sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Problema: recuperar ou fazer de novo?




É um problema técnico interessante, qualquer que seja a especialidade. Recuperar uma estrada, um edifício, uma linha de caminho de ferro, uma ponte, ou construir de raiz, uma infraestrutura completamente nova?
Para o consumidor direto é fácil, até porque vive submetido ao bombardeamento de propostas de atualização como mudar de carro quando ele ainda viveria uns milhares de quilómetros.
No caso de edifícios também não é difícil resolver, porque são muito poucas as empresas habilitadas a fazer uma reabilitação tecnicamente correta. Logo, é mais barato destruir o existente e construir de novo.
Mas no caso de linhas de caminho de ferro os dados da questão são outros. O traçado de uma linha antiga era compatível com as caraterísticas do material circulante e dos comboios de mercadorias contemporâneos. Atualmente, os níveis de velocidade (máxima de 250 ou 350 km/h consoante a dificuldade de construção da linha nova) , raios de curvatura e gradiantes desejados são incompatíveis com os traçados de linhas concebidas para velocidades inferiores a 100 km/h.
Logo, em princípio, dificilmente se poderá justificar a reabilitação de uma linha em vez da construção de uma nova, independentemente de se manter a linha antiga para complemento de um serviço de alta velocidade, nomeadamente para mercadorias e tráfego suburbano.
No caso da inclusão pelo XXI governo no PNI 2030 da construção de 164 km de by-passes na linha do norte sem a adaptar aos critérios de interoperabilidade dos acordos com a EU e as suas redes transeuropeias TEN-T em vez da construção de uma linha nova, parece aplicar-se o referido anteriormente.
Os 4 by-passes irão melhorar o serviço, mas tornarão mais distante o objetivo de uma linha de alta velocidade eficiente entre Lisboa e Porto.
Análogo problema se colocou aos decisores alemães para a ligação Bielefeld-Hannover, num troço de cerca de 200 km destinado a encurtar a viagem Koln-Berlim para menos de 4 horas. Pensaram primeiro recuperar a linha existente mas depois decidiram fazer uma nova. Provavelmente escaldados com o exemplo do aproveitamento do aeroporto de Schonefeld que ainda não conseguiram inaugurar (estranho em Portugal não se usar este argumento para refrear o entusiasmo pelo aeroporto aproveitado do Montijo – não é que soluções de aproveitamento não funcionem, só que tecnicamente são pouco eficientes).
Assunto a seguir, na esperança cada vez mais remota de que seja ainda possível incluir no PNI 2030 linhas férreas de carateristicas europeias.

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