terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Carta para o diretor do Publico, a propósito duma entrevista

https://www.publico.pt/2018/11/21/economia/entrevista/metro-lisboa-passo-chegar-amoreiras-campo-ourique-1851583


Para: cartasdirector@publico.pt

Assunto: Linha circular do metro
 
Exmo Senhor Diretor

 A propósito da entrevista do sr presidente do metro publicada na vossa edição de 21 de novembro,  julgo importantes os seguintes pontos, pedindo antecipadamente desculpa pela extensão, que contudo será proporcional à gravidade dos factos:
1 - estranha-se a ausência de referência, para além das estações Areeiro e Colégio Militar, ao atraso das obras de Arroios, ao que se suspeita (dada a ausência de informação consistente) por dificuldades financeiras e técnicas do empreiteiro. Recordo que a estação foi encerrada em julho de 2017 para que as obras pudessem decorrer mais rapidamente, e que afinal elas estão paradas há mais de 6 meses. Em abono do senhor presidente, diga-se que os próximos concursos serão precedidos de pré-qualificação para avaliação da capacidade técnica e financeira dos concorrentes.
2 - apesar da contestação pública à linha circular e ao EIA estar fundada em argumentos técnicos na ótica da operação e da manutenção de redes de metro, e económicos e financeiros (o custo de construção por km e o custo financeiro por passageiro-km são superiores à média), o senhor Secretário de Estado do Ambiente aprovou recentemente o EIA. Esperava-se, pela maior proximidade à questão técnica, que o EIA fosse avaliado pelo senhor Secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade.
3 - O EIA que foi sujeito a consulta pública continha várias inconformidades, suficientes para justificar a sua reprovação:
3.1 - contrariando o afirmado no EIA para justificar a linha circular, atualmente basta um, por Alameda, e não dois transbordos, para ir de Cais do Sodré para a Av.República
3.2 - não é verdade que uma linha circular permita maiores frequências de comboios; linhas normais com términos de inversão alternada permitem intervalos de 2 a 2,5 minutos (o mesmo se aplica à possibilidade de velocidade máxima de 60 km/h; o que tem limitado a 45 km/h foi a avaria do dispositivo de travagem autolátca por ultrapassagem de sinais proibitivos).
3.3 - numa linha circular é maior a dificuldade de regulação em caso de perturbações da circulação e é menor a taxa de fiabilidade relativamente às duas linhas independentes equivalentes. Reconhece-se no entanto que estes inconvenientes são parcialmente compensados pela vantagem da linha circular de, no limite, para atingir a mesma capacidade horária, necessitar de menos dois comboios
3.4 - são absolutamente contraindicados os valores reduzidos dos raios das curvas e os valores elevados das pendentes entre Rato e Cais do Sodré, por induzirem custos adicionais de manutenção devidos ao desgaste e ao maior consumo de energia.
4 - Não pode invocar-se a legitimidade do projeto da linha circular por fazer parte de um mapa de expansão aprovado pelo governo em 2009, não só porque não foi sujeito a EIA e a consulta pública, mas também porque o traçado não é o mesmo; nomeadamente o mapa previa uma estação na linha circular em S.Bento e previa a estação da Estrela no prolongamento da linha vermelha, a poente da basílica. Acresce que a opção pela linha circular resulta de um estudo comparativo com uma alternativa incompleta: S.Sebastião-Campo de Ourique, em vez de S.Sebastião-Campo de Ourique-Alcântara Mar em viaduto.
5 - Estranha-se a referência a um estudo comparativo entre a linha circular e uma alternativa linha em laço ou loop (a exemplo do que se fez no metro de Londres no mesmo ano de 2009), o qual não foi sujeito a consulta pública. Duvida-se que os prejuizos em termos de valor das horas perdidas dos 16 milhões de passageiros que passam na estação Cais do Sodré sejam maiores do que os prejuízos dos 18 milhões de passageiros nas estações de Odivelas a Campo Grande (mesmo considerando apenas a percentagem de destinos diretos para a zona da Av.República), incluindo os prejuízos de incomodidade pelo ruído e impacto visual dos moradores junto do grande viaduto a construir.
6 - Por tudo isto, apela-se aos senhores deputados e deputadas da Assembleia da República que promovam a discussão das petições já entregues contrárias à linha circular para eventual recomendação de submissão ao Conselho Superior das Obras Públicas e inclusão de todo o novo plano plurianual de expansão do metropolitano em processo de discussão pública participativa para o PNI 2030.


Com os melhores cumprimentos

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