sábado, 7 de abril de 2018

A querença do plano de expansão do metro e 4 hipóteses para limitação dos danos




Querença  (dicionário: manifestação de vontade, convicção, ardor)

Já se viu que o XXI governo tem uma querença, uma forte convicção de que o plano de expansão do MOPTC de agosto de 2009 é uma boa opção. E, em colaboração com a câmara municipal de Lisboa (curioso, como em épocas de crise financeira, como no tempo dos Filipes, a câmara de Lisboa tem recursos disponíveis, ou em receitas, ou em financiamento exterior) determinaram ao metropolitano de Lisboa a implementação da 1ª fase do plano: a criação de  uma linha circular e, em 2ª prioridade, os estudos para prolongamento da linha vermelha a Campo de Ourique.

Já na altura da aprovação do plano na assembleia municipal de 2009 (as coisas que se aprovam em período eleitoral...) foi deixado  no metropolitano de Lisboa o parecer técnico, do ponto de vista dos critérios de operação e de manutenção de metropolitanos, que reprovava a maior parte daquele plano. Este foi elaborado, a partir de ideias da própria secretaria de Estado e da administração do metro, sem audição formal das áreas de operação,de manutenção e de desenvolvimento, como institucionalmente previsto.

Para melhor compreensão do que poderá suscitar conflito entre os critérios de projeto geral e as necessidades específicas das especialidades ferroviárias, junto uma ligação para um pequeno estudo realizado no âmbito dos trabalhos em conjunto com as redes homólogas na UITP com o título “Manual do projetista de novas linhas de metropolitano preocupado com a eficiência energética”:

Não é exigível que os técnicos que fazem os projetos gerais dominem as especificidades das disciplinas ferroviárias como a via férrea, a sinalização ferroviária, a energia ou as telecomunicações. Mas  o normal é que oiçam os respetivos ténicos com atenção, como aliás era prática corrente no metropolitano para preparação, realização e acompanhamento dos empreendimentos.

Junto também ligação para o parecer negativo deixado no metropolitano (ver depois da página 18):

Passados 9 anos, depois de quase 1 ano e meio sobre o anúncio pelo XXI governo que se iria fechar o anel da linha verde sobre a linha amarela formando uma linha circular, não tendo sido apresentados publicamente  pelo metro, apesar de pedidos,  os “estudos” de tráfego que, segundo ele, justificam a linha circular, e com a agravante de se saber que esses estudos comparam a geração de tráfego adicional da linha circular com uma alternativa limitada ao prolongamento de S.Sebastião a Campo de Ourique, em vez de Alcântara, como de há muito previa o plano estratégico de expansão do metro anterior mas que não poderá concretizar-se por incompatibilidade com os objetivos da exploração imobiliária para a zona,  concluir-se-á que é demasiado forte a convicção do governo e da CML para desistirem da linha circular, por mais negativo que seja o parecer dos técnicos com experiencia de operação e de manutenção.

Não foi um caso em que tenham sido respeitadas as  condições de uma democracia que submete aos seus cidadãos todos os elementos de uma questão estratégica para um debate aberto e esclarecido. Nem sequer se pode falar de debate se primeiro se decide e depois se comunica a decisão. Mas é a situação real.

E no recente debate na Ordem dos Engenheiros, verifiquei o curioso fenómeno de cidadãos interessados na boa gestão da coisa pública terem feito propostas concretas, não para eliminar completamente a linha circular, mas para reduzir os danos que se antevêem na proposta oficial.Basicamente evitando a danificação do património edificado no Campo Grande constituido pelos viadutos poente,  e a inserção neles de dois  novos viadutos.

Eis as 4 hipóteses que surgiram:






1 – linha Odivelas-Telheiras em loop – manutenção das condições atuais em Campo Grande ; nova ligação de Cais do Sodré a Rato e linha amarela.   A rede ficaria apenas com  3 linhas: azul,  vermelha e verde/amarela (Odivelas-Telheiras). Proposta de Miguel Mateus



2 -  manutenção das condições atuais em Campo Grande ; prolongamento da linha verde de Cais do Sodré a Rato(correspondencia com a linha Amarela)  e Amoreiras (correspondencia com a linha vermelha); prolongamento da linha amarela de Rato a Alcantara; prolongamento da linha vermelha de S.Sebastião a Amoreiras (correspondencia com a linha verde) e Campo de Ourique. Proposta de Pedro Brás, arq Nuno Raimundo e Frederico Leonel



3 - manutenção das condições atuais em Campo Grande e no Cais do Sodré; prolongamento da linha amarela de Rato a Santos; correspondencia através de passadiços cobertos com tapetes rolantes da estação Santos do metro com a estação Santos da linha de Cascais e a estação Cais do Sodré.
  
                        

4 - manutenção das condições atuais em Campo Grande e no Cais do Sodré; transformação da linha de Cascais em linha de metro e sua ligação em viaduto em Alcantara à linha vermelha.

Esta hipótese foi sugerida pela minha neta, que mora perto da Estrela. Depois de ver o video da minha apresentação, perguntou-me: então se o problema é chegar com o metro a Alcantara e ligar a linha de Cascais à zona da avenida da Republica, então porque não põem a linha de Cascais no metro e a ligam à linha vermelha em Alcantara?

E eu pensei, é o ovo de Colombo, é ela a dizer que o rei vai nu, sendo o rei o governo e eu . Dois em um. Não é curioso? Viver na zona de maior PIB per capita do país, sair de casa, apanhar o metro e sair no aeroporto ... (balcões de check in precisam-se, na estação de Cascais). Que dirá o governo, a CML e a administração do metro? são os argumentos deles... (atenção que uma obra destas não é para fazer num ano, é para integrar num plano de duração superior aos ciclos eleitorais, e há fundos comunitários para concorrer). É verdade que obriga a um estudo aturado da reorganização da urbanistica de Alcantara e dos viadutos para a frente de água (doca de Santo Amaro) e para a travessia do vale de Alcantara para ligar à linha vermelha (Alcantara terra, encosta sul dos Prazeres, Campo de Ourique), que colide com os interesses imobiliários e com os pruridos dos impactos visuais. Mas é um estudo interessantissimo.

PS - amável correspondente chamou-me a atenção para a diferença de bitolas, ibérica na linha de Cascais, UIC no metro.  Claro, mas é possível um faseamento durante as obras de substituição da via férrea, com sucessivos troços com travessas bibitola, as quais têm 3 conjuntos de furações para 3 carris, e que  permitem a utilização por comboios de bitolas diferentes (não confundir com as travessas polivalentes de 4 conjuntos de furações e 2 carris de cada vez, as quais precisam de mudança dos carris para utilização pelos comboios da outra bitola). Quanto ao troço Alcantara-Cais do Sodré da linha de Cascais será para continuar, não só para o transbordo de quem vem de Cascais para o Cais do Sodré, como para alimentar a garagem e oficina de pequenas intervenções em Cais do Sodré; a considerar ainda o prolongamento desse troço para ocidente.

http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2018/04/entrevista-de-fernando-medina-no-dn-de.html
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2018/01/ultima-tentativa-ultima-chamada-da.html

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