terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Contribuição para um plano estratégico de transportes

Um plano estratégico de transportes, numa situação como a atual, caraterizada pelo predomínio do transporte rodoviário de mercadorias e pelo transporte individual, pela acentuada degradação das infraestruturas ferroviárias e do seu material circulante, pela insuficência das redes metropolitanas, pela limitada execução dos planos existentes de reabilitação parcial da rede ferroviária, e pela ausência de uma política de desenvolvimento das linhas interoperáveis com a rede europeia  (rede transeuropeia TEN-T), só poderá realizar-se com a colaboração do maior número possível de técnicos e de instituições afins e com debate público aberto.
Junto uma pequena contribuição destacando a  definição do plano para a rede básica TEN-T com o corredor atlântico norte e sul e a ligação Sines-Leixões segundo todos os critérios de interoperabilidade e elaboração dos estudos prévios necessários à obtenção dos necessários fundos comunitários.
É importante insistir com o governo para alterar a situação reportada pelo coordenador do corredor Atlantico Carlo Secchi no seu relatório de abril de 2018 sw ausencia de troços de bitola UIC em Portugal até 2030, para considera a necessidade de novo troço Sines-Grandola Norte (evitando rampas de Sines-Ermidas) e de novo traçado Aveiro-Mangualde-Almeida (evitando Pampilhosa)r


Esboço de algumas propostas imediatas para um plano de infraestruturas de transportes

O contexto atual do setor dos transportes em Portugal poderá caraterizar-se por uma grave carência de planeamento estratégico e de visão integrada e transversal das infraestruturas de transporte nas várias regiões e modos de transporte.
O  plano 2020, baseado no anterior PETI3+ elaborado com a participação de especialistas de todos os modos, consiste principalmente em ações de beneficiação ou modernização de infraestruturas existentes, não se contestando, obviamente, a necessidade, muitas vezes urgente, da sua concretização.
É importante ter a noção que os ativos existentes de infraestruturas requerem sistematicamente a previsão orçamental de verbas para manutenção. Tanto para as infraestruturas existente como para novos investimentos, convirá contar com cerca de 1 a 5% de gastos de manutenção relativamente ao valor do investimento.
Verifica-se em Portugal o predomínio do transporte rodoviário. No caso do transporte de mercadorias, uma grande desproporção relativamente ao transporte ferroviário. No caso do transporte de passageiros, igualmente se verifica o predomínio do transporte individual e, no caso do transporte coletivo, a quota do transporte ferroviário é insuficiente.
Isto é, investiram-se grandes somas na importação de veículos, em auto-estradas, em infraestruturas de transporte rodoviário, nomeadamente  na logística dos combustíveis e da manutenção dos veículos.
O resumo da situação é um constante desperdício de energia sob a forma de combustíveis fósseis importados porque o consumo específico de energia (de tração, de transporte do combustível do poço à roda, da manutenção e operação das empresas de transporte) por tonelada-km no caso das mercadorias e por passageiro-km no caso do transporte de passageiros, é maior nos veículos rodoviários do que nos ferroviários.
Este é um fenómeno físico desprezado pela maioria, mas que assenta no maior atrito do pneu com o asfalto e maior deformação quando comparados com o atrito e a deformação da roda de aço com o carril. Apesar da evolução tecnológica, muitas vezes amplificada pela comunicação social sob a forma de ilusões para o futuro, este fenómeno físico não perde a atualidade. Por exemplo, os camiões elétricos continuam a ter um consumo específico de energia superior aos comboios. Além de que também no setor ferroviário se verificam progressos tecnológicos, desde rolamentos de eixos de menor atrito, controle eletrónico de tração mais eficiente, utilização de ligas mais leves, controle computorizado de velocidade segura (Automatic Train Protection – ATP), controle de marcha automática sem condutor (Unattended Train Protection – UTO). Exemplo desta evolução é a existência já em exploração comercial de comboios movidos por células de combustível e hidrogénio.  ( Regista-se também o entusiasmo mediático com o transporte maglev ou levitação magnética, e o transporte hiperloop, ambos com consumo específico por passageiro-km e por tonelada-km maiores do que com o contacto roda-carril).
Relativamente ao anunciado plano para 2030 subsistem igualmente dúvidas sobre os seus componentes e sobre a eficácia do debate e participação públicos na elaboração desse plano.
Anota-se que, apesar da grandeza dos investimentos necessários e do tempo necessário para o seu estudo, projeto e execução, é um objetivo razoável prever um orçamento público anual da ordem de 1 a 2% do PIB para novas infraestruturas de transporte, suscetível de reforço por cofinanciamento comunitário e por investimento privado.
Nestas circunstancias, impõe-se uma alteração sistemática da visão sobre e da estrutura dos modos de transporte em Portugal, em sintonia aliás com os critérios da União Europeia que desde há muito estabeleceu os objetivos de redução das emissões de gases poluentes e com efeito de estufa, nomeadamente a transferência progressiva do tráfego principal de mercadorias (mais de 300km) para o modo ferroviário, do transporte individual para o coletivo e da tração por combustíveis fósseis para a tração elétrica (por baterias e por células de combustível/hidrogénio).
Para essa alteração considera-se indispensável não só a operacionalização do Conselho consultivo de obras públicas, mas também a adoção de procedimentos de debate e análise pública de propostas e planos de novos traçados, em claro contraste com os procedimentos atuais restritivos, secretistas e do tipo de facto consumado.
 Neste esboço apenas se trata, e parcialmente, do modo ferroviário. No entanto, as redes marítimo-portuárias e aero-portuárias, até pela sua relação com a rede ferroviária, manifestam igualmente graves carências, nomeadamente a necessidade de construção de novos terminais de contentores de águas profundas, ampliação ou beneficiação de existentes, construção de um novo aeroporto hub internacional e, obviamente, integração de todos os terminais existentes e a construir  na rede ferroviária com ligação à Europa segundo todos os critérios de interoperabilidade.


1 – Área metropolitana de Lisboa
Considerando a situação atual (dezembro de 2018):
·        aprovação pelo governo da criação de uma linha circular no metropolitano de Lisboa e da ligação Casa da Música-S.Bento e Santo Ovídio-Vila de Este no metropolitano do Porto, tendo sido apresentada como justificação, no caso de Lisboa:
o   a aprovação do plano de expansão do metro de Lisboa que incluía a linha circular pelo governo em funções em 2009, sem que essa aprovação tivesse sido sujeita a estudo de impacto ambiental e debate público,
o   a comparação, em termos de tráfego gerado e contribuição para a redução da quota de transporte individual na área metropolitana, com alternativas que são à partida não comparáveis por não alcançarem o eixo de ligação à periferia Lisboa-Cascais (o que invalida a afirmação no EIA de que a linha circular está integrada nas orientações do plano da área metropolitana de transportes)
·        ausência continuada de um plano estratégico para toda a área metropolitana que privilegie o transporte ferroviário por ser energeticamente mais eficiente e menos poluidor, que considere a distribuição populacional e as possibilidades de transferência do transporte individual para o transporte coletivo, enquanto se assiste ao anúncio pelo ministério do ambiente e pela CML de planos de aquisição massiva de autocarros e da ameaça de disseminação na área metropolitana de linhas de BRT (Bus Rapid Transit, solução adequada em países não importadores de combustíveis fósseis; note-se que mesmo com tração elétrica, os autocarros apresentam maior consumo específico pelas razões já apontadas de maior atrito do pneu com o asfalto; notar igualmente que uma linha de BRT só é eficiente e só se dispuser de uma infraestrutura em termos de estações e equipamentos de controle de acesso e de garantia de disponibilidade das vias de circulação, isto é, a necessidade de construção de sítio próprio, incluindo viadutos, é idêntica à dos sistemas LRT ou metro de superfície (Light Rail Transit)
·        dispersão por vários operadores da área metropolitana com as inerentes dificuldades de planeamento integrado,

propõe-se:
1.1 - a fusão num operador público interno das empresas públicas de transportes sem prejuízo das diretivas europeias de abertura da exploração de linhas a operadores privados e cumprindo a obrigatoriedade da contratualização do serviço público. Operadores abrangidos pela fusão: Metropolitano de Lisboa, Carris, Transtejo, Soflusa (existem vantagens em integrar a linha de Cascais, no contexto da sua renovação integral, na esfera deste operador interno, no pressuposto de que o serviço suburbano atualmente assegurado pela CP e pela Fertagus, juntamente com o tráfego interurbano e regional e de mercadorias, e as necessidades de manutenção noturna contraindicam a ligação da linha de Cascais à linha da cintura). A extensão das linhas deste operador único deverá atingir os limites da área metropolitana. O financiamento deverá ser, como anunciado, pelo fundo ambiental (a reforçar com indexação do IMI e de imposto tipo “versement transport” pelas empresas à valorização do imobiliário e ao crescimento do volume de negócios das empresas) e pelos fundos comunitários associados à descarbonização (notar que, apesar da contribuição do turismo aéreo para o PIB, não é sustentável a manutenção da quase isenção de taxas de carbono pelos operadores aéreos; notar também que a utilização dos fundos comunitários requer a elaboração atempada, segundo um rigoroso planeamento, dos respetivos estudos prévios)
1.2 – relativamente ao plano de expansão de 2009, a sua revisão em ambiente de debate público e participativo, incluindo não só o Conselho consultivo de obras públicas como universidades, associações profissionais, especialistas de transportes e de urbanismo e organização do território, imprensa especializada, associações de cidadãos, comissões partidárias. É urgente o desenvolvimento de um novo plano que permita a candidatura a fundos comunitários do período 2021-2027. Considera-se prioritário o prolongamento para Alcântara da linha vermelha ou amarela com recurso a viadutos na zona de Alcântara para poupança de energia devido aos desníveis e evitando a construção em subterrâneo em terrenos difíceis. As prioridades seguintes deverão ser definidas de molde a integrarem um plano plurianual para cofinanciamento comunitário:
- renovação integral da linha de Cascais , eventual integração na rede de metro e criação de um novo nó de Alcântara com cruzamento desnivelado duma linha de mercadorias para o terminal de contentores
- linha circular exterior de metro de superfície (LRT) Algés-Loures-Sacavém-Gare do Oriente
- prolongamento a Pontinha pela nova feira popular da linha verde a partir de  Telheiras ou da linha vermelha a partir de Aeroporto
- prolongamento a Algés da linha amarela ou vermelha pelo vale de Alcântara em viaduto
- estudo comparativo da terceira travessia do Tejo em ponte ou túnel (Alverca, Beato-Montijo ou Barreiro, Trafaria) para serviço suburbano e ligação ao novo aeroporto
- aplicação de modos complementares para ligação das estações de metro ou suburbanas a núcleos populacionais adjacentes às principais linhas (LRT, PRT (personal rapid transit), minibus elétricos, frotas de automóveis e bicicletas partilhados, autónomos ou não, redes de cabinas autónomas “on demand” (a pedido) de guiamento por GNSS (global navigation satellite system) ou por carris
Ver:     Manual condensado de transportes metropolitanos (págs 86 a 98 e 169 a 177)



2 – Ligação ferroviária à Europa de portos e cidades nacionais
Considerando também a situação atual (dezembro de 2018) de ausência de planeamento para a rede ferroviária de ligação à Europa segundo todos os critérios de interoperabilidade (redes transeuropeia de transportes, TEN-T; critérios: comprimento dos comboios de mercadorias, alimentação 25kV, controle de movimento ERTMS, bitola UIC) é urgente o estabelecimento de um programa de construção progressiva da rede nacional integrada no plano europeu do corredor Atlântico constante da rede principal 2030 (que precede a rede complementar de 2050).
A situação atual parece resultar de uma delegação de competências pelo governo na IP. Esta participa no agrupamento europeu de interesse económico alta velocidade Espanha-Portugal (AEIA-AVEP) e no grupo Rail freight corridor 4 (RFC4)  correspondente ao transporte de mercadorias no corredor Atlântico. Participam em ambos estes grupos, para além da IP, a AIDF, a SNCF e a DB. No entanto, a parte portuguesa tem insistido em adiar qualquer resolução para construção de linha nova de acordo com os critérios de interoperabilidade (exceto pontuais adaptações de linhas existentes para cruzamento de comboios de mercadorias com 750m). Esta posição contraria frontalmente o White Paper de 2010 para transferência de 30% de mercadorias para mais de 300km do modo rodoviário para o ferroviário, as constantes chamadas de atenção do Tribunal de Contas Europeu (European Court of Auditors – ECA) e o mapa das redes TEN-T. A parte nacional desse mapa consiste na ligação Sines/Lisboa-Caia-Madrid, Aveiro-Mangualde-Almeida-Salamanca e Lisboa-Porto-Leixões. Isto é, a ligação dos principais portos e das principais cidades à rede europeia.
Porém, a posição do governo português tem apoiado a IP e os principais operadores de mercadorias, a Medway e a Takargo, defendendo a exclusividade da rede existente em Portugal de bitola ibérica. Isto constitui uma dificuldade para o acesso de operadores europeus e um fator de encarecimento do transporte de mercadorias devido aos custos adicionais de transbordo ou de utilização de vagões de eixos variáveis. Em consequência,  as exportações portuguesas estarão limitadas ao serviço, principalmente rodoviário, para as plataformas logísticas de Vigo, Salamanca, Badajoz, Huelva e Vitoria (País Basco – disponível em bitola UIC a partir de 2023, mas mantendo uma ligação em bitola ibérica a Salamanca).  Compreendem-se os receios das empresas e até das associações sindicais que a introdução de linhas de bitola UIC promova o acesso de mais operadores estrangeiros (recorda-se que os acionistas principais da Medway e da Takargo são estrangeiros) aos portos nacionais, o crescimento de importações, a eventual diluição da CP/passageiros e da EMEF na RENFE e na ADIF. No entanto, qualquer economia nos tempos corrente tem de sobreviver em regime de mercado aberto, pelo que não é aceitável evitar a rede UIC em Portugal, para mais existindo a possibilidade de recurso aos fundos comunitários. Tampouco é aceitável a transmissão ao coordenador europeu do corredor atlântico, provavelmente pela IP e AEIE-AVEP, da falta de interesse na rede UIC, o que o tem levado a afirmar nos seus relatórios que em Portugal em 2030, ano da rede principal transeuropeia, não existirá nenhum troço em bitola UIC, contrariando assim os compromissos anteriores.
Igualmente é altamente criticável a sistemática alegação pelo governo e pela IP que a Espanha não está a desenvolver a rede UIC ! É verdade que o ritmo de construção da ligação Madrid-Badajoz é lento, mas isso é consequência da decisão de 2012 de anular o contrato para a construção do troço Poceirão-Caia e prejudica os interesses da Extremadura espanhola. Na realidade, continua o programa espanhol de construção de linhas de alta velocidade partilhadas com o transporte de mercadorias. Por exemplo, foi pedida por Espanha à Comissão Europeia a inclusão duma derivação do corredor Atlântico para mercadorias com ligação à Galiza, o que poderá comprometer os fundos comunitários para a ligação Aveiro-Almeida-Salamanca. Também os resultados de exploração da rede de alta velocidade em Espanha têm sido suficientes para cobrir os custos de operação e de manutenção das infraestruturas, o que contraria outro tipo de alegações negativas.

Nestas circunstâncias, conforme já referido, impõe-se uma alteração da posição oficial portuguesa e uma rápida operacionalização de procedimentos para o estabelecimento de um plano de construção faseada (estimada em 12 anos) da parte nacional da rede principal da TEN-T/corredor Atlântico.


Propõe-se:
2.1 - o seguinte plano:

fonte: Documento técnico para apoio ao debate sobre a bitola UIC, Luis Cabral da Siva  e Mário Ribeiro, ver:

2.2 – a comparação deste plano com outros desenvolvidos em amplo debate público e participativo, não só com o Conselho consultivo de obras públicas como com universidades, associações profissionais, especialistas de transportes e organização do território, imprensa especializada, associações regionais e de cidadãos, comissões partidárias. É urgente a aprovação de um plano resultante desse debate que permita a candidatura a fundos comunitários do período 2021-2027

3 – Notas sobre a expansão do metropolitano do Porto e do Metro Mondego, sobre o NAL e sobre o terminal do Barreiro
Os comentários seguintes sobre as expansões dos metros do Porto e do Mondego são apenas elementos que se desejaria serem confrontados com as soluções oficiais previstas porque não realizei análises extensivas nos dois casos. Sem pretender propor outras soluções, sou levado a, partindo de alguns pressupostos, emitir parecer com reservas sobre as soluções oficiais.
3.1 – metro do Porto
Relativamente à ligação Casa da Musica-S.Bento, é inegável que vem reforçar a operacionalidade e disponibilidade da rede melhorando os equipamentos sociais da cidade. No entanto,  considerando que ambas as estações já estão servidas pela rede, que os custos de construção em túnel são elevados, que algumas zonas centrais da cidade ficarão com habitações e pontos de emprego a menos de 300 metros de uma estação de metro, quando é aceitável um valor duplo, que objetivo da descarbonização privilegia a transferência do transporte individual das periferias para o transporte coletivo, provavelmente teria sido melhor atribuir a prioridade a traçados de ligação a periferias, do tipo da que efetivamente está prevista, de Santo Ovídio a Vila de Este e desenvolver um estudo integrado de toda a área metropolitana, incluindo por exemplo o estudo para o Vale do Sousa e Tâmega.
3.2 – metro do Mondego
Depois de elevados investimentos na infraestrutura do traçado Coimbra-Serpins foi decidido instalar um BRT. Embora a dimensão e a dispersão da população não justifiquem um transporte de grande capacidade, razões históricas só por si justificariam a manutenção de um sistema ferroviário, de que existem exemplos em países como a Suiça, a França e a Inglaterra. Considerando que o consumo específico de energia por passageiro-km no BRT é superior ao do LRT, mesmo com tração elétrica por baterias, que o traçado é sinuoso e portanto pouco vocacionado para transporte rodoviário por razões de conforto (maior sujeição às acelerações e jerks laterais), que o sistema de guiamento deve ser insensível às condições climatéricas e deverá ser redundante em termos de segurança de movimento, que os viadutos existentes deverão ser adaptados à circulação rodoviária, que não é vulgar a utilização de via única em modo rodoviário exigindo o recurso a sistemas de controle de  segurança do tipo ferroviário, que já existem em exploração comercial veículos ferroviários sem catenária e com tração por baterias ou por hidrogénio/células de combustível, é provável que a economia resultante da adoção do BRT comparativamente com a solução  LRT seja residual, não compensando a perda das vantagens desta.
Anota-se também as elevadas vantagens para o ambiente que resultariam da construção em túnel na praça da Portagem e nas ligações à zona da Loja do Cidadão. Por razões de frequência, justificar-se-ia uma ligação independente entre a estação de Coimbra B e a estação central de Coimbra A em vez de a integrar na linha da Lousã.
Pelo exposto, embora reiterando não se tratar de uma reprovação, o parecer sobre a solução oficial é com reservas que se desejaria ver resolvidas mediante demonstração técnica pública.
3.3 – NAL (novo aeroporto de Lisboa)
Também sem pretender opor-me à adoção da solução Montijo, uma vez que em princípio ela será paga pelo concessionário, anoto que ela não cumpre exatamente os termos do contrato de concessão de 2012 quando especificava uma solução mais eficiente do que 90 movimentos por hora (a solução Portela+Montijo, após implementação de novo sistema de regulação aérea será 48+24=72 movimentos por hora), embora o próprio contrato contemple a hipótese de aprovação de uma qualquer outra solução. No entanto, a solução Montijo, para além das suas limitações, e a indefinição quanto à localização do NAL, constituem obstáculos à definição consensual do traçado da linha de alta velocidade para passageiros Lisboa-Madrid.
3.4 – Terminal do Barreiro
Igualmente este terminal, de vocação essencialmente fluvial ou para os serviços que atualmente exerce (terminal de líquidos e terminal de sólidos), constitui uma solução limitada do ponto de vista de tráfego internacional de contentores. Do ponto de vista de águas profundas, exige dragagens contínuas cuja dimensão não foi até agora indiscutivelmente e experimentalmente determinada (>2 milhões de m3/ano?) e cujos custos serão a cargo do operador (>10M€/ano?). Do ponto de vista da prioridade, ela deveria ser dada à expansão do porto de Setúbal e do terminal de Santa Apolónia (neste caso por o destino das mercadorias ser maioritariamente a margem norte do Tejo). Como 2ª prioridade e quando futuramente o tráfego o justificar, a localização mais indicada para um novo porto de águas profundas em Lisboa, para eventual desativação do terminal de Alcântara, será entre a Cova do Vapor e o Bugio (fecho da Golada). Sobre o fecho da Golada deverá dizer-se que o seu adiamento configura uma situação ambientalmente gravíssima, uma vez que as areias que se depositam na Costa da Caparica são sistematicamente arrastadas pelo sudoeste para a foz do Tejo e, em conjunção com as correntes no rio vão assoreando a barra, comprometendo a navegação e exigindo dragagens contínuas. Independentemente da construção desse novo porto, o fecho da Golada deverá fazer-se o mais depressa possível.

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