quarta-feira, 4 de abril de 2018

Debate na Ordem dos Engenheiros em 3 de abril de 2018 sobre o plano de expansão do metro

Resumo da minha intervenção e das questões colocadas pela assitencia:


A intervenção centrou-se na sua experiencia profissional no metropolitano de Lisboa ao longo de 36 anos nas áreas de operação  e de manutenção e na integração das disciplinas ferroviárias nos novos empreendimentos, incluindo a preparação dos processos de homologação para colocação em serviço dos novos troços. Teve por isso, por mais de uma vez, e tal como no caso presente, oportunidade de defender junto dos colegas de projeto e construção da FERCONSULT os interesses específicos das disciplinas ferroviárias, em oposição aos pontos de vista desses colegas, sem experiência em operação e manutenção de metropolitanos.
 Criticou o plano de expansão de 2009 com base no plano de 1974 da Siemens-Deconsult, que já previa o interface em Alcântara para correspondência com a linha de Cascais e o alívio do interface do Cais do Sodré. Pediu mais uma vez o fornecimento dos estudos de tráfego que estão na base da proposta da linha circular, como é normal nos procedimentos de referendo científicos, considerando não ser curial tirar conclusões de um estudo em que a alternativa perdedora é o prolongamento apenas até Campo de Ourique e não Alcântara. Pediu também a consulta ao Imperial College, com o qual o metro tem um convénio, sobre a necessidade da linha circular, numa altura em que em Londres a circle line foi quebrada entre outras razões por dificuldades de operação.
Evocou o métido TOD (distancia máxima até uma estação de metro) como fator do planeamento de redes, e sugeriu a garantia anual de 0,5% do PIB para investimento em infraestruturas ferroviárias .
Concluiu, mostrando com exemplos, que no contexto atual, a linha circular proposta está sujeita a uma taxa de avarias superior à do conjunto das duas linhas autónomas equivalentes, tem dificuldades acrescidas de regulação em caso de afluência excessiva ou resolução de perturbações, não preenche os critérios de economia de energia e de manutenção que evitam curvas e pendentes,  não serve a zona ocidental da cidade e constitui uma agressão ao património edificado sob a forma de alteração dos viadutos poente do Campo Grande.
Respostas a questões postas pela assistência:
Questão 1 – O interface de Alcântara exige a construção do metro em viaduto, deverá permitir a correspondência com a estação da REFER do Alvito e eventualmente com barcos da Transtejo.
Resposta – de acordo, mas deve assinalar-se que o plano de urbanização de Alcântara prevê uma exploração imobiliária que inteerfere com a construção de viadutos e que privilegia a ligação enterrada da linha de Cascais à linha da cintura e remotamente estações enterradas do metro
Questão 2 – Quem teve experiência profissional afim deve ser ouvido. A linha circular tem menor fluidez nas entradas e saídas de comboios, maior dificuldade de regulação por ausencia de almofada temporal nos términos e ausencia de vistoria pelo maquinista na mudança de cabina
Resposta – de acordo
Questão 3 – Nenhum dos oradores debateu um plano estratégico
Resposta – numa apresentação de 20 minutos não é possível varrer todos os aspetos. No entanto, encontram-se ligações na apresentação que remetem para questões do planeamento estratégico
Questão  4 - Se o governo e o metro estivessem seguros da sua opção divulgariam o estudo e o plano deveria ter sido submetido a discussão pública
Resposta – de acordo
Questão 5 – Deveria privilegiar-se o modo LRT
Resposta – de acordo, uma das críticas ao plano é a existência de bifurcações. Não deveria haver bifurcações que geram maus índices de fiabilidade, devendo um dos ramais ser em LRT
Questão 6 – Não são conhecidos estudos sobre a previsão dos índices de fiabilidade da linha circular
Resposta – Estranha-se que os estudos referidos como sustentando a linha circular não apresentem um comparativo com as alternativas da fiabilidade. Técnicas de análise de riscos (norma EN 50126) permitem estimar a probabilidade de ocorrência de avarias com base no histórico de avarias e de comboios-km. Obtido o número de combois-km por avaria e introduzindo o número previsto de comboios diário  obtem-se o intervalo entre avarias. Como a linha circular tem o dobro do comprimento de cada uma das duas linhas normais equivalentes e a probabilidade de ocorrência de avarias simultâneas nestas é um produto, a comparação não resulta favorável para a linha circular.

Questão  7 - Sendo a linha circular composta por 2 aneis (vias) uma avaria num deles permite a continuação da exploração na outra via.
Resposta  - Uma análise de riscos elementar interdita formalmente esta hipótese enquanto nao se domina a situação. Um dos maiores acidentes na história dos metropolitanos ocorreu quando não foi interrompida a circulação numa via, quando na outra se tinha declarado um incendio numa composição (https://en.wikipedia.org/wiki/Daegu_subway_fire ). Notar que avaria no material circulante ou infraestrutura com paralisação da linha é diferente de perturbação, por exemplo, por excesso de afluência, com eventual paralisação e subsequente recuperação.
Questão 8 – A apresentação violou os deveres da deontologia profissional ao desmerecer nos colegas que elaboraram e os que suportam o plano de expansão de 2009
Resposta – Julgo ter sido claro na apresentação ao definir os trabalhos nos viadutos de Campo Grande como de elevada complexidade, mas que os colegas eram competentes para resolver as questões construtivas. Mas também fui claro que, do ponto de vista de planeamento de redes, no contexto existente, mexer nos viadutos e projetar linhas com as curvas e pendentes de Rato-Cais do Sodré são erros. Lamento ter ferido suscetibilidades e peço desculpa se ofendi alguém, mas lamento informar que sempre fui inflexível na minha vida profissional, e tenciono continuar a sê-lo, na defesa do predomínio dos critérios da operação, primeiro , e segundo, da manutenção,  quando em confronto com os critérios do planeamento de redes e da construção.


Powerpoint da minha apresentação:
https://1drv.ms/p/s!Al9_rthOlbweih5IWO3ANff3kMxA

Reportagem da Transportes em Revista:
http://www.transportesemrevista.com/Default.aspx?tabid=210&language=pt-PT&id=57950

Parecer da Transportes em Revista:
https://www.youtube.com/watch?v=KgO9SFZfFms&feature=youtu.be

2 comentários:

  1. Obrigado pela partilha da experiência e da informação durante a tarde de ontem. Penso que seria util, e como passo seguinte a especialidade analisar a apresentação efetuada pelo ML e rebater que esta solução não é a prioridade necessária para a cidade, os utentes e contribuintes. A vivacidade do debate demonstra que não podem continuar a basear decisões de mobilidade como ate aqui e claramente o estudo tem de ser partilhado com a comunidade para uma analise. Fica sempre a questão.. quem breve a demanda de passageiros é penalizado caso a mesma não se verifique?

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  2. Obrigado. Penso que a contestação ao estudo é suficientemente fundamentada quando o estudo compara a extensão Rato-Cais do Sodré com o prolongamento S.Sebastião-Campo de Ourique, e não S.Sebastião-Alcântara e por conseguinte compara uma ligação da linha de Cascais à Av.Republica (apresentada como o objetivo a servir)com uma ligação estranha à linha de Cascais. Ns páginas 74 a 79 de
    https://1drv.ms/b/s!Al9_rthOlbwehWMdmBJ_Q06Wk7XH
    https://1drv.ms/b/s!Al9_rthOlbwehWLrDGVqX3nv1sIY
    tenho cálculos expeditos que não valorizam tanto a linha circular. Cumprimentos

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