Tarde de primavera, na estação movimentada do metropolitano de Campo Grande. Desisto de correr para o comboio para Rato que já sinalizou o fecho de portas. Mas reparo que além uma rapariga não desistiu. Bate num passageiro que saído da carruagem egoistamente não quer saber de quem corre para entrar. Lapso de tempo suficiente para as portas cumprirem o seu fim de curso. Com o movimento instintivo de paragem pela rapariga, as bordas do seu casaco tinham-se projetado, ficando entaladas nas borrachas das portas. Penso por impulso que é hoje que vou ser heroi. Atiro-me contra a rapariga arrastada, puxo-a e ficamos lá os dois. Mas não, a rapariga tem uma reação rápida, puxa a borda do casaco e liberta-se das borrachas, que para isso são borrachas.
Imagino ainda que é uma situação de risco, se algum objeto estivesse nos bolsos e a folga das borrachas não fosse suficiente, ou se levasse uma mochila pendurada no peito... Riscos, sempre riscos. Nunca será demais alertar contra os perigos de entalamento de algo que se transporte, à entrada ou à saída. Nunca levar nada pendurado à frente quando se entra, nunca levar nada pendurado atrás quando se sai. Carrinhos de bébés só empurrados se e só se não tiver sido feito o aviso de fecho de portas.
São 16:20 .
O comboio que perdi ia cheio. À volta de 80% de ocupação. 6 carruagens dá mais de 600 pessoas. Estranho mentes brilhantes queixarem-se das limitações dos movimentos pendulares, que só carregam às horas de entrada ou saída dos empregos. Talvez tenha havido um grande intervalo antes deste comboio. Vejamos qual o tempo de espera para o próximo, deve ser da mesma ordem de grandeza, uma vez que não há o antipático anuncio de existencia de perturbações.
Tempo de espera 3 minutos e 40 . Menos mal.
Chega ao cais do outro lado o comboio vindo do Rato. Vem também cheio. Estimo 70% de ocupação, são mais de 450 pessoas.
De repente, o painel de tempo de espera muda para 9 minutos, e depois 4.
O comboio do outro cais esvaziou, vai inverter no término intermédio. Metade dos passageiros ficou no cais, à espera do outro para Odivelas.
Penso que vai ter de inverter, não por falta de procura, mas por falta de material circulante disponível. Algures noutro ponto do metropolitano, os seus delegados sindicais estiveram a elaborar um comunicado. Os comentadores brilhantes da comunicação não vão ligar-lhe, mas ele diz que suspenderam a greve anunciada para daí a uns dias.
Curiosamente, a decisão seguiu-se a uma reunião no ministério do Ambiente (é, investir no metropolitano beneficia o ambiente, embora seja caso para perguntar, então porque não investem?) com os sindicatos e na presença do presidente do metro.
Talvez eu estivesse a falar a sério quando há dias afirmei publicamente que as minhas tendencias neomarxistas pretendiam, não resolver as necessidades de transporte da classe operária (afirmação do senhor presidente da CML em defesa da linha circular) mas as de toda a população e das suas atividades económicas, independentemente da estrutura da propriedade dos meios de produção, de que um deles é o fator transporte).
É bonito ver a negociação a decorrer assim, com a promessa de que dentro de dois meses teremos apenas 16 unidades triplas imobilizadas num universo de 110, quando chegaram a estar paradas 30 por falta de encomenda de peças (será a mesma técnica da Auto Europa, parada 1 semana por deficiente planeamento das encomendas? afinal não são os seus trabalhadores que sabotam a empresa?). Prometida também a concretização daquela parte do plano operacional para 2017, que previa a admissão de 23 técnicos de manutenção.
Isto vou pensando enquanto entro no comboio que parte para o Rato às 16:27. Com 7 minutos de intervalo relativamente ao que eu perdi. É impossível fazer muito melhor com inversões em términos intermédios, em exploração mista.
Estimei a ocupação em 30%, à volta de 200 e pouco pessoas. Mas nada mal, 25% já é bom.
Espreito pela janela o esquema rodoviário que a CML forçou para a zona poente de Campo Grande. contrariando o parecer negativo que ainda no meu tempo no ativo lhe enviei. Lá está a bossa no topo de uma rampa de 10% para passagem sobre o túnel para a Cidade Universitária depois da estrada se enfiar debaixo do viaduto para Telheiras (eis por que o parecer era negativo). Prudentemente a CML mandou pôr uma placa de limitação a 50 km/h.
Junto à segunda circular, a saída desta para a Avenida Padre Cruz, em traçado de gincana ou de motódromo, mantem-se teimosamente deserta. Raro ver um carro passar por lá.
Naquela zona poente ficava bem uma estação de LRT (light rail transit) em interface com a estação de metro, para substituir as carreiras rodoviárias para a zona de Sacavem e para Telheiras Norte, coisa que não seria do agrado das operadoras.
Mas os planeadores da CML, agora a magicar em injetar um LRT ou um BRT (bus rapid transit) na segunda circular, continuando no erro de mexer em zonas já servidas quando há outras por servir, não gostam de ouvir, nem de ver quem deles discorda. Mas falam bem, sabem de marketing, não são como as 3 figurinhas, que não vêem, não ouvem e não falam.
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