27 para 180 e a lotação baixará de 750 para 320 passageiros, deixando de ter capacidade de transporte de viaturas (anteriormente: 145). Terá de ser dotado de quebra gelos, mas o peso adicional será compensado pela retirada da porta de acesso de viatura anti emborcamento (instalada como alteração ao projeto depois do afundamento do ferry Estónia). A hipótese de montagem de quebra gelos já tinha sido colocada em 2009, depois da rejeição pelo governo dos Açores, quando foi estudada e recusada pelo governo de então uma parceria com estaleiros noruegueses.
A Douro Azul tinha comprado em setembro de 2014 o Atlântida em concurso público por 8,75 milhões de euros e vendeu-o agora por 17 milhões (se a informação do diário económico está correta).
Eu peço, leitor, que não pense que estou a criticar o empresário que fez o negócio. Ele trabalha para ganhar dinheiro e não enganou os noruegueses porque estes percebem de navios, mais do que ele (não é uma crítica) e mais do que as instâncias oficiais que conduziram todo o processo de encerramento dos estaleiros de Viana do Castelo (é uma crítica).
Contrariamente ao que se lia nas caixas de comentários de comentadores mal educados e aparentemente frustrados, ao que a propaganda oficial dizia para desmerecer no trabalho dos estaleiros de Viana do Castelo, de trabalhadores e projetistas,  e para "desculpar" a recusa pelo governo dos Açores, o Atlântida não era sucata e valia mais do que 8,75 milhões de euros.

Fica provado, com a ida para a Noruega, que a venda pública foi mal feita e que o argumento do navio ter sido mal construido era falacioso. E poderá dizer-se que os contribuintes ficaram prejudicados no negócio (admitindo que a Douro Azul tenha gasto 3 milhões em manutenção, combustível e impostos, terá havido um prejuízo de 5 milhões  para os contribuintes, confirmando-se os valores do diário económico, por incapacidade das instâncias oficiais).

Este facto vem juntar-se às outras provas de má gestão do processo de encerramento dos estaleiros de Viana do Castelo, desde a recusa das parcerias com estaleiros holandeses e noruegueses em 2009-2010, invocando razões burocráticas, à demora injustificada em autorizar a encomenda de chapa para conclusão do segundo patrulheiro, ao ter-se deixado cair a encomenda dos asfalteiros para a Venezuela, à rescisão do contrato dos restantes 6 patrulheiros invocando o tratado da união que, afinal, prevê apoios estatais em assuntos de defesa, para recentemente ser anunciada a possibilidade de ajuste direto dos 6 patrulheiros á West Sea (o que poderá configurar favorecimento).

Em todo este processo ficou patente que a tomada de decisões raramente se baseou em razões técnicas, o que até pode ser mais um exemplo da maneira de ser portuguesa, não querer perder tempo a fazer e analisar cálculos que fundamentem as soluções técnicas.

Faço votos para que o Norway Explorer encontre bons ventos e que manobre com todas as suas capacidades de manobrabilidade (2 propulsores azimutais sem leme, 2 impulsores de proa para atracação, 5 metros de calado) e de navegação eletrónica pelos fiordes noruegueses.

terça-feira, 7 de julho de 2015

A imigração

A comunicação social relata os casos de mortes de imigrantes que tentam entrar no Europa. Há ainda os casos de mortes na tentativa de travessia do canal e túnel da Mancha.
Recordo dois filmes já falados neste blogue: Welcome de  Philippe Loiret de 2009  e Villagio di cartone de Ermanno Olmi de 2011.

http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2012/05/imigracao-clandestina-welcome-il.html

Já passou tempo suficiente para se poder afirmar que os senhores governantes e decisores da Europa são incapazes de mitigar sequer o problema. Provavelmente porque não querem demonstrar solidariedade para com os imigrantes, achando que os europeus são superiores.
Será assim tão dificil aceitar a ideia de uma integração a sério, impondo o respeito por todos da declaração universal dos direitos humanos, incluindo a obrigatoriedade do ensino laico e do emprego?
Sendo certo que as forças do mercado nunca concretizarão essa ideia porque assentam na competição e não na cooperação.

Vamos continuar a assistir à já denunciada tragédia da imigração?

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Zonas verdes em Lisboa



A imagem com a rede desmantelada é a do campo de golfe abandonado da Belavista, perto do aeroporto de Lisboa.
Está assim há anos, não se sabe se por deficiente gestão da câmara de Lisboa se por impossibilidade física de rentabilizar o campo e o restaurante.
É um contraste com o exito do novo jardim da cerca da Graça.
Pode também ser uma imagem do insucesso da ideia do fecho da estação de Santa Apolónia com a urbanização de luxo  dos terrenos do terminal de contentores de Santa Apolónia (com fundos de 10 metros, com transferencia para o porto do Barreiro com fundos de 5 metros).
Pessoalmente quer-me parecer que o parque da Belavista e o seu campo de golfe podiam ser rentabilizados, disponibilizados à população da cidade, mas confesso que não tenho conhecimento dos pormenores.
Pena a câmara não informar.

Pobreza e efeitos nas crianças

No dia 2 de julho de 2015 a TVI24 apresentou um debate impressionante sobre a pobreza em Portugal:
http://www.tvi24.iol.pt/videos/proximo-governo-devia-ter-um-plano-contra-a-pobreza/5595b35b0cf2788e673775d7/3

Não me interessa agora argumentar ou apreciar as políticas do atual governo e da sua troika, ou as de qualquer partido.
O principal efeito da pobreza é sobre as crianças e consequentemente sobre o futuro.
Assim, se se pode contabilizar 20% de pobres ou em risco de pobreza em Portugal, o que é ainda mais grave é que 24% das crianças portuguesas vivem nessas condições. Como consequencia, o seu desenvolvimento intelectual fica afetado, e as diferenças entre classes sociais acentuam-se, contrariamente aos objetivos  internacionalmente aceites.
Se os setores conservadores acusam muitos portugueses de terem vivido acima das suas possibilidades e de defenderem com os seus sindicatos aquilo que podem, e assim terem conduzido o país à falencia, não podem de modo nenhum acusar as crianças de qualquer culpa.
Mas são as crianças que são castigadas, pelo menos 24% delas, o seu futuro condicionado e é a continuação do aumento das desigualdades.
Por isso, não parecem corretas as medidas de austeridade.
corre-se o risco, com a austeridade, de inverter a tendencia de melhoria na redução do abandono escolar, ao mesmo tempo que o desemprego jovem aumenta; Portugal não só está longe da meta como corre o risco de se afastar dela


Para sair disto, mais uma vez invoco a fórmula do saldo orçamental. Não é com poupanças que se pode melhorar a educação das crianças, a sua qualificação profissional e as condições sociais em que crescem.
É com investimento, e se esse investimento não vem de dentro do país, terá de vir de fora, sob a forma de fundos comunitários que exigem a elaboração de projetos concretos que o atual governo não quer fazer, com a desculpa de que se gastou demais em infraestruturas de transportes (é mentira, utulizaram-se mais fundos comunitários em telecomunicações, ou em saneamento e redes de águas). Ou sob a forma de investimentos como a Auto Europa, a Grundig, a Boch, a Continental, a Siemens. Perdemos soberania e PNB, mas combatemos o desemprego. Ou sob a forma de um mini plano Marshall. Substituindo importações de energia primária e de alimentos.
Mas parece que os partidos estão pouco virados para isto, e não ajuda nada o crescimento da venda de automóveis, com a autoridade tributária a encher os seus cofres com os impostos sobre veículos e combustíveis.
Repito a fórmula do saldo orçamental:

saldo orç.= investimento estrangeiro/fundos comunitários/inv.privado - poupanças +exportações - importações

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Estaleiros de Viana do Castelo, junho de 2015

Continuação de
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2015/05/estaleiros-de-viana-do-castelo-em-maio.html


As notícias vão correndo discretamente.
Material que tinha sido comprado para o Anticiclone, o "irmão" mais pequeno do Atlântida, estará no estaleiro da Figueira da Foz para a construção de um navio para Timor. Porém, o estaleiro está com dificuldades financeiras, ignorando-se se vai mesmo iniciar a construção. É evidente que , por uma questão de escala, a construção em pequenos estaleiros ou em pequenas séries nunca poderá ser competitiva relativamente aos grandes estaleiros coreanos, finlandeses e italianos, o que explica alguns dos prejuízos dos ENVC.
Em dezembro de 2014 a Martifer/West Sea, subconcessionária dos estaleiros de Viana, assinaram o o contrato para a cosntrução de um navio de cruzeiros para a Douro Azul, no valor de 12 milhões de euros.
Consta que o Atlântida terá sido vendido em maio de 2015 para a Noruega por 14 milhões (a Douro Azul tinha-o comprado por 8 milhões).
Ainda em dezembro de 2014 o senhor ministro da Defesa, segundo informação da Cargo News, contratou por ajuste direto de 77 milhões de euros a construção de dois patrulheiros pela Martifer/West Sea. Ver:
 http://www.cargoedicoes.pt/site/Default.aspx?tabid=380&id=11519&area=Cargo

Em maio de 2015 a união europeia informou que o governo português nunca defendeu junto dela o estabelecido nos artigos 107, 346 e 349 do tratado da união, relativos a equipamentos de defesa e a regiões em dificuldades ou de custos insulares, como era o caso dos patrulheiros ou do Atlântida. Ver:
http://www.cargoedicoes.pt/site/Default.aspx?tabid=380&id=11578&area=Cargo

Parece assim que este argumento será usado para justificar o ajuste direto agora, com a Martifer/West Sea, quando anteriormente o governo afirmou que os dois patrulheiros construidos pelos ENVC tinham sido objeto de ajudas ilegais do Estado, cancelando a encomenda de novos patrulheiros e estrangulando assim os ENVC.

A confirmarem-se estes factos, parecerá evidente o favorecimento pelo governo de grupos privados, o que por sua vez só confirmaria a economia política clássica e a justeza da utilização das palavras infâmia e indignidade para referir a extinção forçada dos ENVC. Citando um antigo chefe das forças armadas, é um exemplo da superioridade da gestão privada quando é financiada pelo erário público.
Ver:
http://www.cargoedicoes.pt/site/Default.aspx?tabid=380&id=11444&area=Cargo

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Dilos, Grécia, no ano 2791 da era das olimpíadas







Epístola aos atenienses no verão do ano 2791 da era das olimpíadas

Saúde para Telémaco, Niarcos, Larissa, Diogenes, Sofia, Alexandre, Ifigénia e todos os amigos.
Escrevo-vos da montanha sagrada de Dilos, contemplo Mikonos, não muito longe, e o pequeno porto de Dilos, enquanto vou imaginando que os antepassados escolheram esta ilha para sede da confederação porque a baía era abrigada do vento norte, apesar da proximidade do rochedo que a separa de Rinia.
A rapidez com que os barcos entrariam no porto, e depois saíam para sul, ao longo do canal estreito, quase sempre com vento forte…
Não existia ainda a alameda dos leões quando os atenienses vieram cá buscar o tesouro.
Que era necessário centralizar a gestão da união, que em Atenas ficava melhor, preparando a defesa contra os persas.
Romperam assim a confederação.
Teriam os dirigentes da democracia nascente ponderado bem o risco da guerra do Peloponeso que se seguiu? Comprometendo a própria democracia submetida à aristocracia segregacionista de Esparta?
Julgar-se-iam superiores aos habitantes das pequenas ilhas? Detentores da sabedoria, da riqueza mercantil e da cultura suméria com os seus juros compostos?
 Orgulhosos porque Atenas tinha 320 mil habitantes, dos quais 150 mil escravos, 90 mil mulheres e crianças e apenas 80 mil cidadãos com direito de voto. Um eleitor por cada quatro habitantes.
Escrevo-vos esta carta também porque neste desgraçado ano o tesouro não está em Atenas.  E quem o guarda, lá onde a Europa se reclina sobre a sua riqueza, parece não ligar muita importância à necessidade de que esse indicador, o número de cidadãos de pleno direito a dividir pelo número total de habitantes, se aproxime o mais possível da unidade. Querem que sejam bem menores os rendimentos daqueles que produzem ou, já velhos, produziram, do que os dos evoluídos decisores e seus colaboradores privilegiados.
Com superioridade dizem: têm de fazer sacrifícios, têm de aceitar o que vos propomos. Têm de reduzir os vossos rendimentos que são superiores aos de outros povos que também fizeram os sacrifícios.
Esquecem esses evoluidos e superiores decisores que esses povos foram vergonhosamente condicionados para isso e que deveriam também ser ajudados a produzir com reconhecimento do justo valor da sua produção, e não a pagar dívidas com mais dívida.
Esquecem, certamente por distração, não por ignorancia simples, que o próprio tratado que regula a sua confederação prevê auxílios comunitários a ilhas (a da Martinica, a da Reunião, por exemplo, colónias francesas em pleno ano 2791...).
No momento em que vos escrevo ninguém sabe qual vai ser o resultado do referendo.
Mecanismo democrático de que os evoluídos decisores têm receio.
Nem eu sei nem devo dizer-vos como será melhor responderem.
Aceitar a submissão temporária e com raiva surda, a pouco e pouco, repor a primazia da declaração universal dos direitos humanos?
Ou não aceitar e assumir já a diferença em relação a esses presumidos decisores, fechando-vos numa economia de moeda paralela ? (a pressa com que o banco central austríaco, há 82 anos, proibiu a moeda de Worgl, com a mesma sanha com que o imperador Teodósio proibiu os jogos olímpicos…) reconstituindo os laços com os sucessores do principado de Vladimir? Retomando a rota da seda e fazendo as pazes com os netos e bisnetos do antigo opressor otomano e do ainda mais antigo inimigo das Termópilas?

Vou esperar aqui em Dilos, no centro da confederação helénica, a vossa decisão.